O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, disse à Lusa que Martinho Lutero, figura central da Reforma Protestante há 500 anos, é “uma grande fonte de inspiração”.

Manuel Clemente considerou, em declarações à Lusa, que há que “valorizá-lo dentro deste ambiente geral de Reforma do século XVI”. “O regresso às fontes bíblicas, o contacto direto com os Evangelhos, há o sentido de uma experiência pessoal mais coerente, e Lutero integra-se dentro desta constelação e, nesse sentido, ele e os outros reformadores do século XVI são para nós, homens do século XXI, uma grande fonte de inspiração”, afirmou.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa caracterizou Martinho Lutero como “mais um reformador que procurava voltar às fontes bíblicas diretamente, [com] uma grande apropriação pessoal na leitura e no sentimento dessa mesma Bíblia”.

“Se lhe fôssemos perguntar, ao princípio, se ele estava a pensar que ia provocar uma rutura no catolicismo mundial ou na Igreja mundial, ele, ao princípio, não estaria à espera disso”, afirmou, sublinhando que “há muitas coisas que, mesmo no âmbito do catolicismo, foram definidas a seguir que antes não eram tão claras mesmo para o próprio Lutero”.

O cardeal patriarca de Lisboa lembrou, por isso, que Martinho Lutero surgiu no seio de um movimento que “toca toda a cristandade do final da Idade Média e do princípio da Idade Moderna”, numa parte da Europa “mais urbanizada e onde circulavam pessoas e ideias”.

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“Dentro deste contexto, houve vários movimentos de reforma, isto é, de tentativa de retomar a forma inicial do Cristianismo, que é o que a palavra essencialmente quer dizer. Tinham acesso às fontes evangélicas, liam as cartas de Paulo, liam os atos dos apóstolos com as vidas primitivas das comunidades cristãs”, recordou.

Manuel Clemente vincou que “alguns desses movimentos de Reforma cortaram com Roma, outros mantiveram-se em Roma”, tendo originado, mais tarde, a reforma do Concílio de Trento que “deu basicamente aquela maneira de viver católica” que persiste até hoje.

A 31 de outubro, os protestantes celebram os 500 anos do dia em que Martinho Lutero fixou à porta da Catedral de Vitemberga 95 teses criticando a atuação do papa e do alto clero, lançando as bases de uma nova religião cristã, o Protestantismo.

No ano passado, o papa Francisco foi à Suécia participar no lançamento das comemorações dos 500 anos, num sinal do diálogo entre católicos e protestantes.