Os telemóveis tornaram-se smart (espertos), transformaram-se em câmaras fotográficas, são mais rápidos do que muitos computadores portáteis e o valor ficou a condizer. O novo Mate 10 Pro, da Huawei, tem um preço recomendado de 880 euros em Portugal, mas — segundo a Huawei — compensa: “tem as capacidades de inteligência artificial mais avançadas de sempre”. Depois de termos estado durante três semanas a experimentá-lo, concluímos que o telefone não nos tirou o emprego nem mostrou vontade de dominar o mundo, mas que a câmara consegue reconhecer (quase sempre) um gato, um cão, um prato de comida e uma pessoa.

Huawei Mate 10 Pro

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A favor

  • Bateria
  • Qualidade das câmaras fotográficas
  • Memória interna
  • Performance do sistema

Contra

  • Ausência de modo de duplo toque no ecrã para desbloquear
  • Falta de carregamento sem fios
  • Preço

 

A inteligência artificial pode ser o mote que a Huawei utiliza para vender este smartphone, mas com seis gigabytes de memória RAM, mínimo de 128 gigabytes de memórias interna (máximo 256gb) e uma bateria de quatro mil milimampères-hora (mAh) que nos durou até dois dias de utilização intensiva, há muito mais neste telemóvel para justificar o valor. Com 15,4 centímetros de comprimento e um ecrã de 6 polegadas, o Mate 10 Pro já é considerado um phablet (um smartphone que tem um comprimento entre um telemóvel e o tablet), mas é mais do que isso: é uma mistura entre um telemóvel e um portátil. Uma das novidades, à semelhança dos topos de gama da rival Samsung, é que podemos ligá-lo a um ecrã — com um adaptador que não vem com o telefone — e utilizá-lo em modo desktop.

Este Huawei mostra que a empresa chinesa consegue competir no campeonato dos melhores smartphones disponíveis no mercado. O Mate 10 Pro consegue ser mais barato e estar ao nível de um Samsung Galaxy Note 8 ou de um iPhone X. Não tem canetas digitais ou um design que chama à atenção de qualquer um. Fica-se por ser um telemóvel muito potente que faz o trabalho que atualmente compete a um smartphone, ou seja, fazer um pouco de tudo (e bem feito). No entanto, não é livre de defeitos.

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O irritante: Huawei, os detalhes fariam a perfeição

A Huawei, como a Google e a Apple, entrou na onda wireless e dispensou as entradas de auriculares convencionais com fios. Apesar de os problemas de emparelhamento que tivemos com o Mate 10 Pro terem sido ocasionais, o facto é que existiram. Podemos culpar os auriculares Bluetooth que utilizámos, mas continuamos a achar que para um smartphone deste valor, ainda não é altura de largar uma funcionalidade que é útil. Para compensar, a Huawei inclui na caixa deste telemóvel uns phones com entrada de USB-C, mas não é o suficiente.

Então isso quer dizer que é possível ouvir música ao mesmo tempo que se carrega o smartphone numa base sem fios? Queriam isso por um telemóvel de 880 euros, não era? Pelos vistos, o futuro é wireless para umas coisas, mas para outras não é. O Mate 10 Pro pode vir com um carregador Super Charge (é mais rápido ainda que o Fast Charge), mas carregar sem fios é uma opção que foi descartada para este telefone. A sério Huawei, até a Apple já faz isso. É um detalhe, mas que começa a ser bastante útil e que ajudava a compensar a lacuna da entrada dos phones.

A coisa que provavelmente mais nos chateou teve a ver com a forma como se desbloqueia o smartphone: não há duplo toque para acordar o ecrã. Se tivermos o telemóvel em cima da mesa e quisermos desbloqueá-lo sem muitos complicações, a única forma é pegar no telefone e carregar no botão lateral ou pôr o dedo no sensor de impressões digitais traseiro que, com esta falha, mostra-se o pior local para se ter o sensor.

Este é um telemóvel que reconhece os nós dos dedos para fazer uma captura de ecrã ou dividir o visor a meio (a sério, são duas das funcionalidades do modo “knuckles gestures” e até são úteis). Se calhar estamos mal habituados com o que andamos a testar ou a pedir de mais do topo de gama da segunda maior vendedora de telemóveis do mundo (à frente, só a Samsung), mas para desbloquear este modelo devia ser necessário algo simples, como bater no ecrã duas vezes com o dedo. Num smartphone cujo fabricante teve a preocupação de ter um sensor infravermelho (sim, o smartphone funciona até como um comando para qualquer televisão), é uma falha incompreensível.

O cativante: como é que a bateria aguenta tanto tempo?

Quando o que temos a apontar ao Mate 10 Pro é o facto de este telemóvel não ter carregamento sem fios, ausência de duplo toque e a já habitual pergunta “onde é que está a entrada dos phones?” (é uma batalha que continuaremos a travar), é sinal de que o resto é mesmo muito bom. Verdade seja dita, o Huawei Mate 10 Pro não põe os seus colegas de trabalho a ficarem pasmados com coisas como animojis ou um ecrã de canto a canto, mas ser discreto não pode ser também uma virtude?

O design é sóbrio e o único defeito que encontrámos na edição dourada que testámos foi o facto de termos tido de a tapar com uma capa para proteção. Com 178 gramas não é um telefone leve, mas para o tamanho que tem é o peso adequado. Na mão, é realmente um telemóvel grande, mas se estiver a ver vídeos ou a jogar um jogo no ecrã AMOLED de 6 polegadas o que fica difícil é voltar a usar telemóveis com visores pequenos. A qualidade de construção do aparelho também não deixa nada a desejar. Mesmo sem atirar o telemóvel ao chão, é possível ver que não se parte à primeira queda. Além disso, é resistente à água e a poeira.

A coluna que está no fundo lateral inferior direito podia ter melhor qualidade de som, mas cumpriu as expetativas (nada voltará a ser como dantes depois de termos ouvido o som das colunas do iPhone X). Já o sensor de impressão digitais, deixou-nos surpreendidos: não falhou uma única vez e é bastante rápido a reconhecer os dedos.

Quanto ao sistema operativo, o EMUI 8.0 (a versão da Huawei do Android Oreo) pode criar alguma aversão no início, porque é pouco intuitivo. Contudo, quando estamos a utilizá-lo percebemos que a Huawei já amadureceu o suficiente para ter versões próprias. Durou duas semanas, mas acabámos por nos adaptar bem. Não poder apagar algumas aplicações de origem — o blootware — continua a incomodar, mas a Huawei melhorou também nesse ramo (contámos e percebemos que não podíamos desinstalar 12, mas a poder fazê-lo, só desinstalávamos duas).

É na câmara fotográfica que a Huawei mostra descaradamente a forma como utiliza a inteligência artificial e o processador Kirin 970 – algo que nos teria passado despercebido se na apresentação não nos tivessem avisado que era possível reconhecer imagens com ícones. Quando apontamos a dupla câmara traseiro do Mate 10 Pro a uma pessoa, um cão, uma flor ou um prato de comida, aparece o ícone correspondente à imagem e a câmara foca adequadamente. Não funciona sempre, mas fê-lo na maioria das vezes.

Apesar de ser um pormenor, mostra a força da inteligência artificial que está incluída no telefone (mesmo sem ligação à Internet, acertou num ícone de um cão ao apontarmos para um cão). Escusado será dizer que tanto a dupla câmara traseira como a frontal permitem, graças a esta tecnologia, fotografias com uma qualidade superior. Apesar de não ter tantos modos de imagem e de ser mais complexa de utilizar do que a câmara do iPhone 8 e o iPhone X, o Mate 10 Pro consegue substituir muitas câmaras fotográficas à venda no mercado.

À esquerda um printscreen do ecrã ao apontarmos a câmara a um golden retriever, no canto inferior esquerdo vê-se o ícone de um cão. À direita a apontarmos a um prato de comida, no canto inferior esquerdo aparece um ícone com um garfo e uma faca que significa comida.

Mesmo com o smarphone a reconhecer como comida o arroz de dois dias que levámos para o almoço, o que mais nos cativou foi a bateria. Além de carregar completamente em menos de uma hora, graças ao carregador com Super Charge (que vem incluído), por mais que usássemos o smartphone para jogar, abrir outras aplicações e tirar fotografias, não houve dia em que saíssemos da redação com menos de 60%. Com utilização regular, aguentou nos testes que fizemos durante cerca de 30 horas sem precisar de ser carregado (ficou com 15% de bateria depois deste teste). Temos visto os smartphones a melhorarem bastante neste campo, mas o Mate 10 Pro arrasa a concorrência no que toca a bateria.

Veredicto final: um dos mais potentes

O Huawei Mate 10 Pro é, sem sobra de dúvidas, um dos smartphones mais potentes do mercado. A nota mais justa seria quatro estrelas e meia, mas como temos de escolher entre quatro e cinco estrelas, seria injusto arredondar tão para baixo. Podemos perdoar o carregamento sem fios com o facto de ter um carregador Super Charge, mas a ausência da opção de desbloqueio com duplo toque num telemóvel com tantas características não se compreende e esperamos que a Huawei resolva este aspeto numa futura atualização. Tirando estes pormenores (que se mostraram importantes ao testá-lo), foi dos aparelhos mais completos que nos passou pelas mãos. O preço é (bastante) elevado, mas é exemplo de um mercado de telemóveis que têm baterias feitas para durar bem mais de um dia e que se transformam em computadores quando estão ligados a ecrãs.

A inteligência artificial, além de saber distinguir um gato de uma pessoa, parece fazer sobretudo um trabalho de bastidores que torna o smartphone rápido e eficiente. Pode não trazer animojis nem reconhecimento facial, mas o Mate 10 Pro é uma máquina que mostra que a Huawei não se quer ficar pelo segundo lugar das empresas com mais telemóveis vendidos no mundo.