Sem dúvida que os avanços da medicina e os partos acompanhados pelos profissionais de saúde têm diminuído a taxa de mortalidade neonatal, mas em muitos casos têm-se verificado um recurso desnecessário a intervenções médicas durante o parto. Para assegurar que as mulheres grávidas têm a melhor experiência possível, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou um manual com 56 recomendações baseadas em resultados científicos.
A gravidez e o parto são processos naturais que, na maior parte dos casos, não apresentam complicações nem razões para que sejam tratados como situações de risco. Ainda assim, e na tentativa de garantir o nascimento de um bebé saudável, as intervenções médicas sobrepõe-se à vontade da mãe.
All women have a right to a positive childbirth experience.@WHO recommends reducing the use of needless and potentially harmful clinical & medical interventions: https://t.co/tm6JMQoeTs pic.twitter.com/4bvOLuVxK7
— United Nations (@UN) February 16, 2018
“As orientações [agora divulgadas] colocam a mãe e o bebé no centro do modelo dos cuidados, de forma atingir os melhores resultados possíveis a nível físico, emocional e psicológico”, diz Princess Nothemba Simelela, subdiretora-geral da OMS para a Família, Mulheres, Crianças e Adolescentes. “O aumento da medicalização do parto natural está a debilitar a capacidade das mães de parir e a afetar negativamente a experiência do parto.”
As recomendações têm alguns pontos-chave, como:
- evitar intervenções médicas desnecessárias;
- encorajar as mulheres a manterem-se ativas durante a primeira fase do trabalho de parto;
- permitir que escolham a posição para o parto;
- permitir que sejam acompanhadas por uma pessoa à sua escolha;
- garantir uma boa comunicação entre grávida e profissionais de saúde;
- assegurar a privacidade e confidencialidade;
- fornecer informação adequada sobre o alívio da dor.
“Muitas mulheres querem um parto natural e preferem confiar no seu corpo durante o parto sem a intervenção médica”, diz Ian Askew, diretor do Departamento de Saúde e Investigação Reprodutiva. “Mesmo que uma intervenção médica seja desejada ou necessária, a inclusão da mulher nas tomadas de decisão sobre os cuidados de saúde a que vai ser sujeita é importante para assegurar que tem uma experiência de parto positiva.”
As linhas orientadoras gerais têm em consideração um aspeto fundamental: cada parto é único. E para cada mulher o tempo do trabalho de parto pode ser diferente, por isso há que dar espaço a que o processo decorra naturalmente. Nesse sentido, a OMS recomenda que se deixe de usar a velocidade da dilatação como único indicador para acelerar o nascimento.
Pfizer quer retirar medicamento usado para indução de partos
Um dos medicamentos usados frequentemente para a indução do parto (e também como abortivo) é o misoprostol. Esta não é contudo a finalidade para a qual o medicamento foi licenciado. Misoprostol é um medicamento recomendado para a proteção da parede do estômago, bloqueando a secreção de ácido no estômago e induzindo a formação de muco.
O uso na indução do parto e na interrupção da gravidez está associado a efeitos secundários graves. As fortes contrações que provoca, podem causar lesões do útero, hemorragias, defeitos no feto e até morte do mesmo (quando essa não era a intenção). Tendo em conta esta utilização divergente, a Pfizer, dona do medicamento Cytotec, decidiu retirá-lo do mercado em França em março de 2018.
Um dos problemas com o Cytotec é que a dose de indução do parto é um oitavo do comprimido original (de 200 μg). Partir um comprimido em oito partes não é fácil e conduzia facilmente a situações de overdose. Já existe no mercado um medicamento alternativo, Angusta da empresa Azanta, que tem a dose correta para a indução do parto (25 μg). Mas isto pode não ser uma solução, na Dinamarca há casos de mulheres com ruturas do útero mesmo com estas doses, refere o Retraction Watch.