Dos quatro Grand Slams do circuito internacional de ténis, apenas um tem o nome de uma pessoa. O torneio de Roland Garros, também conhecido como Open de França, foi baptizado em honra a um aviador e herói francês da 1.ª Guerra Mundial que nunca foi tenista. Nem sequer atleta.
Depois de se licenciar em gestão, Roland Garros decidiu aventurar-se pela aviação e comandou um monoplano Demoiselle antes ainda de tirar o brevet. O gosto pela velocidade e pela adrenalina seduziram-no até aos mais rápidos monoplanos Blériot: participou na corrida aérea Paris-Madrid e no Circuito Europeu (Paris-Londres-Paris). Ficou em segundo na corrida europeia, mas esse seria apenas o primeiro feito de Roland aos comandos de um avião.
Em setembro de 1911, bateu o recorde mundial de altitude ao voar a 3.950 metros de altura. No ano seguinte, depois do austríaco Philipp von Blaschke ultrapassar a marca, Roland Garros recuperou o recorde ao pilotar um avião a 5.610 metros de altura. Em 1913, começou a pilotar os mais rápidos Morane-Saulnier e tornou-se o primeiro homem a sobrevoar todo o Mediterrâneo sem fazer qualquer paragem: começou a viagem em Fréjus, no sul de França, e só parou 1.209 quilómetros depois, em Bizerte, no norte da Tunísia.
Com o início da 1.ª Guerra Mundial, alistou-se na Força Aérea francesa. Em 1915, foi obrigado a fazer uma aterragem de emergência e não conseguiu colocar em marcha a auto-destruição da aeronave antes de aterrar no lado alemão das trincheiras. Foi preso pelas tropas alemãs e permaneceu num campo de prisioneiros de guerra durante três anos: organizou e planeou várias tentativas de fuga até à que deu certo, em fevereiro de 1918. Alistou-se novamente assim que se viu em liberdade mas a nova missão só durou oito meses. Em outubro, o avião em que pilotava foi atingido e despenhou-se. Roland Garros morreu a 5 de outubro de 1918, um dia antes de fazer 30 anos e um mês antes do fim da Primeira Guerra.
Em 1928, depois de René Lacoste, Henri Cochet, Jacques Brugnon y Jean Borotra – os “quatro mosqueteiros” do ténis francês – vencerem a Taça Davis em Filadélfia, era necessário construir em Paris um novo estádio para receber a defesa do título frente aos Estados Unidos. Roland Garros era um convicto adepto de ténis, embora nunca o tivesse praticado, e a Federação Francesa de Ténis decidiu atribuir ao novo estádio o nome deste herói da 1.ª Guerra Mundial. O Stade Roland Garros acolhe, desde 1928, o Les Internationaux de France de Roland-Garros e tem o nome do aviador aventureiro que foi prisioneiro de guerra e recebeu a Ordem Nacional de Legião de Honra de forma póstuma.
O centenário da morte de Roland Garros assinala-se em outubro mas as homenagens já começaram desde o dia 21 de maio, data em que começou a edição deste ano do Open de França. Um dos maiores torneios de ténis a nível internacional honra assim o homem que lhe dá nome e nunca foi tenista.