Chegaram à vez, mas encontraram-se a meio caminho. Os dois candidatos a líder do PSD foram esta segunda-feira convidados para uma reunião, à porta fechada, com os deputados sociais-democratas: Santana Lopes estava marcado para as 18h00, chegaria às 17h40; Rui Rio estava marcado para as 19h00, chegaria às 18h40. Igualaram na antecipação. Mas divergiram no estilo. Um, Santana, subiu lentamente pela escadaria do hotel, mais pausado, e entrou pela sala adentro quando os deputados ainda estavam em pausa para café. Não foi sequer recebido com pompa e circunstância — Passos Coelho nem sequer estava presente. O outro, Rio, subiu pelo elevador e foi para uma sala esperar que a intervenção do adversário terminasse. No final, foi recebido pelo líder parlamentar Hugo Soares e encaminhado para a sala, onde cumprimentou Pedro Santana Lopes. E Pedro Passos Coelho.
A guerra, na verdade, começou por ser de protagonismo. Os assessores tentavam perceber qual era o melhor sítio e o melhor timing para um e outro falarem aos jornalistas, sem retirarem palco mediático a um e a outro. Três coisas, pelo menos, eram certas: os dois tinham de se cumprimentar, à frente das câmaras; os dois tinham de cumprimentar o atual líder Pedro Passos Coelho, à frente das câmaras; e os dois tinham de falar aos jornalistas no fim das suas intervenções. Assim foi. Os cumprimentos foram feitos mas, no final, a competição acabou por ser outra: a dos afetos versus a da racionalidade. Quem é o “campeão”? A avaliar pelo aplaudómetro, no final de cada uma das intervenções, nem um nem outro entusiasmaram a plateia. “Aqui somos muito comedidos nas palmas”, comentava um deputado já no átrio do hotel, brincando com a ideia de que os deputados não quiseram mostrar que pendiam para um lado ou para o outro na dimensão dos aplausos. Certo é que, ao que o Observador apurou, se fosse para escolher um, dir-se-ia que Rui Rio foi mais “entusiástico”.
Rui Rio foi o último a sair e disse logo que a plateia de deputados tinha sido “uma plateia igual às outras”, elogiando a iniciativa “útil” da direção da bancada de proporcionar aquelas sessões de esclarecimentos aos deputados — que vão ser eleitores nas diretas de janeiro. Já Santana Lopes tinha dito que era uma “sensação estranha” estar naquela posição de candidato perante “os colegas de tantas jornadas”. “Se Deus quiser”, Santana diz que vai lidar muitos mais anos com este grupo parlamentar. Mas também Rio fez questão de sublinhar que qualquer que seja o líder eleito, vai “herdar” o grupo parlamentar do presidente anterior. Esta, foi, aliás, uma questão colocada dentro de portas, por um deputado apoiante do ex-autarca do Porto: se Rio ia ou não fazer uma “limpeza” da bancada. A ideia, segundo apurou o Observador, terá sido mesmo desmistificar essa premissa, já que há o tabu de que Santana pode ser a tradição e Rio a revolução. E isso passa também pelos lugares.
Afetos versus rigor nas contas. O que vale mais?
Está definida a estratégia de cada um: Santana Lopes quer ser o homem dos “sonhos”, dos “sorrisos”, dos afetos, embora admita não ser o “campeão dos afetos”, porque esse será Marcelo Rebelo de Sousa, mas poderá pelo menos ser o vice-campeão, bem à frente de Rui Rio. Mas Rio pouco se importa com os afetos, prefere a racionalidade e o rigor das contas. “Não se trata de ser mais distante ou mais próximo, Sá Carneiro e Cavaco Silva também não foram campeões dos afetos e no entanto foram líderes com muito sucesso“, disse aos jornalistas, à saída da reunião.
A estratégia de Rio é outra: quer ser o preferido dos portugueses e com isso espera convencer os militantes do PSD de que tem mais condições de ser eleito primeiro-ministro em futuras eleições. Esse é o seu trunfo, e para isso tem usado uma recente sondagem da Aximage, divulgada pelo Correio da Manhã, que o dá como preferido dos portugueses. “A questão tem que ser que líder do PSD é que querem”, disse, pondo a questão noutros termos: “Se acharem que os portugueses nos preferem aos dois em igual medida, é uma coisa, mas se essa preferência cair muito mais para um lado, então aconselharia os militantes a escolher esse candidato”, disse. E esse candidato preferido dos portugueses é Rio? “Sim, na minha opinião sou eu”, disse prontamente. O importante é haver “sintonia” entre a vontade dos portugueses e a vontade dos militantes.
Não é que os afetos não interessem, mas há outras coisas mais importantes, como a racionalidade. “A política tem de ter uma componente grande de racionalidade, e outra de afetos, claro, as emoções também têm de estar na política, porque somos seres emotivos, mas temos de elevar a racionalidade”, acrescentou ainda quando questionado pelos jornalistas sobre as diferenças entre ambos.
Certo é que, dentro de portas, uma das questões colocadas ao ex-presidente da câmara do Porto teve a ver precisamente com a questão do rumo económico e do rigor orçamental. Segundo fontes presentes na reunião, Rui Rio descansou a plateia dizendo que consigo não iria haver “mudança de estratégia”, mas apenas “afinações de pormenores”. Até terá olhado para Maria Luís Albuquerque para dizer que o rumo rigoroso que queria seguir seria semelhante ao da ex-ministra.
Eleições antecipadas? A intuição de um, a convicção do outro
A competição, contudo, foi para lá dos afetos, e estendeu-se a intuições e convicções. Enquanto Santana Lopes admitiu ter a “intuição” de que poderá haver eleições legislativas antes de 2019, se o Governo “continuar como está”, Rui Rio mostrou-se “convicto” de que o Governo vai levar o mandato até ao fim, embora isso não seja “científico”.
Certo é que, para 2019 ou para mais cedo, Santana Lopes apareceu na reunião da bancada parlamentar com propostas e com ideias concretas para o seu programa: um programa para duas legislaturas, que passa por criar já no imediato várias unidades de missão para estudar os temas concretos, do crescimento da economia à organização do território, passando ainda pelas políticas sociais. Rui Rio optou antes por não revelar aos jornalistas as “propostas” que apresentou aos deputados. O Observador sabe que uma delas tem a ver com a reforma do sistema político que Rio quer desencadear. Luís Montenegro terá feito uma das intervenções mais marcantes, ao pedir precisamente ao ex-autarca do Porto para concretizar o que quer fazer em relação a isso. O ex-líder parlamentar terá explanado a sua visão sobre o tema, dizendo que era preciso combater a “esquerdização da sociedade” e que a abstenção e os fenómenos populistas existem em países com sistemas políticos diferentes do português.
Feitas as contas, Rio pareceu “mais determinado”, ouviu o Observador de uma fonte não assumida para nenhum lado. Passos Coelho, que tinha falhado a receção a Pedro Santana Lopes, que chegou mais cedo e sem aviso prévio, acompanhou os dois à saída. “Que tudo corra bem”, disse. Aos dois.