À medida que os dias vão passando, mais pormenores se vão conhecendo sobre o ataque de cerca de 50 elementos (ou menos, como veremos abaixo) à Academia Sporting, coração do futebol profissional dos leões. As agressões a vários jogadores quando se percebe claramente que havia sobretudo quatro bem identificados pelos invasores. O lançamento de tochas no balneário que adensou o clima de pânico e terror que se viveu. A clara convicção de que os autores do ato conheciam as instalações do clube em Alcochete, nomeadamente a zona de entrada e saídas no edifício central. A ligação de alguns dos elementos à principal claque verde e branca, a Juventude Leonina. A utilização de bastões de ferro e cintos para uma ação planeada.
O Observador já tinha revelado as principais linhas dos depoimentos de Jorge Jesus, técnico principal do Sporting que foi também um dos agredidos no ataque, e Bas Dost, o jogador que ficou com mais marcas do bárbaro ato, ao mesmo tempo que avançou com os quatro nomes identificados pelos indivíduos como principais alvos da ação: os capitães Rui Patrício e William Carvalho e os argentinos Battaglia e Acuña. O Expresso revelou esta quarta-feira testemunhos de mais de 20 elementos do plantel, entre atletas e staff, a que o Observador teve também acesso. E sobram ainda alguns pormenores que são pontos chave dos momentos de terror vividos na Academia que poderão fazer a sua diferença neste caso mas não só.
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O medo de retaliações, no dia e numa perspetiva futura
Entre os vários testemunhos, existe um ponto comum de que nunca ninguém pensou que algo desta dimensão pudesse um dia acontecer. Houve jogadores e outros membros do plantel agredidos, outros que acabaram por sofrer “danos colaterais” por terem tentado defender os companheiros (e amigos), outros que ficaram com medo e em choque com tudo o que presenciavam à sua frente. No entanto, para alguns, este não é um capítulo encerrado: Battaglia e João Palhinha assumiram que estavam com receio nesse mesmo dia que pudessem ser alvo de uma retaliação no regresso às respetivas casas; e pelo menos cinco elementos assumiram o medo que a situação se pudesse um dia repetir e até com maiores proporções, como os jogadores Fábio Coentrão, Rúben Ribeiro e Doumbia, o fisioterapeuta Ludovico Marques e o diretor do departamento de scouting Manuel Fernandes.
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O número variável de indivíduos que invadiu as instalações
Desde o início de todo este processo que existe um número referência de invasores da Academia, cerca de 50, mas também há informações cruzadas que apontam para cerca de 40 e com “apenas” 30 a acederem realmente à zona dos balneários da equipa de futebol profissional do Sporting. O cruzamento entre os testemunhos, os depoimentos dos 23 detidos e as imagens das câmaras de vídeovigilância no local servirá para efetivar realmente um número exato, mas é percetível pelos jogadores de que a confusão e o pânico foram de tal forma que se tornou complicado perceber quantas pessoas estavam de facto no local. O lateral Piccini e o médio Misic recordam 15 a 25 indivíduos; o treinador Jorge Jesus, Ludovico Marques e o médio Petrovic referem um número entre 20 e 30, ao passo que Salin relembra 20 a 40; Manuel Fernandes falou em 30 mais um segundo grupo que se apresentou de cara destapada; Battaglia e Doumbia fazem alusão a cerca de 30 ou 40; José Carlos Laranjeira, do departamento de scouting, apontou para 40; Coentrão diz cerca de 50; e Palhinha divide entre um grupo de 20/30 e outro com mais 15 ou 20.
As identificações possíveis, com um dente prateado à mistura
Existem alguns depoimentos que fogem a um ponto que é transversal a quase todos os elementos que foi ouvidos na GNR: as dificuldades em identificar os agressores no balneário, pelo facto de estarem quase todos de cara tapada e com roupas escuras muito semelhantes. Alguns atletas, entre os quais dois que foram agredidos, conseguiram ainda assim fazer as descrições possíveis do que tinham visto, com um ou outro pormenor que pode ajudar as autoridades a perceber quem fez o quê. E Rafael Leão admitiu ter reconhecido um antigo colega de turma no 10.º ano na Escola Secundária de Alcochete. Em testemunhos de elementos que não jogadores há um nome comum, que não terá entrado no balneário mas que estava presente na Academia por altura dos tumultos e de cara destapada: Fernando Mendes, ex-líder da Juve Leo, a quem Jorge Jesus pediu ajuda.
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O conhecimento das instalações que surpreendeu os presentes
Entre os testemunhos, a grande maioria admite que não imaginava uma situação como esta, embora tivesse havido uma espécie de aviso prévio de elementos que chegaram um pouco mais tarde e que teriam visto um grupo de pessoas encapuçadas a rumar à Academia, algo que foi comentário no balneário. Os responsáveis ainda tentaram fechar as portas do balneário mas já não foram a tempo. Ainda assim, entre jogadores, elementos da equipa técnica e do staff que não foram surpreendidos já sem hipótese de fuga, existe a convicção não só de que se tratava de uma ação planeada como, ponto importante, os invasores tinham a perfeita noção de qual era a porta que deviam procurar (e posteriormente bloquear, por não haver outra saída que não fosse essa).
Os quatro grandes alvos do ataque e as frases que foram proferidas
Como o Observador tinha revelado no passado sábado, havia quatro “alvos” identificados nas agressões na Academia na semana passada: Rui Patrício e William Carvalho, os capitães, e Acuña e Battaglia, os dois argentinos. E por razões distintas: os internacionais portugueses, que estão convocados para o Campeonato do Mundo, não só já tinham sido insultados no piso -2 das garagens de Alvalade como eram vistos como os líderes da “rebelião” do balneário após o momento conturbado que se seguiu à derrota em Madrid; os sul-americanos, que estavam os dois na lista de 35 pré-convocados mas apenas um estará no Mundial (o ala esquerdo), trocaram palavras mais azedas na Madeira, ainda no estádio e no aeroporto, e em Alvalade com alguns dos elementos que foram a Alcochete, havendo uma notória vontade de retaliação, conforme se perceber nos testemunho. Algumas frases ouvidas durante a ação: “Não te metas que isto não é nada contigo, senão vais morrer”, quando Bruno César tentou evitar que fossem para cima de Battaglia; “Tira essa camisola, não te queremos mais aqui”, atiraram para William Carvalho; “Faz tempo que te queres ir embora, tira essa camisola que não te queremos aqui”, disseram a Rui Patrício; “Tu não tens nada a ver com isto”, comentaram com Rafael Leão; “Não querem jogar, onde está o Acuña e o Battaglia?”, perguntaram a Montero.