A “colheita” de miudagem mexicana tinha, por exemplo, o benfiquista Jiménez. E sobretudo Chicharito Hernández. Mas foi Herrera, um trinco, número seis impresso na camisola, o melhor jogador em Toulon, no torneio (desde 1967 um “viveiro” de novos talentos) que o México conquistou em 2012. A vida de Herrera mudaria após Toulon.

Antes, pouco ou nada era opção para Efraín Flores no clube onde se torna jogador, o Pachuca, tendo mesmo sido emprestado ao desconhecido Tampico Madero. Voltaria ao Pachuca. E logo após o torneio francês assume a titularidade. Assumiria também na principal seleção mexicana. Na Europa falava-se já de Herrera, que outrora trinco de “combate” era cada vez mais um box-to-box moderno. O FC Porto chega-se à frente e paga dezoito milhões de euros por ele. Herrera tornava-se, no Verão de 2013, no segundo jogador mais caro da história portista — só ultrapassado por Hulk, que havia custado vinte e dois milhões.

A adaptação foi demorada e Herrera, “molengão” para o futebol europeu, chegou até a jogar pela formação secundária dos portistas. O treinador Paulo Fonseca viu sempre em Herrera uma alternativa (a Lucho, Defour e, até, Josué…) e não uma primeira escolha. Chegaria Lopetegui. E chegaria Nuno após o espanhol. Herrera era cada vez mais primeira escolha. Mas não convencia. Era capaz do melhor e do pior. Depois de uma primeira exibição que convencia a bancada, seguiam-se várias em que se “arrastava” no relvado, sendo apupado pela mesma bancada. Era mal-amado.

Curiosamente, e sempre jogava pelo México — foi titular no Mundial 2014 ou na Copa América de 2016 –, voltava à Invicta com mercado, de tanto que enchia o relvado por lá. E todos os Verões aumentava o rol de interessados, de Itália, Alemanha, Inglaterra ou Espanha. Não sairia. E assume a braçadeira de capitão. A antiguidade no Dragão e, sobretudo, o respeito que o balneário lhe tem, fê-lo carregá-la. O passe, longo ou curto, pode até sair transviado. O remate torto, tão torto. Aquele último drible empancou. Mas ninguém chegará ao final da partida com a camisola tão encharcada de suor como Herrera.

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No balneário tinha o respeito de todos. Nas bancadas não. E perderia o pouco que tinha em novembro de 2016. Um alívio disparatado de Herrera, cedendo um canto no último minuto, permitiu ao Benfica empatar no estádio do Dragão. Em dezembro, numa entrevista à revista Dragões, Herrera, o discreto Herrera, falaria pela primeira vez daquela noite horrível. E desabafou: “Fui julgado pelas pessoas. Pessoalmente, não senti culpa, pois não fiz nada de mal, como um autogolo, por exemplo”. Acaba por dar volta. Mas a temporada passada foi para esquecer. Ou melhor, recordar. Foi assim que deu: “A época passada foi difícil, mas se fizesse três golos num jogo continuaria a ser o mesmo. Quando as pessoas dizem que sou o melhor, não acredito. E quando dizem que sou o pior também não. Tento sempre ser crítico e sei quando estou bem ou quando estou mal, se tenho de melhorar isto ou aquilo. Esse momento serviu para me fortalecer”.

Agora, e depois do golo quase fora de horas ao Benfica, o FC Porto está mais perto do título. Herrera queria-o como ninguém. O próprio explicou em dezembro à Dragões: “Sou a pessoa que mais quer ganhar neste clube e nesta equipa. E tento demonstrá-lo no dia a dia. Ganhar no FC Porto é algo que anseio e desejo muito. Todos os anos lutamos pelo título e confesso que já estou cansado de não ganhar por este ou aquele motivo. A verdade é que eu e os meus companheiros temos uma crença enorme e acreditamos que este ano pode ser nosso”.