Foi em outubro, mais concretamente no dia 17 de outubro, que Iker Casillas perdeu a titularidade da baliza do FC Porto para José Sá, na deslocação dos dragões à Red Bull Arena em Leipzig. Mas terá sido em julho, mais concretamente no dia 7 de julho, que Iker Casillas começou a perder a titularidade da baliza do FC Porto para José Sá. E aquela que é a contratação que ninguém percebeu ainda muito bem (o guarda-redes Vaná) começa a fazer sentido.
A questão do fair-play financeiro alterou por completo o modus operandi do FC Porto este Verão a dois níveis: posicionamento no mercado (vender muito, comprar quase nada) e custos com pessoal (que sempre foram muito elevados e começaram agora a levar um visível corte). Para quem falhou todos os objetivos desportivos desde 2013, os dragões andavam a viver acima das suas possibilidades, mas decidiram cortar o mal pela raiz. Por isso, a renovação de Iker Casillas, o jogador com ordenado mais elevado do plantel, acabou por ser uma surpresa.
Segundo o El País, a renovação de contrato por mais uma época, no início de julho, acabou por surgir por causa de uma imposição contratual (pelos jogos realizados em 2016/17) e não por vontade própria. Vaná foi apalavrado com o Feirense numa perspetiva de saída do espanhol, algo que nunca chegou a acontecer. E o campeão europeu e mundial de clubes e seleções permaneceu na Invicta com novo vínculo. “O FC Porto está a empurrar Casillas para a saída na reabertura de mercado, em dezembro [n.d.r. em termos oficiais, 1 de janeiro]. E a razão é o orçamento: Casillas ganha à volta de cinco milhões brutos, o salário mais alto do plantel.”
Entretanto, o agente do guardião, Carlos Cutropia, recusou por completo esse cenário e mostrou-se confiante numa mudança a breve prazo. “Está bem, tranquilo, a treinar bem e com vontade de jogar. Penso que ele e o treinador falam todos os dias. Há que dar tempo e esperar, mas há tranquilidade total. Saída por causa do salário? Das loucuras que vi, essa é a maior. Não há fundamento para escrever isso, quem o fez lá saberá. O Iker está tranquilo, encantado e feliz no Porto, quer jogar como qualquer profissional”, disse à Rádio Renascença.
De acordo com o El País, o espanhol terá confidenciado a pessoas próximas que não percebia o porquê de ter saído da equipa (embora aceitando a decisão do treinador, que explica como “opção técnica”), acrescentando que até fez um programa específico de ginásio durante meses para perder peso e ganhar velocidade. Havia outro motivo extra: a possibilidade que o selecionador, Julen Lopetegui (que tinha pedido a sua contratação quando estava nos azuis e brancos), levantou sobre uma possível chamada para o Campeonato do Mundo da Rússia.
Terá sido essa hipótese que, numa primeira instância, levou Casillas a procurar um novo clube em Itália, na Alemanha ou em Inglaterra. As respostas ou não chegaram ou não agradaram, tendo em conta essa mesma esperança de fazer uma temporada que lhe reabrisse as portas da Roja. E avançou com a renovação, apostado em melhorar o rendimento das primeiras duas temporadas no Dragão e ganhar títulos (ainda não conquistou nenhum desde 2015). Em termos estatísticos, conseguiu: depois de ter defendido 61 dos 88 remates enquadrados em 2015/16, numa taxa de eficácia de 68%, subiu esse valor para 78% e, na presente época, além de ter estado mais de 500 minutos sem qualquer golo consentido, levava uma percentagem de sucesso de 81%.
No meio de tudo isto, percebe-se que o FC Porto não tem nada contra o guarda-redes e, como explicou Sérgio Conceição na antecâmara da receção ao P. Ferreira, “não há nada que se possa apontar ao seu trabalho diário”. Mas há um problema: o fair-play financeiro. E é por isso que o fim de linha no Dragão pode estar próximo, algo que o agente do espanhol continua a recusar. Na reabertura de mercado, e numa altura onde já se começa a falar de novo da possibilidade Liverpool para o número 1 portista, a resposta surgirá de forma natural.