Nuno Branco, diretor da Raríssimas, disse, esta quarta-feira, que a direção está a ponderar demitir-se na sequência da polémica em torno das alegadas irregularidades na gestão financeira da instituição pela ex-presidente da Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, Paula Brito e Costa.

“Confesso que estou divido entre aquilo que é o coração e a razão”, começou por responder o dirigente da instituição quando questionado sobre a eventual demissão da atual direção, para logo acrescentar que essa é “provavelmente” a decisão que será tomada: “É isso que estamos a ponderar. Provavelmente sim”. Mas sublinhou que gostaria de fazê-lo “em uníssono” com os colegas, uma vez que se trata de um órgão colegial.

Nuno Branco, que falava aos jornalistas depois de uma visita de dois inspetores da Segurança Social, esta quarta-feira à tarde à Casa dos Marcos, na Moita, mostrou-se “preocupado com o futuro da Raríssimas”.

“Sinceramente, temo pelos mais de 300 utentes, pelos cerca de 195 funcionários que temos, pela imagem da instituição, por todo o trabalho meritório que tem sido feito ao longo de 15 anos e que é posto em causa em 15 dias”, admitiu o dirigente.

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“Tudo o que foi feito até hoje nos pareceu que foi feito com legalidade e correção”

Foi a primeira vez, desde que rebentou a polémica em torno da Raríssimas e da sua ex-presidente que alguém da associação fala. Nuno Branco explicou que esperou “pela tomada de posição por parte da presidente”.

Confrontado com as alegadas irregularidades denunciadas pela reportagem da TVI — e que já levaram Paula Brito e Costa a demitir-se da presidência da associação que a própria criou e também o secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado a sair do Governo — o agora tesoureiro da instituição e membro da direção garantiu que não conhecia de perto as situações retratadas.

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“Há da parte de todos os elementos da direção um pressuposto de que as coisas foram todas feitas na legalidade. Quando uma presidente nos diz que tem uma determinada despesa em serviço, quando uma vice-presidente nos diz que tem uma determinada despesa em serviço, quando temos um tesoureiro que nos assegura e traça esses procedimentos, é claro que a demais direção não vai estar a colocar em causa. Tudo o que foi feito até hoje nos pareceu que foi feito com legalidade e correção.”

Mesmo decisões que eram tomadas pela Raríssimas, muitas vezes, partiam da ex-presidente e da ex-vice-presidente Joaquina Teixeira (que bateu com a porta há uns meses) e “os restantes membros acabavam por acompanhar a visão estratégica destas pessoas”, justificou Nuno Branco sem fazer “julgamentos como os que têm sido feitos”.

“O tipo de gastos pode ser crime. Eu não sou um especialista em contas. Espero que quem o seja faça as devidas averiguações.”

Quanto ao marido e ao filho de Paula Brito e Cunha, que permanecem na instituição e hoje mesmo se apresentaram ao trabalho, o dirigente defende que haja “bom senso de parte a parte”. “Neste momento terão de ser extrapoladas consequências de tudo o que tem acontecido e espero que, para bem da instituição, se encontre a melhor solução”. “Sendo trabalhadores será de todo conveniente que se calhar sejam afastados no âmbito de um processo disciplinar. Mas existem procedimentos.”

“Não é de todo o modelo de liderança que preconizo”

Questionado sobre as imagens que passaram na reportagem da TVI e que mostram uma Paula Brito e Costa autoritária, Nuno Branco referiu que “ter mau feitio não é crime”, mas afastou-se daquele “modelo de liderança”. “Tive imensas querelas com a senhora presidente sobre estilos de liderança”, revelou aos jornalistas à porta da Casa dos Marcos.

Em concreto sobre a expressão “herdeiro da parada” — que Paula Brito e Costa usou para se referir ao filho —, o dirigente referiu que “era algo que poderia sentir”, mas que “expressá-lo daquela maneira é incorreto”.

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