Mais de 50 anos depois, o mundo vai finalmente saber a verdade sobre a conspiração da CIA com a Máfia, que levou Lee Harvey Hoswald e o homem do chapéu-de-chuva, com a assistência do KGB e o apoio moral de Fidel Castro, a, no dia 22 de novembro de 1963, disparar o tiro fatal que viria a matar John Fitzgerald Kennedy, o Presidente do Estados Unidos. Bem… não exatamente.

Tão certo como a morte e os impostos, para citar outro famoso presidente dos Estados Unidos, é que a morte de JFK naquela fatídica manhã na cidade de Dallas, no Texas, vai sempre ser controversa.

Num país onde as teorias da conspiração foram elevadas ao estatuto de arte, ainda há quem acredite que o homem nunca foi à lua, que Elvis não morreu e que o 11 de setembro foi engendrado pelas fabricantes de material militar para começar uma guerra, mas nada tem despertado mais paixões – e confusão – entre os norte-americanos do que o assassinato de Kennedy.

De acordo com uma sondagem encomendada pelo FiveThirtyEight, dois terços da população norte-americana não acredita na versão oficial da história, que Lee Harvey Oswald, sozinho, assassinou Kennedy.

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Foram precisamente as teorias da conspiração que levaram o Congresso dos Estados Unidos a determinar uma data final para a divulgação de todos os documentos. Depois do filme de Oliver Stone, com várias teorias sobre o assassinato de Kennedy, o Congresso criou uma comissão para rever os documentos e passou para a lei a obrigação de divulgar os documentos ao fim de 25 anos.

Esta quinta-feira, finalmente, os arquivos nacionais dos Estados Unidos vão divulgar os últimos 3100 documentos da investigação sobre o assassinato de JFK que estavam sob segredo de Estado, apesar das dúvidas expressas pela CIA a Donald Trump. Trump, o único que podia bloquear esta divulgação, optou por não o fazer.

Mas o que se pode esperar destes últimos documentos, que durante décadas foram considerados demasiado secretos para virem a público? Será que Lee Harvey Oswald tinha um parceiro? Que foi uma conspiração da CIA e da máfia? Que Howard Hunt, uma das figuras centrais do escândalo do Watergate, estava envolvido na conspiração? Provavelmente não.

Segundo vários historiadores, os documentos deverão ter informações importantes para perceber o que levou aos acontecimentos daquela manhã em Dallas, mas não nesse sentido. Lee Harvey Oswald terá atuado sozinho, sem apoio da CIA, da Máfia ou do KGB, e Jack Ruby terá matado o assassino de Kennedy por iniciativa própria.

Lee Harvey Oswald no momento em que é atingido por um tiro disparado pelo mafioso Jack Ruby, que o viria a matar.

O que os documentos poderão ajudar a perceber é qual o papel da CIA e do FBI nos momentos antes do assassinato de Kennedy. Lee Harvey Oswald estaria na mira das agências norte-americanas, que poderão não ter levado a sério o perigo de Oswald, o que não só deixaria as secretas a fazer uma fraca figura, como destruiria a teoria montada pelas agências de que nada se podia ter feito para evitar a morte do presidente.

Outra questão que pode ser clarificada, é a da viagem de Oswald ao México nos meses que antecederam o assassinato. Parte dos documentos que serão divulgados dizem respeito à delegação da CIA na Cidade do México, o que poderá dar detalhes sobre a equipa que vigiou Oswald e potenciais informadores.

Oswald, já se sabe, era um autoproclamado marxista que tentou desertar para a União Soviética e esteve em contacto com espiões mexicanos e russos no México. A questão será, o que sabia a CIA?

Na altura a CIA argumentou perante o Congresso que não havia fotos da viagem de Oswald e que as gravações dos seus telefonemas teriam sido destruídos, uma ação de rotina na agência. Anos mais tarde viriam a virar a agulha e a admitir que afinal esses registos existem.

Houve ou não uma conspiração para esconder a verdade? Houve e já foi admitida. Uma parte da informação terá sido escondida pela CIA da comissão do Congresso que investigou o assassinato, a Warren Comission, em especial tudo o que pudesse apontar para que Oswald agiu sozinho. Parte da informação seria a das tentativas de assassinato da CIA a Fidel Castro, que poderiam levar o Congresso a investigar a possibilidade de se tratar de uma retaliação cubana.

Os documentos poderão também, finalmente, esclarecer se Howard Hunt, uma das peças fundamentais do escândalo do Watergate – que terminaria com a demissão de Richard Nixon – esteve ou não envolvido no caso. Hunt, que era agente da CIA antes do assalto ao Watergate, alegadamente saberia previamente do assassinato de JFK (diz a família). Entre os documentos estará também um documento de 84 páginas sobre Bernard Baker, um dos exilados cubanos que, juntamente com Howard Hunt, foram detidos no edifício do Watergate.

A história não deverá mudar substancialmente. Lee Harvey Oswald terá mesmo assassinado JFK, sem um segundo atirador, nem sequer o famoso homem do chapéu-de-chuva, sem ajuda do KGB ou de Fidel Castro, mas a informação poderá ajudar a perceber melhor os acontecimentos daquela manhã em Dallas.