Depois da polémica com a atriz Uma Thurman relativamente ao seu comportamento face a Harvey Weinstein e ao acidente de carro durante as filmagens de “Kill Bill”, Quentin Tarantino volta a ser atacado. Em causa está uma entrevista de 2003, cujo áudio foi publicado esta segunda-feira pelo site Jezebel, em que o realizador afirma que Roman Polanski não violou uma jovem de 13 anos.

“Ele não violou uma rapariga de 13 anos. Ele teve relações sexuais com uma menor [statutory rape]”, afirmou o realizador de “Pulp Fiction” e “Kill Bill” no programa “The Howard Stern Show”, com Howard Stern e Robin Quivers.

“Como é que consegue defender… eu não compreendo isto. Como é que Hollywood aceita este doido, este realizador que violou uma rapariga de 13 anos?”, perguntaram-lhe.

“Isso não é violação. Para mim, quando se usa a palavra violação, estamos a falar de violência, atirarem-na para o chão — é um dos crimes mais violentos do mundo. Não se pode usar a palavra violação de qualquer maneira. É como usar a palavra racista de qualquer maneira. Não se aplica a tudo aquilo para o qual as pessoas a usam”, referiu Tarantino.

O realizador ainda acrescentou, para espanto de Stern e Quivers, que a jovem “queria” ter relações sexuais com Polanski e que até manteve um relacionamento com ele.

“Espera lá. Tens relações sexuais com uma rapariga de 13 anos e és um homem feito… tu sabes que isso é errado”, argumentou Howard Stern. “Dar-lhe bebidas alcoólicas e drogas…”, acrescentou Quivers. “Ela alinhou naquilo”, defendeu ainda Tarantino.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em seguida, de acordo com a BBC, o realizador assumiu que efetivamente se tratava de algo ilegal e que, se tivesse uma filha de 13 anos, espancaria o homem que tivesse relações sexuais com ela. Mas logo depois, quando Quivers afirmou que Polanski podia ter evitado toda a situação se não convivesse com raparigas de 13 anos, Tarantino respondeu: “Ele gosta de raparigas”.

As críticas foram imediatas. A atriz Busy Philipps lamentou ter ido a uma audição para um filme de Tarantino de “calções curtos” e de “chinelos” como lhe tinha sido pedido. “Ok. Desculpem. Tenho de ir deitar as minhas duas filhas e rezar para que elas consigam crescer num mundo em que drogar e violar uma criança de 13 anos não é motivo de riso numa entrevista de rádio ‘porque ela queria'”, lê-se num dos tweets.

Também Anthony Rapp, que acusou o ator Kevin Spacey de assédio sexual, considerou as declarações de Tarantino “horríveis”.

Recorde-se que Roman Polanski chegou a estar preso durante 42 dias pela violação de Samantha Geimer, de 13 anos, em 1977, antes de fugir dos Estados Unidos. Desde então outras mulheres já acusaram o realizador de violação.

Roman Polanski, a condenação eterna e o #MeToo

A própria Samantha Geimer reagiu às afirmações de Tarantino. “Ele errou. Aposto que ele sabe disso. Espero que ele não continue a fazer papel de idiota e a falar daquela maneira”, afirmou Geimer, atualmente com 54 anos, ao New York Daily News. “Não estou chateada, mas provavelmente sentir-me-ia melhor se ele percebesse que estava errado, 15 anos depois, após ouvir os factos. Ninguém tem de ficar chateado por mim. Eu estou bem.”