O vice-presidente do MPLA e Presidente da República de Angola, João Lourenço, defendeu este sábado o reforço do combate às “más condutas, ao desrespeito aos princípios e valores” do partido no poder em Angola e o fortalecimento das estruturas da organização política.

João Lourenço, que discursava na abertura da II reunião metodológica nacional sobre a Organização do Trabalho do Partido, disse ainda que os princípios e valores do MPLA são hoje caracterizados por “insuficiências na organização e gestão, nas suas distintas áreas da sua especialização, na excessiva burocratização do aparelho central e auxiliar”.

O também chefe de Estado angolano apelou a uma maior proximidade dos dirigentes às comunidades e a uma maior inserção do partido na sociedade.

Na sua intervenção, João Lourenço chamou a atenção para o que devem ser os titulares de cargos de responsabilidade política, “os primeiros a assumir, na prática, atitudes que dignificam o bom nome do partido”, tornando-se “exemplo” que influenciem “positivamente os militantes e os cidadãos em geral, sobretudo jovens”.

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“O militante do MPLA deve ser o primeiro a combater efetivamente, não apenas com o discurso, mas de facto, a corrupção, o nepotismo, a impunidade, a delapidação do património público, o absentismo no trabalho e outras práticas nefastas que prejudicam seriamente a vida dos cidadãos e a boa organização da nossa sociedade”, salientou.

Segundo João Lourenço, é o momento de o partido dar início ao trabalho para preparar os seus quadros para o “grande desafio” que tem pela frente, com a realização das primeiras eleições autárquicas no país.

“Para vencermos o maior número possível de câmaras, precisamos de começar já a trabalhar, mas sobretudo ter a humildade de aprender como gerir um município uma vez eleito, se tivermos em conta que nunca vivemos essa realidade”, referiu.

Acrescentou que, nesse sentido, o planeamento estratégico é vital para o desenvolvimento e fortalecimento do MPLA e somente com “quadros competentes política e profissionalmente preparados” sairão vencedores dos desafios que se colocam ao partido.

“Para assegurar o êxito e o pleno funcionamento dos órgãos e organismos nacional e intermédio do partido, há igualmente necessidade de se continuar a trabalhar para a melhoria das condições sociais e de trabalho dos quadros que garantem no dia-a-dia a atividade do partido”, frisou.

O líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, que foi chefe de Estado em Angola durante 38 anos e não concorreu às eleições gerais de agosto de 2017, prometeu na abertura da reunião ordinária do Comité Central envolver-se “pessoalmente” no grupo de trabalho que, ao longo de 2018, vai “preparar a estratégia” da organização política para as eleições autárquicas que deverão acontecer antes de 2022.

“O MPLA deve, desde já, centrar as suas preocupações no processo das primeiras eleições autárquicas que se vão realizar no país, a fim de preparamos as nossas estruturas para a mobilização de militantes, simpatizantes e amigos do MPLA, na disputa de mais um pleito eleitoral do qual pretendemos sair vitoriosos”, disse José Eduardo dos Santos.

“Por isso, a nível do secretariado do Bureau Político, prometi envolver-me pessoalmente no grupo de trabalho que vai coordenar a implementação da estratégia do partido para preparar as condições durante o ano de 2018 para a participação com êxito nas eleições autárquicas na data que for aprovada”, acrescentou.

Divisões no MPLA? “Isso não existe no nosso seio”

João Lourenço refutou também a ideia de que existe divisão no seio do partido no poder em Angola entre “supostos eduardistas e lourencistas”, garantindo que existem apenas militantes do MPLA. O dirigente do MPLA referia-se à “ideia criada e difundida”, nos últimos tempos, em alguns círculos da sociedade angolana, que têm o objetivo de “dividir” os militantes do partido.

“Isso não existe no nosso seio, só há mempelistas, porque defendemos todos o MPLA e as suas causas, só há patriotas angolanos, porque todos defendemos a causa de Angola e dos angolanos”, disse João Lourenço.

Lembrou que “ao longo da sua história, o MPLA enfrentou e ultrapassou momentos difíceis, onde nalguns casos teve cisões que o enfraqueceram, mas soube sempre evitar consequências piores”.

João Lourenço defendeu que “sempre que possível” se trabalhe com antecipação para que seja preservada a união do partido. “E isto é uma preocupação que deve ser permanente, porque dentro e fora do partido, acredito, que sempre houve quem estivesse interessado em corroer o partido, para que não cumpra com a sua missão histórica”, disse João Lourenço.

“Devemos continuar cada vez mais unidos e coesos em torno dos ideais do MPLA, para que com a força do passado, do presente e do futuro, construamos um futuro melhor”, exortou.

O partido no poder em Angola, desde 1975, tem reforçado nos últimos tempos os apelos de união na formação política, numa altura em que vários círculos da sociedade angolana, incluindo militantes do MPLA, têm criticado abertamente uma alegada bicefalia entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos, líder da organização política desde 1979.

Na reunião ordinária do Comité Central (CC) realizada, na sexta-feira, José Eduardo dos Santos, que em 2016 tinha anunciado que este ano deixaria a vida política ativa, propôs a realização de um congresso extraordinário para dezembro de 2018 ou abril de 2019.

Sobre a proposta apresentada, os participantes ao encontro decidiram que vão ser realizadas duas reuniões, a primeira em abril próximo pelo Bureau Político, e a segunda em maio pelo CC, para refletirem sobre a realização do congresso extraordinário e a transição política da presidência do MPLA.