Uma equipa de cientistas chinesas clonou pela primeira vez um casal de macacos utilizando a mesma técnica que, em 1997, deu origem à ovelha Dolly. Os macacos, duas fêmeas chamadas Zhong Zhong e Hua Hua, são a espécie animal viva mais próxima do ser humano alguma vez a ser clonada em laboratório. Isso pode simbolizar avanços históricos na exploração de doenças que afetam o Homem, como o cancro, o Alzheimer ou a doença de Parkinson. E também pode significar que a clonagem em humano está mais perto de se tornar realidade do que nunca.
Os dois animais pertencem à espécie Macaca fasciularis e partilham precisamente a mesma informação genética. Embora outras 23 espécies de mamíferos já tenham sido clonados desde há 21 anos — é o caso dos porcos, dos cães e dos gatos, dos ratos e dos bovinos, por exemplo –, os investigadores nunca tinham conseguido clonar macacos porque todas as espécies testadas “demonstraram resistência” e nunca foram avante.
Agora, se for possível criar uma população de macacos geneticamente iguais, podemos fazer dela numa espécie de laboratório vivo que permita estudar geneticamente as doenças que afetam a qualidade de vida nos humanos. Como? Ajustando os genes que os macacos transportam e que estão relacionados com essas doenças: se isso for possível, podemos replicar a doença num animal e depois comparar as alterações biológicas provocadas pela nova informação genética com as características verificadas no macaco saudável. A realizar-se, esta técnica permitiria encontrar mais facilmente os genes que provocam as doenças e estudar formas de os editar.
E não, a memória não lhe falha: é verdade que pode ter ouvido falar de uma cópia genética de macacos feita há 18 anos, mas não é verdade que a técnica utilizada nessa época possa mesma ser chamada de clonagem. Em 2000, um grupo de cientistas anunciou ter sido capaz de criar dois macacos geneticamente iguais ao dividir um embrião em dois logo depois da fertilização. Só que, na prática, o que os investigadores fizeram foi criar dois gémeos idênticos. E isso só podia dar origem a até quatro indivíduso. Desta vez, a técnica utilizada foi a transferência nuclear de células somáticas, considerada a forma mais pura de clonagem alguma vez inventada e que em 1997 deu à luz a ovelha Dolly.
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O que Qiang Sun, investigador do Instituto de Neurociências da Academia Chinesa de Ciência, fez foi pegar no núcleo de um óvulo de macaco — parte da célula que contem 98% de toda a informação genética de um ser vivo — e colocá-lo dentro da célula de outro macaco. Depois, a célula recebe um estímulo elétrico semelhante ao experimentado quando um óvulo é fertilizado por um espermatozoide, o que a leva a dividir-se como num embrião criado naturalmente. O embrião é então transferido para o útero de uma fêmea e, a correr tudo, a nova cria vai ser geneticamente igual àquela que doou o núcleo.
Isto demorou 14 anos a ser feito em macacos porque todos os outros embriões não evoluíam além da fase de blastocisto, que ocorre menos de uma semana depois da fertilização e que não tem mais do que duas centenas de células. Em 2004, foi criado um macaco clonado com a técnica que originou a ovelha Dolly, mas os embriões não sobreviveram tempo suficiente para sequer serem implantados no útero da progenitora. Qiang Sun, no entanto, encontrou a receita certa: antes de implantar o embrião no útero, mergulhou-o numa sopa de nutrientes e de catalisadores de crescimento que ativaram dois mil genes essenciais para a sobrevivência e desenvolvimento de uma cria.
Outra diferença preponderante na experiência de Qiang Sun é que ele não usou células de macacos adultos. Tanto o núcleo que repescou como o corpo da célula que utilizou não vinham de macacos adultos, mas sim de fetos: neste caso, a equipa de cientistas utilizou células da cria de um macaco fêmea que sofreu um aborto. Zhong Zhong e Hua Hua deram luta, ainda assim: dos 71 embriões implantados em 21 úteros, estas duas foram as únicas sobreviventes. É uma boa média: para a ovelha Dolly nascer, foi preciso implantar 277 embriões.