Num mundo em constante mutação, a Lamborghini é o fabricante de desportivos mais difícil de perceber, pois se por um lado aposta nas mecânicas tradicionais, pois todos os seus modelos estão equipados com enormes e nobres motores V10 ou V12, a realidade é que o design dos seus desportivos é do mais ousado e moderno que existe no exclusivo mercado em que a marca italiana se movimenta.
Mas se os superdesportivos de Sant’Agata Bolognese aceleram de forma muito rápida, os desejos dos clientes prometem modificar-se de forma ainda mais célere nos próximos anos, pelo que parar pode significar morrer. Por isso, não é espantar que este construtor do Grupo Volkswagen tenha decidido dar um “enorme” passo em frente e conceber um concept que revela o superdesportivo do futuro, carregado de tecnologia. E quando se fala de novas tecnologias, nada melhor que ter como parceiro o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), a instituição privada que é normalmente apontada como a mais prestigiada universidade e centro de investigação do mundo.
Quando juntamos na mesma sala, durante meses, os devotos técnicos da Lamborghini e alguns dos especialistas mais capazes do MIT, o resultado só podia ser explosivo. E o Terzo Millennio é muito mais do que isso, uma vez que recorre a soluções e sistemas tão sofisticados que se tornam difíceis de explicar. “Visando apontar para o futuro da marca”, segundo o CEO do fabricante, Stefano Domenicali, o novo concept surpreende pelo design arrojado e apaixonante. Mas este está longe de ser o seu principal argumento.
Carroçaria que se auto-repara
O Terzo Millennio vai ser 100% eléctrico e vai estar equipado com quatro motores eléctricos, pelo que pode dizer adeus ao melodioso cantar do V12 atmosférico com 750 cv, capaz de gritar desalmadamente até às 9.000 rpm. E já todos sabemos como é fácil “meter” 1.000 ou mesmo 2.000 cv dentro de veículo, desde que se recorra apenas a motores eléctricos.
Mas o Lamborghini começa por surpreender ao nível da carroçaria, que se deseja cada vez mais robusta, mas leve. Recorrendo à tecnologia do MIT, a Lamborghini concebeu o seu veículo com uma carroçaria e chassi em fibra de carbono (o que só por si está longe de ser uma novidade), mas com um sistema inovador – e outra coisa não seria de esperar dos homens do MIT, com quem a Lamborghini estabeleceu uma parceria a três anos, que vai custar aos italianos 600 mil euros.
Para começar, a fibra de carbono possui sensores que detectam quaisquer tipo de fracturas ou rachadelas que possam surgir, durante uma solicitação mais forte ou pequenos embates. Contudo, vai mais longe, pois no caso de um desses danos ser detectado, uns microcanais preenchidos com aquilo a que o MIT chama químicos auto-regeneradores apressam-se a reparar a fissura, devolvendo à fibra de carbono a rigidez original. Isto permite que a Lamborghini recorra a este tipo de fibra em zonas sujeitas a grande esforço – poupando peso e ganhando rigidez –, sem o receio de que venha a degradar-se rapidamente e de forma descontrolada.
Converter a carroçaria em bateria
Os carros eléctricos alimentados por baterias pesadas, volumosas e caras são um contra-senso, especialmente num veículo potente e que deseje oferecer uma autonomia similar aos modelos a gasolina, que assim terão de transportar mais de meia tonelada só de acumuladores. Consciente desta realidade, que quer evitar a todo o custo, a Lamborghini recorreu ao MIT em busca de avançados supercondensadores que resolvessem o problema. E, vai daí, transformaram a carroçaria e chassi do Terzo Millennio numa gigantesca bateria.
Recorrendo a nanotubos em fibra de carbono, é possível produzir acumuladores com formas maleáveis e moldáveis, pelo que em vez de montar a habitual e pesada bateria convencional (de iões de lítio) na base do chassi, os novos acumuladores seriam espalhados por toda a carroçaria, colocados entre uma camada exterior e outra interior, para protecção. E com a vantagem de, à mínima rachadela, lá virem os químicos milagrosos reparar a “greta” num instante.
Com o novo sistema de acumuladores – chamar-lhe bateria, neste caso, era quase uma ofensa e podia induzir em erro –, a Lamborghini pode continuar a conceber um superdesportivo leve, capaz de armazenar muita energia e, como se isto não bastasse, passível ainda de ser recarregado num mínimo período de tempo, tudo devido à nanotecnologia de carbono.
Resta saber quando é que o Terzo Millennio vai originar um superdesportivo de produção em série. Mas fica a certeza de que isso tardará menos do que muitos pensam agora. Segundo Mitja Borkert, o chefe de design da Lamborghini – que a marca foi buscar recentemente a outra marca do Grupo Volkswagen, a Porsche -, “é fundamental que um novo modelo tenha o efeito ‘uau’. Se tal não acontecer, falhámos”. E a Lamborghini, mais uma vez, acertou na mouche!