“Não se peça ao PCP para votar o Orçamento do Estado de cruz”, disse Jerónimo de Sousa na noite desta quarta-feira numa entrevista à RTP. Num contexto em que tem acusado o PS de alinhar com o PSD e o CDS no chumbo das propostas comunistas sobre a legislação laboral, o secretário-geral do PCP deixou um aviso ao Governo: “Um OE onde os traços de política de direita se acentuarem, temos um problema”.

É o discurso habitual do PCP, não se comprometer com uma posição antecipada no Orçamento do Estado (OE). “Essa questão não está colocada. Ainda não há proposta de orçamento. O PCP disponibiliza-se para examinar os seus conteúdos. Se for um OE que contribua de forma positiva para a reposição de direitos e desenvolvimentos”, terá o voto favorável dos comunistas.

Jerónimo de Sousa criticou a “obsessão pelo défice”, que se fixou nos 0,9% (sem a recapitalização da Caixa), em vez de 1,5% fixado no OE acordado com os partidos que apoiam a solução governativa. “Foram excessivos nessa fixação”.

Questionado sobre as declarações que fez a propósito do chumbo das propostas do PCP em relação às leis laborais, Jerónimo de Sousa, que tinha falado “numa nova fase da nova vida nacional”, explicou que se estava a referir em concreto a esse assunto: “É um elemento marcante as posições do Partido Socialista em relação à legislação laboral”.

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“O PCP apresentou um conjunto de propostas que não visavam direitos novos, visavam essa linha de reposição de rendimentos e direitos”, afirmou o secretário-geral do PCP, considerando que o PS está “sem dúvida” mais próximo das entidades patronais e da oposição em questões como o fim da caducidade da contratação coletiva ou o tratamento mais favorável do trabalhador.

“E não esquecendo também que as malfeitorias, não foram todas realizadas pelo Governo anterior”, alertou Jerónimo de Sousa ainda chamou a atenção para o facto de que, “nesta matéria de regulação laboral, o PS tem muitas responsabilidades” que vêm sobretudo do “tempo da maioria absoluta”.

Frisando que sempre houve elementos de divergência e convergência entre o PS e o PCP, Jerónimo de Sousa sublinhou que, no caso da legislação laboral, houve sim uma “clarificação” da posição dos socialistas.

O Partido Socialista, perante estes interesses antagónicos, optou pelo lado mais forte”, afirmou.

Fazendo eco do que já tinha dito durante a tarde de quarta-feira, Jerónimo de Sousa defendeu, já perto do final da entrevista, que, em relação à tentativa de envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, “a espionagem é um submundo em que é difícil que alguém tenha certezas certas” e que o mais preocupa o PCP neste momento é a “escalada” de violência que se verifica “no plano diplomático” e não só.

Considerando que é necessário “transformar a luta pela paz num elemento crucial” porque “os povos precisam de paz”, Jerónimo defendeu a criação de políticas que invertam “esta escalada preocupante”. Nesse sentido, considerou que o Governo português atuou bem ao não expulsar os diplomatas russos do país. “O Governo português tem o dever de cumprir a Constituição da República e a verdade é que a Constituição dá resposta a isso — defende a paz, a cooperação entre os povos e países e a recusa da guerra”, disse. “É tempo de evitar a tensão e a dramatização porque depois não vale a pena saber quem é que disparou primeiro.”