A irmã Maria da Graça Guedes, vice-presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, diz que situações de exploração de freiras por parte de bispos e cardeais como as denunciadas esta quinta-feira pela revista Donne Chiesa Mondo, do jornal oficial do Vaticano, “entristecem a Igreja”.
“Se essas situações verdadeiramente existem, se de facto há pessoas que passam por essas situações, então isso deve ser combatido”, diz a religiosa ao Observador. “Além disso, qualquer trabalho deve ser remunerado”, acrescenta.
Esta quinta-feira, a revista mensal, suplemento do jornal oficial do Vaticano, o Osservatore Romano, publicou uma reportagem em que denuncia situações de freiras que são exploradas por bispos e cardeais em várias partes do mundo, incluindo em Roma, onde desempenham tarefas domésticas na casa de vários líderes da Igreja Católica, trabalhando de manhã à noite e recebendo um salário muito reduzido ou inexistente.
Sublinhando que não tem conhecimento de situações semelhantes em Portugal, a irmã Maria da Graça Guedes lembra que a condição de inferioridade da mulher não é nova. “Na história, em vários âmbitos da sociedade, a mulher sempre ficou em segundo plano”, explica a religiosa, lembrando que cabe à Igreja Católica um papel de inverter essa realidade.
“Acho que a Igreja tem tido uma preocupação em valorizar a mulher no seu papel, na Igreja e fora dela. Claro que isso é um caminho que está a ser iniciado e está a ser feito a passos lentos. E este tipo de situações, claro, têm de ser combatidas”, diz a religiosa.
Afirmando que não defende o conceito atual de feminismo, a irmã Maria da Graça Guedes diz que a Igreja olha para o homem e para a mulher como seres que se complementam, mas que não se pode “confundir os papéis”. “Completamo-nos enquanto pessoas, feminino e masculino”, diz, destacando que a igualdade na dignidade não tem de corresponder necessariamente à igualdade nos papéis desempenhados.
A religiosa diz ainda que não se deve desvalorizar o trabalho doméstico. “É um trabalho tão digno como qualquer outro trabalho”, afirma, lembrando que há institutos religiosos cujo carisma e missão passa precisamente pelo auxílio ao clero neste tipo de trabalhos.
O que pode ter falhado nos casos denunciados, destaca a religiosa, é o “discernimento” feito pelos responsáveis da congregação. “Quando um superior maior decide enviar um grupo de irmãs para determinada missão, faz um discernimento para ver se a missão corresponde ao carisma próprio daquela congregação”, explica. “Se algo em contrário acontece, lamento muito. Não devia ser assim.”