Na origem da Fair Bazaar, que acaba de abrir uma loja no Príncipe Real, em Lisboa, esteve uma única pergunta simples: “De onde é que vêm as coisas que compramos?”. Enquanto se debatiam com as possíveis respostas, Joana Cunha e Patricia Imbarus esbarraram num documentário chamado The True Cost, um banho de realidade para a sociedade de consumo ocidental, uma hora e meia de filme sobre as agravantes ambientais e injustiças sociais que resultam da produção têxtil em todo o mundo. “Depois de ver o documentário, estive um ano sem comprar quase nada”, conta Patricia, empreendedora romena a viver em Portugal há cinco anos.

Depois de começarem a procurar alternativas à produção em massa, as duas amigas não conseguiram parar. Durante um ano e meio chegaram a uma lista com cerca de 700 marcas, designers e artesãos de toda a Europa, uma base de dados demasiado valiosa para ficar só para elas. “Há um gap no mercado. Quem começa a querer consumir este tipo de produtos tem muita dificuldade em encontrá-los. Para as marcas, também é difícil investir em estratégias de marketing e de comunicação eficientes e chegar às pessoas”, afirma Patricia.

À venda na Fair Bazaar, esta mochila da marca espanhola Lefrik é feita a partir de garrafas de plástico. Custa 39,99€ © Divulgação

Mais do que uma loja, a Fair Bazaar nasceu para ser uma comunidade de marcas e autores que partilham os mesmos valores, se bem que, no Príncipe Real, a primeira concretização do projeto não está nada mal. Em Lisboa, as duas mentoras quiseram criar uma montra do que será o marketplace online, com lançamento previsto para janeiro ou fevereiro do próximo ano, e encontraram o espaço ideal numa das salas da Embaixada. O pé-direito alto e as portadas de madeira servem de cenário às mais de 15 marcas de moda, decoração e cosmética que a Fair Bazaar trouxe para a sua primeira loja física. Os produtos portugueses estão em maioria.

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“Para comprarem, as pessoas têm de gostar do design”, admite Patricia. Nesta área, ainda há umas quantas coisas a provar, sobretudo no que toca à moda, onde as roupas e acessórios continuam a ser conotados com um estilo hippie, relaxado, cheio de cores e peças recicladas. A seleção começou por tentar mudar esse estigma. Na loja, há peças com toque e design absolutamente normal, a diferença está mesmo na forma como são feitas. Um dos casos mais curiosos é o das mochilas da Lefrik. A marca é espanhola e compõe os seus materiais a partir de garrafas de plástico recicladas. As escovas de dentes biodegradáveis da The Humble Co também vieram, bem como os sapatos vegan da portuguesa MDMA.

Para classificar cada marca e produtor, a Fair Bazaar criou oito selos: Artesanal, Reciclagem, Comércio justo, Orgânico, Vegan, Desperdício zero, Pequena escala e Ecológico. As duas mentoras querem continuar a certificar todos os projetos, quem sabe construir um inventário que possa servir de referência internacional. No que toca à certificação, Patricia refere que os selos oficiais são incomportáveis para muitas destas pequenas estruturas e que esta pode também ser uma forma de reconhecê-las.

Os planos para o futuro vão muito além da plataforma online. A Fair Bazaar quer começar a realizar eventos de sensibilização de dois em dois meses em vários pontos da Europa, mas também lançar uma revista própria dedicada a conteúdos de moda, economia, cultura e lifestyle. Atualmente, Joana e Patricia trabalham apoiadas pela Starup Lisboa e pelo Instituto do Empreendedorismo Social. Durante um ano, a Fair Bazaar está a ser financiada por uma bolsa do IAPMEI num valor total de 20 000€.

Outros dos produtos à venda na Fair Bazaar são as escovas de dentes biodegradáveis The Humble Co. Custam 4,50€ © Divulgação

Mas será que as pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos ambientalmente sustentáveis, socialmente mais justos e mais transparente nos seus processos de produção? Em três semanas com a loja aberta, o balanço é positivo, embora os clientes que entram e compram sejam maioritariamente estrangeiros, sobretudo do norte da Europa. Para as duas sócias, é essencial contar uma história sobre cada produto. Por outro lado, mesmo parecendo mau para o negócio, comprar mais caro pode muito bem ser um incentivo para comprar menos. Já que a indústria e a sociedade pecam por excesso, talvez até dê jeito.

Nome: Fair Bazaar
Morada: Praça do Príncipe Real, 26, 1º andar, Lisboa (Embaixada)
Telefone: 93 244 3022
Horário: De segunda a domingo das 12h às 20h