A polícia da Papua Nova Guiné entrou esta quinta-feira no acampamento de migrantes de Manus, desencadeando receios de uma evacuação forçada, indicaram fontes do governo australiano e requerentes de asilo ‘encurralados’ após o encerramento do centro de migrantes.
Objeto de críticas por parte de organizações de defesa dos direitos humanos, o centro de detenção situado na ilha de Manus, patrocinado por Camberra, figura no centro de uma contenda entre os migrantes e as autoridades da Papua Nova Guiné.
Isto porque, em 31 de outubro, o centro foi oficialmente fechado após decisão do Supremo Tribunal, que o considerou anticonstitucional, mas centenas de migrantes recusam-se a abandonar o local por receio de colocarem a sua segurança em perigo.
Nas vésperas do encerramento, o ministro da Imigração da Papua Nova Guiné, Petrus Thomas, tinha pedido à Austrália para se responsabilizar pelas centenas de migrantes do centro que rejeitavam ser reencaminhados para outras partes do país, recordando Camberra que, à luz do acordo bilateral vigente, essa não era uma obrigação do seu país.
Centenas de migrantes, sem água nem eletricidade, continuam barricados no centro, rejeitando “passar de uma prisão para outra”.
Os migrantes, que aguardavam naquele centro a tramitação dos seus processos, foram convidados a visitar outros três centros de “transição” na Papua, mas afirmaram temer pela sua segurança devido à hostilidade de determinados habitantes, denunciando ainda serem alvo de uma detenção ilimitada.
“A polícia [e] as forças especiais (…) estão a espalhar-se por todo o acampamento em torno do centro”, relatou o migrante iraniano Behrouz Boochani, que desempenha o papel de porta-voz dos ocupantes, numa série de mensagens publicadas no Twitter em que fala em “centenas” de agentes.
“Os soldados estão no exterior. Estamos sob ataque”, escreveu, indicando que “os refugiados encontram-se sentados pacificamente” e que a polícia, através de megafones, pediu-lhes para abandonarem o local: “Vão-se embora! Vão-se embora!”.
Segundo Behrouz Boochani, dois migrantes precisam de cuidados médicos urgentes.
Outros migrantes publicaram fotografias nas redes sociais mostrando a polícia a entrar no acampamento, de acordo com a agência de notícias francesa AFP. O ministro da Imigração da Austrália, Peter Dutton, confirmou que uma operação policial se encontra em curso em Manus.
“Acho que é escandaloso que as pessoas ainda continuem lá”, declarou à rádio 2GB o ministro, cujo país tem estado sob fogo de organizações internacionais pelo impasse administrativo a que sujeita há anos centenas de requerentes de asilo. “Nós queremos que eles saiam”, acrescentou.
O comissário da polícia da Papua Nova Guiné, Gari Baki, afirmou, na terça-feira, que as unidades destacadas para o local não iriam recorrer à força para evacuar o acampamento. “Vamos pedir educadamente aos refugiados para prepararem as suas coisas e para abandonarem voluntariamente o centro”, assegurou a polícia em comunicado.
A Austrália reativou, em 2012, a sua controversa política para a tramitação em terceiros países dos pedidos de migrantes que viajam para o seu território em busca de asilo e acordou a abertura de centros de detenção na Papua Nova Guiné e em Nauru.
A ONU e grupos de defesa dos direitos humanos têm criticado estes centros de detenção, qualificando de desumanas as precárias condições em que vivem os migrantes e os abusos de que são alvo.
Muitos dos detidos nos centros de Manus e Nauru fugiram de conflitos como os do Afeganistão, Darfur, Somália ou Síria, sendo que outros procuraram escapar à discriminação ou à condição de apátridas, como as minorias rohingya, da Birmânia, ou bidun, da região do Golfo.
Os migrantes, na sua maioria considerados refugiados, foram transferidos para Manus e Nauru depois de terem sido intercetados pelas autoridades da Austrália quando tentavam alcançar de barco a costa daquele país que se nega a acolhê-los.