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A placa africana está a rachar o país e mais uma dúzia de dúvidas sobre sismos

Este artigo tem mais de 5 anos

A falha de Arraiolos era desconhecida dos cientistas. Poderão existir outras provocadas pela pressão da placa africana, mas o número de sismos não parece estar a aumentar.

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Getty Images/iStockphoto

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O sismo de Arraiolos, sentido esta segunda-feira, foi uma surpresa. Não só porque não se pode prever um sismo, como porque este é o maior sismo originado em terra nos últimos anos, mas sobretudo porque esta falha não era conhecida.

Não existem evidências de que os sismos em Portugal estejam a aumentar de frequência, mas a pressão que a placa africana está a exercer sobre a microplaca ibérica onde está instalado o nosso país pode fazer com que apareçam mais falhas, ocorram mais sismos e que estes tenham uma magnitude maior.

Embora os sismos em terra não tragam consigo o problema dos tsunamis, Portugal não está livre de perigo de ser atingido por um maremoto. Estarão as autoridades de proteção civil preparadas para um sismo que ocorra em terra ou no mar? E os edifícios serão capazes de resistir a um grande sismo? Descubra as respostas para estas e outras perguntas sobre sismos.

Porque é que ocorreu um sismo em Arraiolos?

Porque há uma rutura na crosta terrestre que passa mesmo por baixo da aldeia de Santana do Campo, em Arraiolos, e que libertou a energia que havia acumulado nos últimos anos. O que é curioso é que não conhecemos a falha existe naquela região: é provável que esta ruptura seja o resultado de forças compressoras exercidas pela placa africana na zona da placa euroasiática onde Portugal fica assente.

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Vamos por partes. Em termos sísmicos, Portugal está condicionado pela interação entre três placas tectónicas, peças que compõem a litosfera da Terra e que se movimentam entre si: a euroasiática, a norte-americana e a africana. A placa euroasiática e a placa norte-americana estão a afastar-se uma na outra, num movimento de divergência que é responsável pela intensa atividade sísmica registada nos arquipélago dos Açores.

Mas, para entender o que aconteceu em Arraiolos, devemos concentrar-nos na placa euroasiática e na placa africana, que roçam uma na outra num limite a que os geólogos chamam transformante porque não destrói nem cria nova crosta terrestre. Ora, Portugal fica assente numa região muito particular da placa euroasiática: é a microplaca ibérica, que se movimenta para leste e se vai soldando à placa asiática. Essa microplaca, no entanto, é influenciada pela placa africana, que se está a mexer para noroeste. À medida que a placa africana se mexe, ela comprime a microplaca ibérica e cria as chamadas falhas intraplaca. É esta interação de compressão que está na origem da Cordilheira Bética, um conjunto de sistemas montanhosos com 600 quilómetros que rasga o sul da Península Ibérica desde o estreito de Gibraltar até Cabo da Nau (Alicante).

À medida que a placa africana vai investindo sobre a microplaca ibérica, Portugal Continental fica à mercê de cada vez mais falhas tectónicas que testemunham essas forças de compressão: a microplaca sofre um levantamento litosférica e racha-se em falhas onde se acumula muita energia. O que Pedro Proença Cunha, geólogo da Universidade de Coimbra, explicou ao Observador é que, nos últimos milhares de anos, essa compressão tem aumentado cada vez mais. Isso resulta no aparecimento de mais falhas no país, que acumulam mais energia. E mais energia, neste caso, traduz-se não só num maior número de sismos como também na existência de sismos com maior magnitude.

Apesar de o Alentejo ser uma zona portuguesa de perigosidade sísmica conhecida — a atividade sísmica nesta região é comum –, os geólogos não conheciam bem a falha que passa mesmo por baixo desta aldeia. Supõe-se então que esta seja uma das falhas desconhecidas e pouco estudadas que tenham nascido desta compressão exercida pela placa africana na microplaca ibérica.

[Veja no vídeo o que se sabe sobre estes violentos choques que estão a rachar Portugal]

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Qual o risco de sismo e tsunami em Portugal?

Na Europa, a maior probabilidade de ocorrência de sismo está nos países juntos ao mar Mediterrâneo, como a Grécia, a Turquia e a Itália. Comparado com a Europa, Portugal apresenta risco moderado, mas requer uma especial atenção no sul e sudoeste do país. A probabilidade de ocorrer um sismo em Portugal é grande por causa das falhas sísmicas que existem no país.

O arquipélago dos Açores é especialmente sacudido por terramotos porque fica muito próximo do limite entre duas placas tectónicas divergentes, ou seja, que se afastam uma da outra: a norte-americana e a euroasiática. Isso não se verifica no arquipélago da Madeira porque se encontra dentro da placa africana, longe do limite entre essas duas placas.

Identificação das zonas mais (a vermelho) ou menos (a azul) afetadas em caso de sismo. Em cima, para sismos que aconteçam dentro da placa continental, como os que tenham origem nas falhas do Vale do Tejo, e, em baixo, para um sismo que tenha origem na falha entre as duas placas tectónicas – Ravara et al. (2001) SPES e Gecorpa

Em Portugal Continental, a origem dos sismos é diferente da dos arquipélagos portugueses: neste caso, a culpa é das falhas tectónicas abertas dentro da microplaca ibérica à conta das pressões exercidas nela pela placa africana, explica ao Observador o geólogo Pedro Proença Cunha. A microplaca ibérica movimenta-se para leste, ao mesmo tempo que é empurrada e levantada pela placa africana, que se movimenta para noroeste. Essa pressão exercida pela placa africana na microplaca ibérica, onde fica Portugal, provoca as falhas existentes na crosta.

Segundo o geólogo da Universidade de Coimbra, a placa africana tem exercido cada vez mais compressão sobre a microplaca ibérica. Isso tem provocado a abertura de mais falhas em Portugal Continental e, consequentemente, mais sismos e com maior magnitude nos últimos milhares de anos.

Se Lisboa abanar, cai como Amatrice?

Mas não são só as falhas no interior do país que motivam as preocupações. O banco de Gorringe, um maciço montanhoso submerso ao largo do cabo de Sagres, tem sido o epicentro dos sismos mais violentos ocorridos em Portugal e norte de África — como os casos dos sismos de 1755 e o de 1969. Mais uma vez, esta formação geológica foi criada pela convergência da placa africana com a microplaca ibérica.

Caso um sismo tenha origem no mar, como um sismo originado no limite entre a placa euroasiática e a placa africana (que roçam uma na outra), “é muito provável” que este provoque um tsunami que atingirá Portugal, considera Pedro Proença Cunha. Foi o que aconteceu no terramoto de 1755: o epicentro desse sismo foi no banco de Gorringe, por isso a água foi movimentada desde esse ponto em ondas horizontais até chegar à costa de Portugal Continental.

[Veja no vídeo a história de um sismo como não havia há 20 anos]

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A frequência de sismos de grande dimensão está a aumentar?

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera diz que “é pouco provável” que o número de sismos esteja a aumentar, até porque a média anual de ocorrências sísmicas mais significativas à escala global entre 2007 e 2011 foi a mesma que a registada desde 1900. “O que aumentou consideravelmente nas últimas dezenas de anos foi a capacidade técnica de deteção sísmica e o número de equipamentos sísmicos instalados no mundo inteiro”, explicam os geólogos.

No entanto, um estudo publicado o ano passado sugeria que 2018 poderia ser especialmente marcado por sismos de grande magnitude porque a velocidade de rotação do planeta Terra está a diminuir. Os cientistas investigaram a incidência de sismos de magnitude igual ou superior a 7 na escala de Richter desde 1900 até agora e verificaram que havia, em média, 15 terramotos com essas magnitudes num ano, mas que esse valor tem aumentado para entre 25 e 30 terramotos. Esse aumento, concluíram os geólogos, coincide com momentos em que a Terra trava — isto é, quando a velocidade de rotação diminui.

A Terra está a travar. Será que isso vai provocar mais sismos?

Contudo, este trabalho já recebeu críticas da comunidade científica. Existem outros fenómenos que podem explicar este aglomerado de sismos que parece ocorrer de tempos a tempos, como as alterações nas correntes oceânicas, os movimentos no manto do planeta ou a transferência de momento linear (aquilo a que normalmente chamamos de balanço) do núcleo para a litosfera da Terra. Além disso, o período de 117 anos que foi alvo de estudo é muito curto para um planeta dinâmico com mais de quatro mil milhões de anos.

As infraestruturas em Portugal têm capacidade para resistir a sismos de grandes dimensões?

Ainda que a perigosidade sísmica cresça à medida que vamos de norte para sul, o nível de preparação dos edifícios para resistir aos sismos são equivalentes, disse ao Observador Daniel Oliveira, professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho. “Devemos, por isso, concentrar os nossos esforços onde a perigosidade é mais alta e onde existem mais pessoas, como a Área Metropolitana de Lisboa, o Vale Inferior do Tejo e o Algarve.”

Existe, desde 1958, uma legislação que prevê a resistência antissísmica dos edifícios. Primeiro problema: esta legislação aplica-se apenas aos edifícios construídos depois desta data. Segundo problema: levou algum tempo — uma ou duas dezenas de anos, segundo Daniel Oliveira — até que os projetos de construção passassem a contemplar a resistência antissísmica. Terceiro problema: “O regulamento é bom, mas falta a verificação. Não há garantias que o projeto — ainda que tenha previsto a resistência antissísmica — seja respeitado”, disse o engenheiro civil. Conclusão: não se sabe, de forma geral, que capacidade tem o edificado nacional para resistir a um terramoto de grandes dimensões.

Para Lisboa, e sendo esta uma área de elevado risco, existe uma avaliação de risco sísmico feita em 2010 pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Esta avaliação, coordenada por Alfredo Campos Costa, chefe do Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas, teve em consideração a densidade populacional, os materiais de construção e o tipo de solos.

Arroios seria a zona mais afetada com perdas económicas por ser uma das zonas com maior perigosidade, maior exposição e maior incidência de edifícios com materiais vulneráveis. Já o impacto humano de um terramoto que atingisse Lisboa seria particularmente grave no centro da cidade. O estudo prevê que as Avenidas Novas, Arroios, Anjos, Penha de França e São João de Deus sejam as zonas com o maior número de vítimas mortais.

Conhecido o risco sísmico, caberia ao Estado tornar as cidades mais resilientes. “É difícil convencer o poder político a gastar dinheiro durante 20 ou 30 anos na prevenção de risco sísmico, quando os ciclos políticos são de quatro anos”, lamentou Daniel Oliveira. Para o engenheiro civil é preciso que a sociedade civil entenda isto como um problema e que pressione o poder político. Porque não existem dúvidas que um sismo equivalente ao de 1755 vai voltar a acontecer. Só não se sabe quando.

Qual é a diferença entre risco e perigosidade sísmica?

O risco sísmico é uma medida que tenta prever a destruição das infraestrutura e o número de perdas humanas provocados por um sismo num determinado local. É diferente da perigosidade sísmica, uma medida que determina a probabilidade de ocorrer um sismo — e que magnitude pode ter — nesse mesmo local.

Vamos aos exemplos. De acordo com João Cabral, geólogo do Instituto D. Luís, o centro e sul do país são regiões com perigosidade sísmica moderada porque, por ser rasgada por muitas falhas tectónicas, é mais provável que seja sacudida por sismos com magnitude considerável do que o norte do país. Mas o risco sísmico em Lisboa é mais elevado porque, se ocorrer um terramoto na capital, há mais infraestruturas passíveis de serem destruídas e mais vidas humanas em perigo. No Alentejo, por exemplo, a perigosidade sísmica é semelhante à que existe em Lisboa, mas por ter menos infraestruturas e uma densidade populacional mais pequena, o risco sísmico é mais baixo.

A mesma lógica aplica-se ao caso do Algarve, onde a perigosidade sísmica é sempre a mesma, mas onde o risco sísmico tende a aumentar no verão. Isso acontece porque é nessa época do ano que o sul de Portugal é mais procurado, portanto há mais pessoas em risco caso haja um sismo considerável nessa região.

Existe um plano de emergência no caso de um grande sismo em Lisboa?

A Autoridade Nacional de Proteção Civil tem preparado um Plano Especial de Emergência de Proteção Civil para o Risco Sísmico na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e Concelhos Limítrofes que define a atuação das várias entidades de proteção civil envolvidas. O plano será ativado caso se verifique um evento sísmico com uma magnitude igual ou superior a 6,1 na escala de Richter e com epicentro na AML ou caso o evento sísmico tenha intensidade máxima igual ou superior a VIII na escala de Mercalli, mesmo que o epicentro não seja na AML.

O plano de emergência prevê a convocação de 56 agentes distintos, como corpos de Bombeiros, GNR, PSP, Forças Armadas, INEM, mas também o Instituto de Medicina Legal, a Cruz Vermelha e ainda instituições como as organizações de escuteiros, empresas de telecomunicações e organizações não-governamentais diversas. A atuação de cada um destes agentes está apresentada detalhadamente.

Qual é o plano especial da Proteção Civil para um grande sismo em Lisboa?

A primeira linha é formada pelas Equipas de Reconhecimento e Avaliação da Situação, com o objetivo de percorrer a zona afetada, recolher informação e passá-la de imediato ao posto de comando. Ao mesmo tempo, são enviadas Equipas de Avaliação Técnica, compostas por especialistas em infraestruturas, que recolhem informação sobre os edifícios danificados, as redes de comunicação afetadas e as condições de segurança no local.

Depois são enviadas para o terreno os Grupos Sanitários e de Apoio, que tratam do primeiro socorro às vítimas prestando cuidados médicos básicos e dando início à retirada dos feridos e dos mortos dos locais, com recurso a ambulâncias. Ao mesmo tempo, chegam ao local os Grupos Logísticos de Reforço, responsáveis pelo abastecimento de água, e as Companhias Nacionais de Intervenções em Sismos — estas equipas incluem especialistas em socorro e salvamento, combate a incêndios e evacuações.

É possível prever a ocorrência de um sismo?

Não. Os cientistas ainda não encontraram uma forma de saber com antecedência onde e quando é que um sismo vai ocorrer. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, “não são reconhecidas variações de parâmetros simples ou conjuntos de parâmetros que permitam, por si só, estabelecer com certeza uma previsão de quando, onde e com que magnitude vão ocorrer sismos”.

No entanto, os cientistas têm tentado perceber quais os períodos de retorno dos principais sismos associadas às falhas mais ativas. O que fazem é olhar para trás e estudar se existe alguma periodicidade nos sismos mais preocupantes — isto é, de maior magnitude ou mais destrutivos. O problema é que ainda não chegaram a conclusões definitivas: “Ainda é virtualmente impossível saber quando é que uma estrutura sísmica vai libertar de forma brusca a sua energia sísmica potencial”, explica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

O que é um sismo?

Sismo, terramoto ou tremor de terra — escolha o nome, mas o fenómeno é o mesmo —, é uma libertação súbita na energia acumulada na crosta terrestre, a camada mais exterior do planeta. Esta energia é libertada sob a forma de ondas sísmicas, provocando movimentos vibratórios no solo, que podem ser sentidos pelas pessoas e animais e repercutidos pelas estruturas criadas pelo homem.

Os sismos ocorrem na crosta terrestre, a camada mais exterior do planeta que tem entre cinco a 70 quilómetros de espessura. Créditos: Public Domain/Wikimedia Commons

Há três tipos de ondas sísmicas: as ondas P, ou primárias; as ondas S, ou secundárias; e as ondas superficiais. As ondas P funcionam como uma onda que atravessa uma mola e são as mais rápidas, conseguindo propagar-se tanto em meio sólido como em meio líquido. As ondas S funcionam como a corda de uma guitarra a vibrar, só se propagam em meios sólidos e são mais lentas que as ondas P. Por fim, as ondas superficiais são as que causam os estragos durante um terramoto porque viajam em pequenas profundidades. Por serem mais velozes, as ondas P são também as primeiras a serem detetadas pelos sismógrafos.

O sismógrafo é um aparelho que detecta os movimentos do solo, incluindo os movimentos provocados pelas ondas sísmicas, mas também as vibrações provocadas por uma explosão, por exemplo. Estas vibrações são registadas num sismograma. Quando ligados em rede, os sismógrafos permitem determinar o hipocentro — local exato de origem do sismo no interior da Terra —, o epicentro — ponto, na superfície terrestre, mais próximo do hipocentro — e a energia libertada pelo sismo.

O que pode provocar um sismo de causas naturais?

A crosta terrestre é composta por várias peças, as placas tectónicas, que se encaixam como um puzzle imperfeito: algumas peças sobrepõem-se, outras fazem fricção nos pontos de contacto. E quando as peças se roçam, chocam ou afastam, pode ocorrer um sismo, formar-se uma cordilheira ou ocorrer a erupção de um vulcão. Os limites entre as placas chamam-se assim transformante (quando roçam), convergentes (quando chocam) ou divergentes (quando se afastam).

As placas tectónicas movem-se porque não estão assentes sobre uma superfície rígida. Por baixo da crosta terrestre está o manto, uma camada de rochas em fusão devido à pressão e temperatura altas. São os movimentos do magma que provocam movimento das placas tectónicas, da mesma forma que o agitar da água de uma piscina faz oscilar os colchões insufláveis à superfície.

O magma está quente, mas a camada mais interior está ainda mais quente, num sistema semelhante a uma panela de água ao lume. À medida que o lume vai aquecendo a água que está mais em baixo esta vai subindo, empurrando a água mais fria que está em cima para baixo. Estes movimentos circulares — correntes de convecção — fazem com que todo o líquido fique aquecido. No caso do manto, estas correntes de convecção também provocam a movimentação das placas tectónicas.

A diferença entre as camadas mais quentes e as camadas mais frias cria as células de convecção. Créditos: Amotoki/Wikimedia Commons

A crosta é composta por rochas, que apesar da aparente dureza têm um limite elástico, ou seja, uma capacidade — maior ou menor — de suportarem uma determinada tensão sem se deformarem. Dentro dos limites próprios para aquela rocha, a tensão é acumulada sob a forma de energia, mas se o limite elástico for ultrapassado a rocha dobra-se ou fratura-se. Quando a energia é libertada, temos um sismo.

Porque é que os sismos têm magnitudes diferentes?

Quando se aperta uma bola de ténis de mesa na mão, esta pode resistir durante algum tempo, mas, se se exercer pressão suficiente, vai acabar por ficar amachucada. Da mesma forma, pode-se esticar um elástico até um certo limite, mas se se ultrapassar esse limite, o elástico vai partir-se. Todos os materiais têm um limite de resistência para a tensão a que são sujeitos e as rochas não são exceção. As rochas acumulam energia até um certo limite, mas depois acabam por deformar-se libertando essa energia e provocando um sismo. Quanto maior a energia libertada pelo sismo, maior a magnitude. A quantidade de energia acumulada e, posteriormente, libertada, depende do material, ou seja, do tipo de rocha.

A magnitude é medida na escala de Richter. Esta é uma escala logarítmica, o que significa que entre dois graus na escala a amplitude aumenta dez vezes, ou seja, num sismo de 4,0 na escala de Richter as ondas têm uma amplitude dez vezes maior do que num sismo de 3,0. Em relação à energia, um sismo de 4,0 liberta 33 vezes mais energia que um sismo de 3,0. A escala não tem um limite superior, mas nunca se registou nenhum sismo acima de 9,5. Um sismo acima de 8,0 já pode ser devastador.

Porque é que há tantos sismos (e tão fortes) no México?

É lógico pensar que quanto maior a energia libertada, maior a destruição, mas os efeitos dependem de vários fatores, como a profundidade do foco do sismo (hipocentro), as condições do terreno (que facilitam ou inibem a propagação das ondas) e a distância que está das populações e estruturas edificadas. Os efeitos são, por isso, medidos pela escala de Mercalli. Esta escala não se baseia nos registos feitos pelos sismógrafos, mas nos efeitos ou danos provocados nas estruturas e percebidos pelas pessoas que sentiram (ou não) o abalo.

Como se forma um tsunami?

Os tsunamis ou maremotos podem ser provocados por sismos que ocorram no mar, mas também por deslizamentos de terras ou erupções vulcânicas.

Quando a perturbação ocorre no mar há uma grande deslocação das massas de água na vertical (para cima). Quando a gravidade puxa a massa de água para baixo, a energia é dissipada horizontalmente. As ondas geradas propagam-se em várias direções, incluindo em direção à costa, a mais de 800 quilómetros por hora.

Em alto mar o tsunami é praticamente invisível, mas quando a onda chega à costa pode crescer até aos 30 metros. A profundidade junto à costa diminui, mas a energia acumulada nas ondas mantém-se, por isso as ondas diminuem a velocidade, mas crescem em altura. A onda do tsunami — ou o comboio de ondas — entra pela terra adentro varrendo tudo à sua passagem por mais de um quilómetro. Como se este efeito de destruição não bastasse, quando a onda recolhe, arrasta tudo e todos para dentro do mar.

Ao contrário dos sismos, que não podem ser previstos e que quando são sentidos já não é possível prevenir as populações, existem sistemas que permitem um alerta precoce de tsunamis. Se o maremoto for detetado antes de chegar à costa é possível retirar as populações das zonas de maior risco.

Portugal integra uma rede internacional de alerta precoce de tsunamis e Lisboa tem um sistema de alerta instalado no Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Antes de Lisboa, já Cascais tinha um sistema de alerta de tsunami numa parceria entre a autarquia e a Autoridade Nacional de Proteção Civil.

“Atenção. Risco de tsunami. Dirija-se para uma zona elevada”

Quais os grandes sismos que atingiram Portugal?

A 26 de janeiro de 1531, um sismo de magnitude estimada de 7,5 na escala de Richter sacudiu a cidade de Lisboa e terá matado aproximadamente 30 mil pessoas. O terramoto, sucedido por duas réplicas, aconteceu entre as quatro e as seis da manhã e teve origem na falha geológica do Vale Interior do Tejo, algures entre a Azambuja e Vila Franca de Xira. Duas mil casas e todos os navios que estavam no porto de Lisboa foram destruídos pelo sismo. É considerado o segundo maior sismo da História a atingir Portugal.

Mais de duas centenas de anos depois registou-se o maior sismo alguma vez registado no país. A 1 de novembro de 1755 às 9h40, um sismo de magnitude 9 na escala de Richter destruiu a cidade de Lisboa e atingiu com severidade Setúbal e o Algarve. Dezenas de milhares de pessoas morreram com a queda dos edifícios, com o tsunami com ondas que podem ter chegado aos 20 metros de altura e com o grande incêndio de deflagrou durante seis dias. Este terramoto teve origem no Banco de Gorringe, um maciço montanhoso submerso junto ao Cabo de São Vicente criado pelo levantamento da microplaca tectónica da Península Ibérica ao ser empurrada pela placa africana.

A 23 de abril de 1909, a região ribatejana entre Benavente e Salvaterra de Magos foi atingida por um sismo de magnitude 6,3 na escala de Richter com origem na falha geológica do Vale Interior do Tejo, a mesma que provocou o terramoto de 1531. Quarenta e duas pessoas morreram e outras 75 ficaram feridas. O maior número de vítimas mortais foi registado em Benavente. Monumentos como a Igreja Matriz, a Igreja de Santiago, a Igreja de São Tomé, os Paços do Concelho e a capela de Nossa Senhora da Paz ficaram parcialmente destruídos.

Sessenta anos mais tarde, a 28 de fevereiro de 1969, um sismo de magnitude 7,9 na escala de Richter matou 13 pessoas entre Lisboa e o Algarve. O terramoto, considerado o pior do século XX, teve epicentro a sudoeste do Cabo de São Vicente. Este sismo também foi causado pela compressão provocado pelo movimento da placa africana, que leva ao levantamento litosférico da microplaca ibérica.

Também há registos de grandes sismos para o ano 63 antes de Cristo e para o ano de 382, sendo que para estas ocorrências mais antigas não há estimativas de intensidade, mas há descrições de enormes tsunamis, que terão feito desaparecer ilhas ao largo do Algarve.

O que devem fazer as populações?

Antes de um sismo:

  • Elabore um plano de emergência para a sua família: combine um local de reunião, conheça todas as saídas de emergência, saiba quais são os locais mais seguro para se proteger dentro de casa, mantenha as passagens desimpedidas e fixe os móveis.
  • Prepare um kit de emergência com uma lanterna em caso de falha elétrica, um rádio portátil para receber informações sobre o que está a acontecer, um extintor em caso de incêndio e um estojo de primeiros socorros. Além disso, deve ainda guardar água engarrafada e alimentos enlatados suficientes para dois ou três dias.
  • Certifique-se que todos os membros da sua família sabem como desligar a eletricidade no quadro geral ou como fechar o gás e a água. Saiba também onde estão os extintores que pode usar em caso de incêndio.
    Tenha à mão os números de telefone dos serviços de emergência.

Durante um sismo:

  • Se estiver dentro de um edifício, proteja-se debaixo do vão de uma porta interior ou debaixo de uma mesa ou cama. Proteja sempre a cabeça com os braços, com uma almofada ou com um livro de capa dura.
  • Nunca utilize os elevadores: se estiver em andares superiores, utilize antes as escadas e mantenha-se afastado de janelas, vidros e espelhos. Tenha cuidados com os objetos pendentes, como candeeiros ou quadros pendurados nas paredes.
  • Fuja apenas caso esteja perto e haja um caminho seguro para áreas abertas. Se estiver num sítio com muitas pessoas, não se precipite para junto da multidão: esconda-se nos cantos da sala onde estiver e debaixo de objetos que não possam cair.
  • Se estiver na rua, vá sempre para um campo aberto, longe do mar ou de cursos de água. Não corra nem vagueie pelas estradas. E se estiver a conduzir, pare o automóvel longe de muros, postes de eletricidade ou cabos de alta tensão.
  • Se estiver numa embarcação, encaminhe-se para zonas mais afastadas da costa: as ondas provocadas por um sismo são tão maiores quanto maior a profundidade marítima — que normalmente é menor nas praias.

Depois de um sismo:

  • Esteja à cautela: todos os sismos são sucedidos por réplicas e algumas delas podem ser sentidas.
  • Nunca utilize elevadores e nunca se precipite para as escadas ou saídas de emergência, que podem ficar impedidas com a multidão em pânico.
  • Use uma lanterna a pilhas, corte a eletricidade, a água e o gás. Ligue um rádio portátil para se manter informado e receber conselhos vindos das autoridades através da comunicação social.
  • Limpe quaisquer produtos inflamáveis que estejam derramados e que possam provocar incêndios em contacto com faíscas.
  • Se estiver preso em escombros, respire devagar e grite apenas quando julga haver condições para ser ouvido. Produza barulhos cadenciados para que possa ser encontrado. Caso esteja ferido, exerça força nas regiões afetadas para estancar as feridas.
  • Não toque em cabos de eletricidade derrubados ou em quaisquer objetos que estejam em contacto com eles
  • Não se aproxime de corpos de água, como o mar, rios ou lagos.

Correção: Daniel Oliveira é professor na Universidade do Minho, não na Universidade de Coimbra.

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