Ao longo desta segunda-feira, houve vários sinais de algo que parecia apoquentar o universo verde e branco. Dias Ferreira, antigo vice da direção e presidente da Mesa da Assembleia Geral, falava em “assuntos que não podiam ser discutidos numa reunião magna mas que teriam grande relevância nos próximos 30 ou 40 dias”. Bruno de Carvalho, no último post antes de fechar a sua conta do Facebook, referiu logo no início que Jaime Marta Soares deixou que o poder caísse na rua atraiçoando quem sempre o defendeu colocando “em perigo coisas importantíssimas da SAD”. Do próprio clube havia indicação de matérias sensíveis que também fizeram com que as decisões futuras merecessem uma reflexão extra. Agora, tudo se percebe.

Numa altura particularmente conturbada em termos diretivos onde se percebe que existe uma espécie de apertar de cerco a Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, mas que pode também ter o efeito contrário de colocar a atuação do líder leonino em perspetiva face às alternativas que se afiguram, a principal questão a resolver não é de liderança mas tem um nome: empréstimo obrigacionista, o mesmo que vence nas primeiras semanas de maio. E que, tendo em conta também as pressões públicas assumidas esta segunda-feira pela Holdimo, maior acionista “extra clube” da sociedade verde e branca, levou a SAD leonina à elaboração de um comunicado enviado esta terça-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

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Em resumo, há três ideias fortes que ressaltam do texto esta manhã revelado, sobretudo à luz da instabilidade diretiva que o clube atravessa e que foi potenciada à máxima escala com o “ultimato” de Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, dizendo que iria ponderar outras medidas caso Bruno de Carvalho não se demitisse: 1) todo o ambiente que foi criado desde a derrota em Madrid e, sobretudo, após a receção ao P. Ferreira está a ter efeitos prejudiciais na sociedade leonina; 2) serão marcadas Assembleias Gerais de acionistas, para debater a atual situação do futebol verde e branco, e de obrigacionistas, no intuito de empurrar o prazo de vencimento do atual empréstimo obrigacionista para mais tarde; 3) tudo o que for feito a partir daqui em termos “políticos” deverá ter em consideração as obrigações que a Sporting SAD tem.

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Recorde-se que o empréstimo obrigacionista em causa teve o BESI e o Millenium Investment Bank como coordenadores globais da organização, montagem e colocação e o BESI, o Millenium Investment Bank e a Caixa Banco de Investimento como líderes conjuntos. ActivoBank, Banco Best, BESI, Caixa BI, CEMG, CGD, Millenium BCP, Novo Banco e Novo Banco dos Açores formaram o sindicato de colocação. O primeiro dia de oferta foi a 7 de maio de 2015, havendo no final uma procura 2,57 vezes superior à oferta, naquele que foi o empréstimo obrigacionista de maior sucesso feito pela SAD do Sporting apesar de ter a segunda taxa de juro nominal mais baixa entre os cinco que foram realizados pela sociedade verde e branca.

Aqui fica na íntegra o comunicado enviado pela Sporting SAD à CMVM:

A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL – FUTEBOL, SAD (adiante Sporting SAD) vem, nos termos e para efeitos do cumprimento da obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 248º, nº1 al. a) do Código dos Valores Mobiliários, informar o mercado do seguinte:

1. No seguimento de negociação liderada pelo Presidente do Conselho de Administração, foi concluída com sucesso a negociação de uma nova reestruturação financeira, em condições favoráveis para a Sporting SAD, ajustadas à estratégia de investimento e de valorização de ativos que tem sido seguida pela actual Administração;

2. Como é público, está em curso uma nova emissão obrigacionista, no valor de 30 milhões de euros, que poderá ser aumentada por opção da Sporting SAD, face à procura que se estimava viesse a ocorrer, prevista ocorrer em maio de 2018, operação que é fundamental para o cumprimento de compromissos financeiros da Sporting SAD, maxime o reembolso do empréstimo obrigacionista emitido em 2015, com vencimento em maio de 2018, e ainda o financiamento de operações de tesouraria da SAD;

3. As recentes tomadas de posição públicas por terceiros vêm prejudicar gravemente a concretização da nova oferta obrigacionista; com efeito, a realização de uma possível Assembleia de Acionistas da Sporting SAD ou uma Assembleia Geral de sócios do SCP, quer para destituição dos seus órgãos sociais, quer para eleição de novos órgãos sociais, impediria a concretização atempada da referida nova oferta obrigacionista, desta forma colocando em causa os fins da mesma, concretamente o reembolso da atual emissão, e, consequentemente, a estabilidade financeira da Sporting SAD.

4. Tais declarações públicas foram, por isso, extemporâneas e lesivas, até atendendo aos resultados financeiros positivos no Clube e na Sporting SAD; nestes termos, não existem quaisquer motivos para as declarações e pretensões formuladas.

5. O acima referido, nos pontos 3 e 4 supra, tem igualmente influência negativa na valorização da sociedade desportiva, pelos efeitos negativos no valor das ações da mesma.

6. Dando cumprimento às incumbências estatutárias para as quais foi eleito, o Conselho de Administração irá solicitar ao presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sporting SAD que promova a convocatória de uma Assembleia Geral de acionistas da Sporting SAD a fim de deliberar sobre a emissão da referida nova oferta obrigacionista.

7. Adicionalmente, de modo a minimizar o impacto negativo para a Sporting SAD das posições públicas de terceiros, pelo atraso e consequências suscetíveis de provocar na nova emissão obrigacionista, o Conselho de Administração irá, igualmente, solicitar ao presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sporting SAD que promova a convocatória de uma Assembleia Geral de obrigacionistas, no âmbito da oferta obrigacionista emitida em 2015, a fim de deliberar sobre a prorrogação do prazo de reembolso final desta emissão, para nunca antes de Novembro de 2018.

Lisboa, 10 de Abril de 2018

O Representante das Relações com o Mercado