O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, deu esta quinta-feira a entender que nunca trabalhou com Manuel Pinho no Governo — mas teve uma colaboração com ele em 2007. E até elogiou essa parceria publicamente por duas vezes. Contactado pelo Observador sobre esta aparente contradição, o ministro da Economia não quis fazer comentários.

Esta quinta-feira, o ministro foi questionado sobre se estava confortável com a auditoria pedida pelo CDS ao Ministério que lidera — depois de ser conhecido o caso Pinho — e não só sublinhou que estava “muito confortável”, como também quis desfazer o “equívoco” sobre ter sido assessor de Pinho na Economia. Foi a líder do CDS que fez esta associação, no debate quinzenal de quarta-feira, ao revelar “alguma estranheza que, pelo menos, em relação ao Ministério da Economia não seja feito um escrutínio e uma auditoria interna muito profunda para perceber o que aconteceu, então, quando, de resto, tínhamos um atual ministro deste Governo que era assessor daquele gabinete”.

Ministro da Economia diz que não foi assessor de Manuel Pinho

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Nas declarações desta quinta-feira, Caldeira Cabral afirmou que o seu trabalho como assessor da Economia só começou quando Fernando Teixeira dos Santos acumulou a pasta com a das Finanças, em julho de 2009, depois da demissão súbita de Pinho (e do episódio dos corninhos em plena Assembleia da República). Acrescentou que continuou com Teixeira dos Santos, no Governo seguinte, nas Finanças, também como assessor. Já sobre a colaboração com Manuel Pinho, nada disse. No entanto, trabalhou com o ex-ministro em 2007, no âmbito do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia liderado por Pinho.

Elogios a Pinho em entrevistas

Essa colaboração consta no currículo de Caldeira Cabral, que foi professor na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, na parte relativa aos projetos onde participou: “2007 – Export Diversification and Technological Improvement: Recent Trends in the Portuguese Economy. Estudo coordenado por Manuel Caldeira Cabral, com o apoio da Mestre Elsa Sarmento (Universidade de Aveiro e GEE – Ministério da Economia e Inovação), Dra. Vanessa Leite (GEE – Ministério da Economia e Inovação) e Dr. João Castilho Dias (GEE – Ministério da Economia e Inovação). Projecto de investigação patrocinado pelo Ministério da Economia e Inovação, do Governo Português“.

Além disso, o próprio ministro já sublinhou publicamente a relação de trabalho que manteve — e que agora não refere — com Manuel Pinho. Numa entrevista ao Diário de Notícias, em agosto de 2016, Caldeira Cabral foi questionado sobre a relação que mantém com os antigos ministros Manuel Pinho e Teixeira dos Santos. A resposta: “São pessoas que aprecio. Gostei muito de trabalhar com Manuel Pinho e com Fernando Teixeira dos Santos. Ainda me encontro com qualquer dos dois, sempre com imenso prazer“.

Em 2013, quando colaborou com António José Seguro, então líder do PS, como conselheiro em matérias relativas ao Quadro Comunitário de Apoio e os fundos comunitários, Caldeira Cabral fez questão de sublinhar ao jornal Público que trabalhou “com Manuel Pinho e com Teixeira dos Santos nas Finanças”, fez “estudos para os dois” e acompanhou “o trabalho por dentro”. A referência à colaboração com os antigos ministros é feita sem distinção, com Caldeira Cabral a referir que “fez estudos para os dois”.

Em abril, o Observador noticiou que a offshore de Manuel Pinho recebeu cerca de 1 milhão de euros do saco azul do GES entre 2006 e 2012, um período que coincidia em três anos com o tempo em que esteve no Ministério da Economia, no primeiro Governo de José Sócrates. Na semana passada, o PS mudou de tom em relação aos casos de justiça que envolvem governantes seus — o de Sócrates incluído — e passou a dizer claramente que seria uma “desonra”, nas palavras de António Costa, se os casos se confirmassem.