Cinco deputados do PSD que são (ou foram) dirigentes da bancada ou do partido defendem — num artigo publicado esta sexta-feira no Observador — que o PSD tem o dever de não se calar e de não evitar a discussão sobre o caso Sócrates e as ligações ao atual Governo do PS, mesmo que isso prejudique a relação entre Rio e Costa. Os mesmos deputados dizem ainda que “seria inaceitável e até suspeita a não recondução de Joana Marques Vidal na PGR”. Hugo Soares, Margarida Balseiro Lopes, Miguel Morgado, António Leitão Amaro e Duarte Marques sugerem assim que o PSD liderado por Rui Rio deve defender a continuidade da PGR e não deixar cair no esquecimento que há ministros de Costa que foram ministros de Sócrates.

A corrupção e a responsabilidade política

O artigo, que tem como título “A corrupção e a responsabilidade política“, é escrito por deputados com peso na bancada: um antigo líder parlamentar (Hugo Soares), um atual vice-presidente da bancada (António Leitão Amaro), a rfecém eleita líder da JSD (Margarida Balseiro Lopes), um antigo vice-presidente da bancada (Miguel Morgado) e um ex-líder da JSD (Duarte Marques). Os cinco deputados advertem que uma boa relação com o PS não justifica o silêncio sobre uma matéria tão importante:

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É o nosso dever indeclinável não calar, nem evitar a discussão do maior escândalo da história da nossa democracia, independentemente dos equilíbrios político-partidários que isso possa pôr em causa, ou dos interesses particulares que possa ferir”.

Os deputados do PSD exigem que se leve “até às últimas consequências o apuramento das responsabilidades políticas de todos os envolvidos” e que o PSD contribua “para a regeneração da cultura política rumo a mais responsabilidade, mais transparência, mais robustez institucional, mais resistência às sucessivas tentativas de infantilização e manipulação da opinião pública, com o recurso sistemático à mentira, à propaganda e à opacidade”.  E acrescentam que, “neste cenário, seria inaceitável e até suspeita a não recondução de Joana Marques Vidal na PGR“.

E visam os ministros de Costa (e o próprio António Costa) que estiveram no Governo de Sócrates. Os deputados registam que “o que foi verdadeiramente estranho nestes últimos três anos foi assistir, sem que houvesse um pingo de indignação, protesto, vergonha ou contrição, à transferência do núcleo duro do governo Sócrates para o novo governo apoiado pela Geringonça“. E recordam: “São os mesmos. E nenhum deles quer assumir qualquer responsabilidade.”

Segundo os sociais-democratas estão a repetir-se com Costa “os sinais do mesmo modelo de governação e conceção de poder” de Sócrates, que “estes mesmos políticos resolveram retomar desde o final de 2015, como se não soubessem agir de modo diferente porque a conduta do passado se tornou uma espécie de segunda natureza“.

Sobre essa conduta que se repete no atual Governo, os deputados dizem que “os exemplos não escasseiam” e imputam ao executivo de António Costa características que dizem fazer lembrar o Governo de Sócrates: o papel obscuro na governação de um amigo pessoal do primeiro-ministro, a interferência arbitrária na vida interna de empresas privadas, a guerrilha com as autoridades independentes de regulação, a colonização do Estado e da sociedade, os relatórios desfavoráveis que ficam escondidos, a informação sonegada ao Parlamento, a hostilidade ao escrutínio, os SMS a jornalistas incómodos, o uso despudorado dos meios públicos para propaganda partidária, a subversão das Comissões Parlamentares de Inquérito, e por aí em diante”.

Os deputados advertem que nos tempos de Sócrates tudo passou “completamente impune” e que por isso o PSD não pode “permitir que tudo isto volte a acontecer”. E esse, advertem, “será o resultado mais previsível amanhã se todos nos reduzirmos hoje ao silêncio e à complacência. Chegou, portanto, a altura de falar e de agir”. O agir é um apelo a à bancada do PSD e à direção de Rui Rio para que não deixem cair o caso Sócrates e a ligação do antigo primeiro-ministro aos atuais ministros.

Na reunião de bancada do PSD, realizada na quinta-feira, alguns deputados já tinham defendido a continuidade de Joana Marques Vidal.

Deputados do PSD defendem recondução da PGR e sugerem a Rio que a exija publicamente