O caso de uma violação e assassinato de uma menina de oito anos no estado de Jammu e Kahsmir, na Índia, está a levar para a rua milhares de pessoas em protesto. O crime é de janeiro mas só na semana passada, quando um grupo de advogados e ativistas hindus tentou impedir a acusação dos suspeitos, é que ganhou visibilidade nacional.
A polícia indiana diz que a menina – que pertencia a uma comunidade nómada muçulmana – foi raptada enquanto cuidava de cavalos, num prado perto dos Himalaias. Dali foi levada para um templo hindu, onde foi drogada e permaneceu sequestrada durante cinco dias. Durante esse período, foi violada diversas vezes por vários homens, para depois ser morta e abandonada numa floresta nas redondezas.
As autoridades detiveram oito homens, todos eles hindus, que já foram presentes a tribunal na semana passada. Sete declararam-se inocentes e o oitavo, por ser menor de idade, vai ser julgado separadamente. O crime tem sido interpretado como uma maneira de assustar a comunidade muçulmana e, eventualmente, provocar a sua saída daquela região.
O assunto foi levado à escala nacional quando um grupo nacionalista – chamado Hindu Unity Council – acusou os investigadores de serem parciais e, por serem muçulmanos, estarem a obedecer à sua fé e não à lei indiana. O grupo tem ligações ao Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi: o crescente descontentamento da população tem pressionado o primeiro-ministro, que não comentou o caso até à passada sexta-feira, quando prometeu justiça para as “filhas” da nação.
A alegação de que o Partido Bharatiya Janata tem sido conivente com a proteção dos acusados agudizou-se com o surgimento de outro caso – que desta vez envolve um membro do partido. Kuldeep Singh Sengar, membro da assembleia legislativa da Índia, está a ser acusado de ter violado uma rapariga de 16 anos em junho de 2017.
A CNN conta que a polícia acusa Sengar de ter violado a menor e, na semana seguinte, ter participado no rapto e nova violação da estudante universitária. Semanas depois, foi encontrada pela polícia e levada até à esquadra mais próxima. Durante a viagem, as autoridades tentaram intimidar a rapariga, ao dizer que Kuldeep Singh Sengar iria mandar matar os seus familiares caso ela o acusasse. Já durante este mês de abril, o pai da menor foi agredido por um grupo de homens e acabou por morrer devido aos ferimentos. Um dia antes do pai morrer, a vítima – que agora já tem 17 anos – tentou imolar-se em frente à residência do governador do estado onde vive. Já o político foi detido na passada sexta-feira e permanece sob custódia do Central Bureau of Investigation.
Este domingo, milhares de pessoas saíram à rua em reação aos dois casos de violação. O envolvimento dos partidos políticos com a violência sexual – assim como o conflito religioso – tocou num nervo sensível, num país onde o estatuto da mulher e dos grupos minoritários ainda é visto como uma grande violação dos direitos humanos. Rahul Gandhi, o líder do principal partido da oposição, liderou uma vigília silenciosa em Nova Deli e dezenas de outros protestos tiveram lugar noutras grandes cidades, como Bombaim, Goa ou Bangalore.