O comentador político e antigo líder do PSD, Marques Mendes, considerou este domingo que Manuel Pinho devia ter vindo a público dar justificações aos portugueses, como ex-governante, depois de o Observador ter noticiado que o antigo ministro da Economia recebia 15 mil euros mensais do então líder do Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado. No seu comentário semanal na SIC, Marques Mendes disse que “é completamente inédito e grave um ministro receber 15 mil euros por mês de uma entidade privada” e que ficou “completamente surpreendido” com o caso. De tal forma que teve de ler duas vezes o artigo do Observador, já que “nem queria acreditar”.
Caso EDP. Pinho recebeu meio milhão do GES quando era ministro. Ricardo Salgado vai ser arguido
O comentador disse ainda que, independentemente do que decidir a justiça, no “plano político e ético”, o caso mostra “como funcionava Ricardo Salgado, que gostava de ter toda a gente na mão“, mas também “como se mata um ministro na sua independência e credibilidade“. Para o antigo líder social-democrata, este “complemento salarial” faria sempre com que o ministro estivesse condicionado. “Ricardo Salgado nem precisava de pedir”, justificou o comentador.
Marques Mendes lembrou que o advogado de Pinho, Ricardo Sá Fernandes, revelou que já pediu para Manuel Pinho ser ouvido no processo, mas isso não invalida que este dê explicações públicas, pois “enquanto antigo ministro tem essa responsabilidade”. O antigo líder do PSD disse ainda que concorda que os políticos são mal pagos, mas que “isso não é desculpa para o que Manuel Pinho fez.”
“Costa não faz mais acordos porque a fotografia que precisava, já tem”
Sobre os acordos na área da descentralização e dos fundos comunitários — assinados entre os líderes do PS e do PSD a meio da semana — Marques Mendes diz que são positivos, tanto para António Costa como para Rui Rio. E para o Presidente da República, que sempre defendeu estes acordos e “lá influenciou” para que acontecessem. O ex-líder do PSD disse ainda que Costa não fará mais acordos até ao fim da legislatura, uma vez que “a fotografia que precisava, já a tem“.
Costa sai beneficiado, segundo o antigo líder do PSD, porque mostra que “é um político de diálogo, moderado, à direita e à esquerda, irritando um pouco os seus parceiros e ganhando capacidade negocial”. O facto de irritar PCP e BE já terá tido “resultados”: “Jerónimo de Sousa, ontem em entrevista ao Expresso, fala numa “geringonçazinha” depois de 2019, mas já é um recuo, porque, antes disso, andava a dizer cobras e lagartos do Governo. Catarina Martins, que na semana passada parecia que ia derrubar o Governo por causa do Programa de Estabilidade, agora apresentou um programa com recomendaçõezinhas e nem admite chumbar o Programa de Estabilidade”. Por isso, para o comentador, “António Costa tem os [parceiros de coligação] manifestamente na mão“.
Quanto a Rui Rio, no entender de Mendes, o acordo com Costa ajuda a dar mais força à “ideia de que é um político sério e responsável“. O comentador recomenda, porém, que mude de página e acelere na oposição: “Rui Rio tem de dizer, setor a setor, ao país no que é que é diferente do Governo e do que seria diferente se fosse Governo. Porque, caso contrário, aos olhos das pessoas vai parecer igual a Costa. E aí, as pessoas preferem o original à cópia“.
Marques Mendes classificou, no entanto, como “trapalhada” o facto de o líder parlamentar, Fernando Negrão, e o presidente Rui Rio terem opiniões diferentes na questão do fim dos cortes de 5% nos gabinetes ministeriais. O comentador não tem dúvidas de que “o que aconteceu ali foi uma trapalhada” e que “pelos vistos” Negrão e Rio “não falam” ou “não falam o suficiente”. O partido a falar a duas vozes é, neste caso, um “exemplo de amadorismo, por um lado, e trapalhada, por outro“. E sugere: “Podiam ao menos usar um SMS, um WhatsApp. Podíamos recomendar que usassem o WhatsApp”.
Numa semana também marcada pelo caso das viagens dos deputados das ilhas — que recebem duplamente abonos de deslocação aos arquipélagos — Marques Mendes considerou que este recebimento é legal, mas “não é eticamente aceitável“. O antigo presidente do PSD criticou ainda as palavras de Ferro Rodrigues, que “os deputados não cometeram nenhuma ilegalidade, tendo beneficiado dos abonos e subsídios que sempre existiram, sem polémicas ou julgamentos de caráter”. Para Mendes, Ferro esteve “pessimamente” e fica “a sensação que o fez por razões partidárias”, já que “do ponto de vista pessoal pode dizer o que quer, mas, na Assembleia da República, quem tem de se pronunciar sobre estes assuntos não é o presidente, é a Comissão de Ética”.