Segunda-feira, 16 de outubro de 2017, 19h00. No Palácio da Zarzuela, findo o encontro com uma delegação das Academias Iberoamericanas, na altura em Madrid para um simpósio, Filipe VI de Espanha preparou-se para ler as últimas notícias do dia. Só depois disso seriam horas de, finalmente, ir para casa, o Pavilhão do Príncipe, a apenas um quilómetro de distância, jantar com a rainha Letizia e as filhas, Leonor e Sofia.

Assim que se sentou à secretária, um funcionário do Palácio, no Monte de El Pardo e a apenas meia hora do centro da capital espanhola, irrompeu pelo gabinete e deu o alerta: tinham de sair dali imediatamente, tinha havido uma falha de segurança grave. Um carro tinha invadido o perímetro de segurança do palácio, entrado pela porta de serviço da Zarzuela (por onde as infantas saem todos os dias para ir para a escola) e destruído a cancela que lhe barrava o acesso. Não se sabia quem estava ao volante. Podia ser um homem, ou podiam ser dois. Podiam estar armados — inofensivos não se esperava que fossem.

Acompanhado pelo guarda-costas, Rafael, o rei Filipe saiu do gabinete e correu até ao carro blindado que já estava no piso térreo a sua espera. Percorreram o quilómetro até casa em menos de nada, escoltados por um segundo carro, e uma vez no Pavilhão do Príncipe, pararam para, juntamente com o chefe de segurança da Zarzuela, Miguel Herrainz, decidirem o que fazer. Opções em cima da mesa: ou a família real era levada para o quarto de pânico montado na cave do edifício ou era retirada por helicóptero da residência oficial.

Na altura, no terreno, dezenas de homens da guarda civil batiam o perímetro do Palácio, construído no meio de um parque, cheio de arvoredo. Já tinham encontrado o carro que perseguiam, um Peugeot 208, a cerca de meio quilómetro de distância da entrada, mas do ocupante — ou ocupantes — não havia nem sinal. O caso era dramático e o nível de alerta estava no máximo: no ar, um helicóptero da Polícia Nacional já perscrutava também o solo, à procura da ameaça em curso. Em cada um dos acessos à propriedade tinham sido colocados blocos de cimento, não fosse haver nova tentativa de trespasse.

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Passariam três horas até a família real espanhola poder finalmente suspirar de alívio — e perceber o que tinha acontecido, conta este sábado o El Español.

E o que foi afinal que se passou? Passou-se Álvaro Velez, 30 anos, português nascido em Lisboa e conhecido das autoridades madrilenas há anos, por roubos a casas e chalés vazios nas redondezas e consumo de estupefacientes. “Não utiliza armas e não tem por hábito ser violento, a não ser que precise da sua dose habitual de droga”, é como o jornal o descreve.

Quando, por volta das 18h30 desse dia, a polícia passou por ele algures no distrito de Moncloa, em Madrid, e lhe fez sinal para parar, Álvaro acelerou o carro, que entretanto as autoridades perceberam que tinha sido dado como roubado. A partir daí foi estilo filme, com o português, sempre com os espanhóis na sua peugada, a acelerar o Peugeot, sair da cidade, entrar na autoestrada número 6 e a dirigir-se fatalmente para a zona da residência dos reis de Espanha.

Álvaro Velez enganou-se quando virou para a porta secundária do Palácio da Zarzuela, do lado oposto da entrada oficial — mas não parou. Nem sequer quando viu a guarita com a cancela em baixo e os guardas armados que lhe faziam sinal para estacar. A partir daí, com a polícia à porta, por a Zarzuela estar fora da sua jurisdição, passou a ser perseguido pela guarda civil. Preferiu continuar a pé e tentou esconder-se.

Acabou por ser encontrado duas horas depois, exausto e junto a umas rochas, a cerca de dois quilómetros do sítio onde largou o carro. Foi detido. “Esta ficará na História do Palácio como mais uma anedota”, concluiu o El Español.