As notas dos exames nacionais são muitas vezes entendidas, por alunos e pais, como expoente máximo do sucesso escolar e principal indicador de que esse sucesso se repetirá no ensino superior. A ideia deve-se, em muito, ao peso que é atribuído a essa classificação na nota de acesso à universidade — pode chegar aos 50%, pesando assim tanto quanto a média de três anos no ensino secundário.
Contudo, um estudo publicado este mês por investigadores da Nova School of Business and Economics, da Universidade Nova de Lisboa, mostra que, na verdade, a nota interna do secundário — que é a média das notas atribuídas pelos professores ao longo de três anos de escolaridade — é um fator de previsão do sucesso no ensino superior mais eficaz do que a nota dos exames nacionais.
De acordo com o estudo Predictors of Student Success in Higher Education: Secondary School Internal Scores versus National Exams, dos investigadores José Miguel Cerdeira, Luís Catela Nunes, Ana Balcão Reis e Maria do Carmo Seabra, “um maior peso das notas internas relativamente aos exames nacionais podia melhorar a correspondência entre os estudantes, promovendo, portanto, o sucesso da população estudantil no geral”.
Ou seja, aumentar o peso da nota interna do ensino secundário e reduzir o da nota do exame nacional poderá fazer com que a nota de admissão à faculdade seja mais representativa daquilo que são as capacidades do aluno.
“Atenção, nós entendemos que ambos os fatores — exames nacionais e notas internas — têm capacidade preditiva do sucesso, e por isso entendemos que é bom manter os dois indicadores“, explica ao Observador Ana Balcão Reis, uma das autoras do estudo.
“Mas podemos concluir que as notas internas, ao terem uma capacidade preditiva do sucesso mais forte, na verdade o que significa é que os alunos estão a ser bem avaliados internamente nas escolas. Às vezes, diz-se que há enviesamento. Mas, na verdade, as notas internas estão a prever melhor o sucesso do que os exames nacionais“, acrescenta a investigadora.
Ana Balcão Reis destaca que estes resultados mostram que as faculdades “não devem desvalorizar as notas internas“, porque estas “são informativas sobre o sucesso dos alunos”. “Talvez até se justifique dar um bocadinho mais de peso às notas internas. Porque todo o esforço que os alunos fazem na aprendizagem no ensino secundário também se reflete no superior”, sublinha.
Este aumento de peso, porém, deve ser feito “de maneira gradual”, adverte a investigadora, que sublinha a importância de não retirar os exames nacionais da equação. “Este resultado é obtido num ambiente em que os professores dão notas sabendo que vai haver um exame. Se tirássemos o exame, talvez o comportamento fosse diferente”, diz Ana Balcão Reis, afirmando que “este estudo não sustenta uma mudança grande”.
“Sustenta uma mudança pequena, gradual, de aumento do peso da nota interna. Mas são precisos mais estudos para ir além desta mudança gradual”, avisa a investigadora.
Atualmente, para aceder ao ensino superior público, os alunos candidatam-se com uma nota de admissão que resulta da média ponderada da nota do exame (ou exames) de admissão e da média final do ensino secundário. Nessa ponderação, a nota do exame tem um peso de entre 35% e 50%, ao passo que a média do secundário vale entre 50% e 65% da nota de admissão.
16 escolas com notas internas muito acima da média há cinco anos
É pequeno, mas ainda assim significativo, o conjunto de escolas que inflacionam sistematicamente as notas internas — o tal “enviesamento” de que Ana Balcão Reis fala. Nos últimos cinco anos, foram 16 as escolas que atribuíram sempre notas internas muito acima da média.
Do lado oposto, são 21 as escolas que, por sistema, atribuem notas muito abaixo da média, todos os anos, desde 2012.
O Ministério da Educação usa este indicador para avaliar de que forma as notas internas atribuídas pelas escolas se alinham ou não com as notas internas atribuídas pelas escolas cujos alunos obtiveram notas semelhantes nos exames nacionais (para comparar escolas comparáveis).
Entre as escolas que mais “inflacionam” as notas, encontram-se 13 escolas privadas e apenas três públicas, uma tendência que se inverte nas escolas que dão notas abaixo da média: 16 públicas e cinco privadas.
Para estas tabelas, o Observador contabilizou apenas as escolas que nos últimos cinco anos tiveram sempre o desalinhamento máximo (positivo ou negativo) relativamente à média.