Agora com sinal reforçado em Lisboa 98.7 FM No Porto 98.4 FM Política / PS Seguir Costa anuncia que vai “seguir caminho” com mesma “companhia” de há dois anos Líder socialista foi às jornadas parlamentares do PS deixar claro que, mesmo com novo líder no PSD, é à esquerda que quer continuar. "Quando se está bem acompanhado não se muda de companhia", disse. Rita Tavares Texto 22 Jan 2018, 23:45 427 i JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR O discurso do líder fica sempre para o fim e foi nessa altura do jantar das Jornadas Parlamentares do PS, em Coimbra, que chegou o anúncio político relevante sobre a sua vontade: António Costa quer reeditar a “geringonça”. Perante uma sala cheia de socialistas, quando o PSD renovou a sua liderança e já se fala de entendimentos à direita, Costa vem pôr água nessa fervura, ao dizer que “a primeira coisa a fazer é simples: seguir o caminho que iniciámos há dois anos com a companhia com que iniciámos há dois anos”.Antes desta frase, Costa já tinha lançado a pergunta e dado a resposta:Quando me perguntam, então o que vão fazer agora? Quando se está no bom caminho só há uma coisa a fazer, que é não mudar de caminho. Quando se está bem acompanhado, o que se faz? Não se muda de companhia”. O discurso do secretário-geral e primeiro-ministro foi, aliás, muito elogioso para a maioria que constituiu em 2015, quando PS, PCP e Bloco de Esquerda assinaram posições conjuntas para viabilizar o seu Governo. “Sem esta maioria não tínhamos estas políticas e sem estas políticas não tínhamos estes resultados”, disse o socialista numa altura em que a eleição de Rui Rio no PSD tem levantado dúvidas quanto a entendimentos futuros que o PS possa vir a defender. E, no último fim-de-semana, os parceiros do PS também mostraram desconforto com essa tese. Jerónimo de Sousa, do PCP, falou na “retoma formal ou informal do chamado Bloco Central”. E Catarina Martins, no Bloco de Esquerda, acusou Rui Rio de querer “voltar ao Bloco Central.Aos sociais-democratas pede, no entanto, coerência. E o recado vai direto ao recém-eleito líder do partido, pelas posições que tem tido em matéria de defesa da descentralização — um tema que está em discussão nestas Jornadas Parlamentares e em que o Governo quer avançar em definitivo este ano. Rio já disse que está disponível para isso ainda no tempo desta legislatura e Costa disse esperar que “de uma vez por todas” os partidos que nas autárquicas elogiam o poder local “honrem a sua palavra e dêem mais poderes às freguesias”.Ferro avisa para o risco da “autossatisfação”Antes de Costa, no palco das Jornadas, tinha falado Eduardo Ferro Rodrigues, num discurso que veio por o freio a um outro entusiasmo — e esse é interno. O socialista apontou como “maior risco” nesta fase, “o da autossatisfação”. E recomendou mesmo que o PS não caia na tentação do eleitoralismo este ano. Até apontou exemplos europeus, de governos socialistas que “não se afirmam politicamente apesar dos bons resultados económicos: caso de França ou Espanha.Ferro ainda gracejou, quando atirou o aviso sobre a “autossatisfação”: “É certo que é um risco sempre menor no PS, dada a tradicional insatisfação crítica dos seus dirigentes e militantes”. Mas a mensagem principal estava enviada, com o socialista que preside à Assembleia da República a dizer ao partido que “não basta um bom ciclo económico para garantir a solidez política de uma governação”. Nisto, considerou, o “papel insubstituível” é “dos partidos políticos que suportam o Governo, desde logo o PS”.Reconhece os méritos do Governo, e até elenca alguns, como “a quebra no desemprego”, a taxa de crescimento que é “a maior deste século” e o défice “controlado”. Mas Ferro Rodrigues também diz que “em 2018 não estão previstas eleições e que, por isso mesmo, os portugueses não compreenderiam que por taticismos pré-eleitorais este ano de 2018 não fosse aproveitado para fazer avançar mudanças estruturais”. Costa ouviu o recado e na sua intervenção, logo a seguir, e aceitou que o momento não é para os socialistas ficarem “presos à satisfação”. Mas não resistiu a uma dose de prosápia provocadora, a atingir (mais uma vez) o PSD: “Estamos tranquilos e confiantes, porque aqui ninguém discute quem vai ser o líder parlamentar”.