A Caixa registou lucros de 52 milhões de euros em 2017, o que contrasta com os maiores prejuízos de sempre registados no ano anterior, no valor de 1860 milhões de euros. Este resultado, acima da meta do plano estratégico, representa a prometida viragem no ciclo de seis anos de prejuízos no banco do Estado. Ainda que, reconheça o presidente executivo, Paulo Macedo, a Caixa continuou a ter prejuízos em Portugal.
Para Rui Vilar, trata-se de um sinal visível do virar de página que 2017 representou para a Caixa. “Pertencem ao passado, os prejuízos, a incerteza e a instabilidade”, afirmou esta sexta-feira o presidente não executivo. Para além do regresso aos lucros, o resultado de exploração foi positivo em 634 milhões positivos.
O plano inicial apresentado à Comissão Europeia, ainda por António Domingues, previa que o banco voltasse aos lucros já em 2017, mas essa previsão foi revista no ano passado e o regresso a resultados positivos foi adiado para 2018. Ainda esta semana, Paulo Macedo avisava que a banca não conseguia ainda remunerar o capital investido. No entanto, os resultados revelados esta sexta-feira parecem contrariar essa tendência.
Paulo Macedo. Banca não gera rentabilidade para pagar o custo do capital
O presidente executivo destacou os resultados “acima do plano estratégico, positivos”, mas também o reforço de capital , da solidez e a manutenção da marca. Em 2017, foi ainda cumprida a meta de redução de 547 trabalhadores, o que se vai manter em 2018. O banco fechou 64 agências.
José Brito, administrador financeiro, explica os principais contributos para este resultado e destaca quatro fatores.
- Evolução da margem financeira superior ao previsto. Crescimento de 19%, que comparava favoravelmente com os concorrentes, e apesar dos mínimos das taxas de juro, destacou José Brito.
- Imparidades de crédito inferiores ao projetado, por via da retoma económica
- Resultados de operações financeiras mais favoráveis. Cresceram 182% para 216 milhões de euros.
- Custos tiveram uma redução mais expressiva do que as projeções iniciais
Ainda assim, o gestor assinala o provisionamento de custos significativos, com a venda de operações internacionais, no valor de 386 milhões de euros, e de alterações contabilísticas para as operações em Angola. E foi ainda constituídas provisões para reformas antecipadas. No ano passado, saíram por pré-reformas cerca de 250 colaboradores.
Por via destes elementos extraordinários, as provisões e imparidades atingiram 677 milhões de euros. Mas as imparidades de crédito fixaram-se, em termos líquidos, em apenas 85,9 milhões de euros. Já o crédito malparado, NPL (sigla inglesa para empréstimos de má qualidade) baixou de 15,8% para 12,1% da carteira de crédito. Sobre o montante de créditos transferidos para a plataforma de gestão integrada de créditos, criada por três bancos (a Caixa incluída), Paulo Macedo revelou que seriam centenas de milhões de euros, mas remeteu mais informação para a administração da nova entidade.
Em 2017 ficou concluído o fecho das sucursais em Cayman, Londres e Macau. A área internacional continua a contribuir positivamente para os resultados consolidados da Caixa, tendo gerado lucros de 273 milhões de euros. Considerando apenas a atividade doméstica, o banco apresentou prejuízos de 176 milhões de euros, embora muito pressionado pelos tais fatores não recorrentes, como provisões.
Comissões. Outros bancos aumentaram muito mais, diz Macedo
Questionado sobre o aumento das comissões, Paulo Macedo afirma que o banco tem claramente e intenção de aumentar o volume de comissões, “é o que está no plano”. No entanto, acrescenta que não vai aumentar novamente as comissões depois da subida já comunicada para este ano e que foi notícia esta semana.
Por outro lado, o gestor garantiu que os bancos que apresentaram já resultados de 2017 (BPI e Santander Totta) aumentaram muito mais as comissões. Apesar da Caixa ter registado um aumento de 3% no nível de comissionamento, ainda está abaixo de valores registados no passado.
Segundo a apresentação feita esta sexta-feira, a Caixa tem um nível de comissões face ao volume de negócios abaixo da média verificada na concorrência. Estes dados são contudo de meados do ano passado e ainda não refletem as alterações anunciadas mais recentemente. No ano passado, a CGD cobrou 465 milhões de euros em serviços e comissões. O banco ainda tem cerca de três milhões de clientes isentos de comissão, dos quais cerca de 1,3 milhões são reformados e jovens, disse Paulo Macedo.
O exercício foi ainda marcado pela subida dos recursos captados que cresceram 1,4 mil milhões de euros em Portugal, apesar de uma queda de 800 milhões de euros nos depósitos dos institucionais. Esta perda foi explicada pela queda das taxas de juro que levou os grandes clientes a procurar alternativas de investimento mais rentáveis.
Vale do Lobo: Macedo não vê conflito de interesses em negócio com ex-presidente da CGD
A Caixa Geral de Depósitos vai ter uma participação de 35%, cerca de um terço, no fundo que comprou os créditos sobre o empreendimento de luxo Vale do Lobo. Esta operação, que permitiu ao banco reduzir a exposição às dívidas do resort, teve um impacto zero nas contas do banco no ano passado porque só foi validada já este ano.
A transação foi feita por 223 milhões de euros com a ECS, o fundo de investimento liderado por António de Sousa, que foi presidente da Caixa Geral de Depósitos entre 2000 e 2004. Quando questionado sobre um eventual conflito de interesses neste negócio, Paulo Macedo foi categórico: “Não acho que haja qualquer conflito de interesses” com um ex-presidente da Caixa que saiu da instituição há 15 anos ou dez anos.
Caixa vende créditos sobre Vale do Lobo a fundo português que vai assumir a gestão
Venda de bancos em Espanha e África do Sul já arrancou
Paulo Macedo anunciou ainda que já foram lançados os processos de venda das operações em Espanha (Banco Caixa Geral) e na África do Sul. Reconhecendo que os graus de interesse para os dois negócios não são os mesmos (o banco sul africano será mais cobiçado), o gestor diz que existem várias dezenas de interessados para as duas operações. A Caixa tem de vender até ao final deste ano estes negócios para cumprir o plano acordado com Bruxelas. A venda no Brasil é para já considerada menos prioritária.