Santana primeiro, Rio depois. À vez, os dois candidatos a líder do PSD foram a uma reunião do grupo parlamentar do PSD, em Braga, onde decorrem as jornadas do partido, explicar aos deputados por que devem votar em si. “Uma hora é pouco para tudo o que temos para dizer…”, comentou Santana Lopes à saída da sala, já com as câmaras apontadas para si. A reunião foi à porta fechada: “regras da casa”, diria à entrada em jeito de pedido de desculpas aos jornalistas. Mas até é conveniente. “Assim podemos falar mais francamente.”
Precisamente uma hora depois, Santana Lopes saía da sala do hotel com “sonhos”, com “sorrisos” e disposto a aplicar uma política de “proximidade”. Mas qualquer comparação com Marcelo Rebelo de Sousa é pura coincidência. E Santana nem se atreve a entrar nesse campeonato: “Eu não sou o campeão dos afetos”. Mas candidata-se talvez a um segundo lugar, para contrastar com o seu adversário direto, tido por frio e mais dado a números do que a pessoas. “Não sou o campeão dos afetos, mas tenho um sorriso sempre pronto e sempre soube falar com as pessoas“, diria aos jornalistas, explicando que se for eleito presidente quer fazer do partido um partido mais próximo das pessoas. “Um PPD com mais P de proximidade e mais P de popular.”
Numa curta declaração aos jornalistas à saída da reunião, onde deu a vez a Rui Rio, que estava marcado para as 19h00, Santana Lopes listou algumas prioridades e ideias para o caso de, “se Deus quiser”, ser eleito nas diretas de janeiro. Uma delas é a urgente reorganização do território, que vem à boleia das tragédias recentes dos incêndios, mas que já está no topo da sua agenda há muito tempo. “Em 2010, nas jornadas do PSD no Fundão, fui convidado por Luís Montenegro para ir falar de desertificação, porque ele sabia já nessa altura a importância que eu dava ao tema”, explicou, sublinhando que o mandato na câmara da Figueira da Foz o fez perceber “o que era depender de Lisboa”.
Para isso, Santana tem um projeto “para oito anos, até 2025, para duas legislaturas”, e tem uma proposta muito concreta: criar três comissariados (ou unidades de missão), que seriam presididos pelo presidente do partido, mas que funcionariam imediatamente, para o PSD chegar às eleições legislativas “com propostas com cabeça, tronco e membros”. Os comissariados dividiam-se em três áreas fundamentais: 1) financiamento das políticas sociais; 2) organização do território; 3) agenda para o crescimento, o que engloba tudo o que permita esse crescimento, desde política fiscal a simplificação administrativa.
Um projeto “ambicioso” que “exige sonhos”, admite. Santana saiu a dizer que tinha transmitido aos deputados que é preciso “ousar”. “O país está farto de se desiludir, mas precisamos de sonhos, e o meu programa é um programa que exige sonhos”, disse.
Ou seja, ainda nem foi eleito e já tem uma génese de programa para ir a eleições. Porquê? Porque Santana Lopes até admite que haja eleições legislativas antes de 2019. “Admito que não tenhamos eleições no tempo previsto para a legislatura”, deixou escapar. E depois explicaria que tem essa “intuição”. “Tenho essa intuição, acredito que se o Governo continua assim, a despender energia em temas secundários, pode haver eleições antes de 2019, ou em 2019, mas se for antes estaremos prontos”, disse, referindo-se à guerra “desnecessária” com o Presidente da República ou a “divergências acentuadas na maioria”, como é o caso das diferentes posições face à Catalunha.
Sobre as diferenças face ao seu adversário direto Rui Rio, Santana não quis ir muito longe. Aliás, dentro de portas até tinha dito: “Somos do mesmo partido, isto não é a guerra do Vietname”. “É mais o que nos une do que o que nos separa”, diria também. Mas a diferença, como o diabo, está nos detalhes: “A escolha é entre um líder mais distante e um líder mais próximo”. Ou entre quem sempre elogiou Passos Coelho, ou quem só deixa escapar uns elogios “porque é candidato”. 19h00, a hora de Santana acabou. Venha o próximo.