Um mergulho vertiginoso na adolescência, sem cair em lugares-comuns e conferindo-lhe uma dimensão interior e secreta, eis como se pode definir “Montanha-russa”, que se estreia hoje, na sala Garrett, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Da autoria de Inês Barahona e Miguel Fragata – a quem se juntam Helder Gonçalves e Manuela Azevedo, dos Clã – a peça tem como eixo as tentativas de resposta à pergunta “Quem sou eu?”, tão cara a todos os adolescentes.
Neste musical sobre a adolescência, destinado ao público em geral, a dupla de dramaturgos mergulhou na dimensão mais secreta e privada dos adolescentes e na luta destes pela descoberta de quem são.
“Montanha-russa” é também o diário secreto que se deixa em cima da mesa ou que se transporta para as aulas como se dissesse “leiam-me”. Porque na adolescência há uma urgência de se ser lido, para se ser entendido.
O mote para a peça, ou o seu pano de fundo, é Ciclone, uma montanha russa que remete para as contradições e alterações de estados de ânimo da adolescência naquele sentir vertiginoso de que tudo pode ruir a qualquer instante.
Com música ao vivo dos Clã, “Montanha-russa” retrata a vivência e as preocupações de quatro adolescentes no seu percurso, sem deixar de retratar os picos de euforia e de depressão da adolescência, pois é o período em que se vai “do topo do mundo ao lugar mais profundo”, como diz a “Canção da primeira vez”, interpretada por Manuela Azevedo.
Assim, as vivências e as angústias experimentadas em palco não destoam das que os adolescentes vivem na realidade. O tempo é um tecido cinzento que nos enrola”, diz uma das canções da peça, espelhando a sensação de um dos jovens, descontente pela demora da passagem do tempo.
Diários escritos por adolescentes entre as décadas de 1970 e 2000, letras de canções, filmagens, entrevistas e audição de jovens sobre questões que os preocupam, e que os autores designaram por “confessionário”, foram o ponto de partida para a peça, num trabalho que se prolongou durante um ano e meio, como explicaram Inês Barahona e Miguel Fragata.
Depois de entrar na fase de criação, o espectáculo tem sido acompanhado por um “pequeno comité”, composto por 15 adolescentes de Lisboa e Porto, que foram convidados a acompanhar todo o processo, assistindo a ensaios, colaborando com a estratégia de comunicação e na organização de uma noite ‘teen-friendly’, a realizar no dia 23, no átrio do D. Maria II.
Todo o processo de criação do espectáculo tem também sido seguido pela artista plástica Maria Remédio, que está a filmá-lo para montar um documentário. Chamar-se-á “Canção do meio”, e será exibido nos dias 11 e 25, após a peça, e no dia 27, às 16h30.
Com dramaturgia de Inês Barahona e encenação de Miguel Fragata, que juntos formam a Formiga Atómica, “Montanha-russa” tem interpretação de Anabela Almeida, Carla Galvão, Miguel Fragata e Bernardo Lobo Faria. A música original é de Helder Gonçalves, dos Clã, o movimento, de Marta Silva, o desenho de som de Nelson Carvalho e, o de luz, de José Álvaro Correia.
Com cenografia de F. Ribeiro e figurino de José António Tenente, “Montanha-russa” vai estar em palco até dia 27, com espectáculos às quartas, às 19h00, de quinta a sábado, às 21h00, e, aos domingos, às 16h00. No dia 27 – Dia Mundial do Teatro – será representada às 21h00.