Com o recuo de Luís Montenegro e Paulo Rangel como possíveis candidatos à liderança do PSD, ganha força a possibilidade de Pedro Santana Lopes protagonizar mais uma candidatura à chefia do partido. O Observador sabe que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa está a fazer o mesmo tipo de avaliação que os outros possíveis candidatos fizeram e cuja conclusão não passará do fim-de-semana. Até domingo, saber-se-á se o ex-primeiro-ministro vai somar-se ao rol de não-candidatos ou se reedita a sua quarta candidatura efetiva ao partido (contando com a fase em que foi líder).

Durante a tarde de sexta-feira, foi-se tornando cada vez mais provável a entrada na corrida de Miguel Pinto Luz, vice-presidente da câmara de Cascais e ex-líder da distrital de Lisboa. O nome foi lançado por Miguel Relvas numa entrevista ao Expresso, mas este estará a aproximar-se agora da solução Santana Lopes. Segundo uma fonte próxima de Pinto Luz, esta seria uma forma de surgir outra geração na contenda, por entender que, em 2017, o PSD não se pode reduzir a Rui Rio e Pedro Santana Lopes.

Pedro Santana Lopes está a fazer uma avaliação pessoal sobre as condições para se apresentar aos militantes nas diretas que terão lugar em dezembro. Para isso está a fazer contactos com o aparelho — sobretudo com autarcas — e a desenvolver a tradicional ronda pelas distritais e pelas maiores concelhias. O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa já tem presidentes de distritais que consideram a possibilidade de o apoiar, como Faro ou Castelo Branco, Pedro Pinto, em Lisboa (embora se Pinto Luz entrar a opção possa ser outra), de presidentes de câmara como Ourém, Santarém ou Mafra. “Se Pedro Santana Lopes avançar terá o meu apoio”, disse ao Observador Ricardo Gonçalves, presidente da câmara de Santarém.

O ex-primeiro-ministro deu ainda mais força a esta possibilidade ao ter publicado na sua coluna do Correio da Manhã que estava também a tratar do conteúdo programático de uma eventual candidatura. “Nesta fase, os programas são muito importantes, por mim, é disso que estou a cuidar estes dias“, escreveu Santana naquele diário esta sexta-feira. “Sou mais de ação, sou mais de agir e, desculpem a presunção, mas nas três casas que dirigi com algum tempo até hoje, têm querido que eu regresse ou que eu continue: falo da Figueira, de Lisboa e da Santa Casa”. Mas ainda nada é certo. Santana estará à procura de uma equipa que o ajude a dar corpo às suas ideias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Até agora, apesar de o partido andar em polvorosa desde o domingo das autárquicas com todas as reflexões e inflexões dos principais atores, o passismo continua órfão de candidato. O único concorrente confirmado é Rui Rio. Esta sexta-feira, a Antena 1 noticiou que o ex-presidente da câmara do Porto ia apresentar a sua candidatura na quarta-feira, em Coimbra. Quanto o Observador sabe, os dois únicos aspetos certos é que Rio apresentará a sua candidatura depois do Conselho Nacional de segunda-feira, entre terça e quinta e que o lançamento não será em Lisboa nem no Porto, como forma de mostrar que o país não se resume apenas a estas duas cidades.

O que se passou com Montenegro e Rangel?

O PSD está em estado de pré-guerra. Falta é saber que luta vai ser esta, porque tradicionalmente é preciso duas partes no ringue e até ao momento só há uma. Quem vai contra quem e defender o quê ainda não se sabe. Até agora, tirando Rui Rio, só houve concorrentes a encostar às boxes antes da grelha de partida estar formada. Luís Montenegro fez um caminho nos últimos dois anos para surgir como sucessor de Passos Coelho, mas na 25ª hora retirou-se de cena. Primeiro hesitava, depois ponderava avançar e finalmente recuava com um comunicado à meia-noite de quinta-feira. Paulo Rangel, que ia reeditar uma candidatura se Montenegro não fosse avante, entrou em reflexão na terça-feira, fez contactos durante dois dias, chegou a ter o aparelho que lhe daria boas probabilidades de vitória garantido, mas, doze horas depois de Montenegro o ter feito, anunciou também a sua não-candidatura.

Luís Montenegro, em quem Miguel Relvas andou a investir e promover nos últimos anos, já não estava motivado para aparecer como herdeiro do passismo quando se deu a débacle social-democrata nas autárquicas a 1 de outubro. Primeiro, por uma razão de cálculo: se tivesse o “azar” de ganhar o partido, como conhece bem as dinâmicas internas, não estava disponível para ser o cordeiro sacrificial nos próximos dois anos, quando o ciclo político parece ser mais favorável ao PS. O segundo aspeto teve a ver com a parte mais ideológica: Montenegro passou os últimos seis anos a defender as políticas do Governo de Pedro Passos Coelho no hemiciclo e na praça pública, assim como a estratégia de oposição passista após as legislativas de 2015. Qual era o problema? Seria muito difícil ao ex-líder parlamentar ter um discurso diferente do de Passos e se o fizesse era acusado de ser contraditório. Ou, então, perdia autonomia e personalidade para repetir o mantra dos últimos anos e seria acusado de ser incongruente. No entanto, a explicação oficial foi esta: “Após a reflexão que fiz entendo que, por razões pessoais e políticas, não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito”.

Com o recuo do deputado Montenegro, avançaria o eurodeputado Rangel. As duas candidaturas chegaram a ser ponderadas em simultâneo, mas depressa os dirigentes do partido chegaram à conclusão que só seria viável uma. Na tarde de terça-feira, quando começou o Conselho Nacional onde o líder discursou a despedir-se do partido, Rangel não estaria seriamente a ambicionar a liderança (apesar de nunca se ter tirado de jogo nos últimos meses). No entanto, ganhou força durante a reunião, sobretudo com os elogios de Marco António Costa e de Pedro Passos Coelho (que já tinha ideia de que a hipótese Montenegro era improvável).

Passou então por 48 horas de contactos intensos. Chegou a ter garantidos apoios que iam para além do passismo puro e duro, embora não dissesse aos dirigentes do partido com quem falava para o darem como certo. Falou várias vezes com Luís Montenegro. No fim, acabou por ser prejudicado por dois movimentos: primeiro, por Montenegro ter admitido uma candidatura depois do próprio Conselho Nacional, o que o remetia para segundo plano; depois, por se ter tornado numa solução de segunda via quando o deputado recuou. Acabaram por ser, porém, problemas de natureza familiar a travar Rangel quando a ponderação se tornou mais séria. A justificação oficial foi esta, feita em comunicado esta sexta-feira ao meio-dia: “Infelizmente, e independentemente das condições políticas subsistentes, por razões de ordem familiar, que tentei solucionar ao longo dos últimos dois dias, nas atuais circunstâncias, afigura-se inviável a apresentação dessa candidatura”. Seja quem for o próximo líder, terá de considerar Rangel com uma figura cimeira no partido, até por ser vice-presidente do Partido Popular Europeu, o que implica recandidatá-lo nas europeias que terão lugar antes das legislativas de 2019.

Paulo Rangel não é candidato do PSD “por razões de ordem familiar”

Se Pedro Santana Lopes voltar à estrada para correr para a liderança, é a quarta candidatura efetiva (tirando todas as vezes que ponderou e recuou, ou que chegou a congressos com candidaturas que não chegaram a efetivar-se). A primeira vez que surgiu como candidato foi no célebre congresso de 1995, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa — o da despedida de Cavaco Silva –, em que não chegou a ir a votos, acabando a disputa por ser entre Durão Barroso e Fernando Nogueira (que ganhou). Depois, durante a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa, também apareceu num congresso a fazer o discurso do “agora nós, Marcelo”, mas também não foi a votos para a liderança. A primeira candidatura que levou até ao fim foi no ano 2000, em Viseu, em que concorreu contra Durão Barroso e Marques Mendes (venceu Durão Barroso).

Chegou a líder do partido — e primeiro-ministro — entre junho de 2004 e março de 2005, depois de ter sido eleito em Conselho Nacional e só mais tarde confirmado em congresso. Acabou por ver a sua maioria dissolvida pelo Presidente da República Jorge Sampaio. A última vez que Santana Lopes se apresentou a votos no partido foi nas diretas de 2008, em que concorreu com Pedro Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite (que venceu).

Nas diretas de 2008, Santana Lopes conseguiu ter 30% dos votos do PSD, o correspondente a 13,4 mil votos de militantes. Foi um resultado muito próximo de Pedro Passos Coelho que, nesse ano, se apresentava pela primeira vez à liderança do partido: teve 31% e 14,1 mil votos. Manuela Ferreira Leite tornava-se líder sem que tivesse uma vantagem muito expressiva: 38% do partido e 17,2 mil votos de militantes.