Há quase dois anos que a Coreia do Sul ligava para a Coreia do Norte de segunda a sexta-feira, duas vezes por dia, entre as nove da manhã e as quatro da tarde. A última vez que os dois países conversaram foi em fevereiro de 2016, quando o presidente da Coreia do Sul anunciou que ia suspender operações no Complexo Industrial de Kaesong, um parque empresarial que empregava cidadãos das duas Coreias. Pyongyang tinha lançado um satélite para o espaço que podia ser o primeiro passo para uma ação balística do país do norte.

Depois disso, o silêncio total por parte de Kim Jong-un ilustrava bem as relações tensas entre a Coreia do Norte e do Sul. Esta quarta-feira, no entanto, fez-se história: pela primeira vez em dois anos, a Coreia do Norte estabeleceu comunicação telefónica com a Coreia do Sul. Os dois países falaram durante vinte minutos e a chamada terminou com um “por hoje chega” norte-coreano, conta a CNN.

Eram três e meia da tarde na Coreia do Sul, menos meia hora na Coreia do Norte, quando o telefone tocou em Panmujom, uma vila desabitada a 80 km da fronteira entre as duas Coreias que pertence à zona desmilitarizada da península. É um telefone grande, ligado a um computador com o Windows XP como sistema operativo e a típica imagem de um monte verdejante debaixo de um céu azul no ambiente de trabalho, mostram as imagens.

Por cima do ecrã de computador estão dois relógios analógicos, um com a hora sul-coreana e outro com a hora norte-coreana. Há três entradas USB, dois leitores de DVD e um aparelho de fax. De um lado da máquina, montada em 1971, está um aparelho telefónico vermelho onde está escrito “norte” através do qual a Coreia do Sul liga a Kim Jong-un; e do outro lado está um aparelho verde que recebe as chamadas vindas do outro lado da fronteira. Assim que o telefone tocou, uma mensagem apareceu no ecrã do computador. Dizia: “Chamada Direta Sul-Norte”.

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A Coreia do Sul atendeu. Ninguém sabe muito bem onde, porque a localização exata dos dois telefones coreanos é desconhecida, embora se saiba que estão a menos de 100 metros um do outro e que há 33 linhas de comunicação em Panmujom. Do lado norte-coreano da linha estava Kim Jong-un e do lado sul-coreano estava o presidente Moon Jae-in, diz a Bloomberg.

A chamada durou 20 minutos: de acordo com Ri Son-gwon, chefe da comissão para a reunificação pacífica da Coreia, o líder da Coreia do Norte “tinha saudado” o apoio do Sul à sua proposta. E, em resposta, Moon Jae-in reforçou o convite feito a Kim Jong-un para os dois se encontrarem a 9 de janeiro na fronteira, no mesmo sítio onde foi assinado o armistício da Guerra da Coreia em 1953, pondo fim a três anos de conflito armado.

Houve ainda uma segunda chamada, que aconteceu às seis horas e sete minutos da tarde na Coreia do Sul, explica a BBC. Esperava-se que Kim Jong-un fosse direto ao assunto desta vez e negociasse com o Sul uma representação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de inverno. Mas, segundo o ministro da Unificação sul-coreano, o líder da Coreia do Norte não falou de atletas norte-coreanos a competir: “Esse assunto não deve ter sido referido. Os dois limitaram-se a testar aspetos técnicos da comunicação”, limitou-se a responder. Pouco depois, a conversa acabava: “Por hoje chega”, disse a Coreia do Norte.