Na realidade, a polícia não fez mais do que acomodar os desejos do condutor, um inglês proprietário de um Model S 60, uma das primeiras unidades que ainda permitiam que se conduzisse indefinidamente sem colocar as mãos do volante. O condutor deu provas de que gostava de se deslocar sentado no banco do lado, esticado e com os braços dobrados atrás da nuca, a fazer de almofada. Pois bem, a polícia de Hertfordshire condenou-o a fazer isso mesmo durante os próximos 18 meses.
Aparentemente, Bhavesh Patel, de 39 anos, fazia isto com alguma frequência, sobretudo desde que adquiriu o Tesla usado, há cerca de cinco meses. Apesar de a marca americana afirmar que continua a instalar regularmente over the air actualizações e melhorias ao seu sistema de condução semiautónoma Autopilot, além de ter introduzido recentemente o Autopilot 2, ainda mais eficaz, o condutor acha que o seu Model S 60 (dos mais antigos e, por isso mesmo, com uma das primeiras unidades do sistema) está perfeito tal como está. Sempre que podia ligar o Autopilot, saltava para o banco do lado, onde se deitava confortavelmente, descansando enquanto os condutores à sua volta se enfureciam com o trânsito.
O veículo em causa não se viu envolvido em nenhum tipo acidente, teve (apenas) azar em ser apanhado. Quando circulava na M1, deitado no banco do lado, enquanto o Tesla se conduzia sozinho a 65 km/h, sob um trânsito descrito como intenso, Patel foi filmado por um dos veículos que ultrapassou. O vídeo foi parar às redes sociais e daí até chegar à polícia foi um instante. Identificado o condutor – fácil, pois no vídeo original via-se a matrícula – este foi obrigado a admitir que tinha sido parvo, mas sobretudo azarado, por ter sido apanhado.
Obviamente satisfeita com a postura responsável de Patel, a polícia contactou a Tesla, que lhe explicou que o Autopilot é vendido como um sistema de ajuda à condução, que o condutor nunca deve deixar de prestar atenção à estrada e cumpre-lhe estar sempre pronto a intervir e assumir o controlo do veículo, o que dificilmente Patel poderia fazer a passar pelas brasas no assento do lado. Vai daí, considerou que Patel “foi altamente irresponsável, que facilmente poderia ter provocado uma tragédia, colocando a sua vida e as dos outros, em perigo”. Patel ainda tentou defender em tribunal as excelentes qualidades do Autopilot, mas nada disso “amaciou” a vontade do juiz de lhe aplicar uma punição exemplar. Resultado: 100 horas de trabalho comunitário, 10 dias de reabilitação e um pagamento de 2.045€. E 180 dias condenado a ocupar qualquer outro lugar do automóvel, contando que não seja aquele atrás do volante, onde aparentemente nem gosta de estar.