Eis a história de uma startup que nasceu por culpa de Aquiles, um eterno fugitivo. Não, não falamos do herói da mitologia grega e personagem principal da Ilíada. Esse, conforme escreveu Homero, era um guerreiro valente, o melhor de todos os heróis que se reuniram contra Troia. É uma história que já todos conhecem, por culpa dos seus calcanhares, tendões ou do seu gosto por história e mitologia, pelo que não valeria a pena ser por nós recontada. A história que aqui contamos é a do cão Aquiles, animal de estimação de Virgílio Bento, que fez com que fundasse a Findster, uma empresa portuguesa que visa impedir que donos e respetivos animais de estimação se percam um do outro. Como? Através de uma tecnologia que lhes valeu um investimento de 3 milhões de euros.
Reza a lenda (contou-nos André Carvalheira, chefe de operações) que Aquiles teimava em fugir de casa ou durante os passeios com o seu dono. Virgílio, determinado a encontrar algo que ajudasse a encontrar o seu cão sempre que este lhe fugia, procurou por dispositivos GPS que lhe permitissem localizar Aquiles assim que este desaparecesse. No mercado, nada encontrou.
“Os produtos que existiam não eram uma solução”, explicou André. À venda, só existiam serviços “reativos e não preventivos”, que avisavam o dono de que tinha ocorrido uma fuga “com atrasos de 15 minutos” e pelos quais era necessário pagar mensalidades. Como as soluções que existiam no mercado não serviam, Virgílio decidiu criar uma em conjunto com David Barroso e Paulo Fonseca, os outros dois fundadores da empresa, que se encontra sediada no Porto.
Juntos desenvolveram uma tecnologia proprietária que permite que a comunicação entre o aparelho e a aplicação móvel, através da qual é feita a monitorização do animal de estimação, seja feita em tempo real e sem custo mensal. “Chama-se Maze e é, na prática, a base de todos os nossos produtos”, referiu o chefe de operações. Enquanto que outras soluções do mercado possuem uma tecnologia celular, que funciona como se fosse um cartão SIM e requer que seja feita comunicação com um satélite, a tecnologia da Findster não necessita de o fazer, garantindo a comunicação em tempo real, explicam.
O Findster, ou “Findster Duo +”, consiste em dois módulos, um para o animal de estimação e outro para o dono, a que chamam Guardian, e que conseguem estabelecer comunicação entre ambos num raio de 4,8 quilómetros. O primeiro recolhe informação como localização e dados de identidade do pet (animal de estimação), que é transmitida através da tecnologia Maze para o segundo módulo, que fica com o dono. Este último serve de ponte para a comunicação entre o primeiro módulo e a aplicação no telemóvel, onde são recebidas as informações.
“Embora tenhamos levado mais tempo a entrar no mercado do que os nossos competidores, temos um sistema fidedigno, conseguimos ter uma comunicação em tempo real. No momento em que o cão foge, a pessoa é notificada e pode reagir”, disse André Carvalheira. “Quinze minutos é muito tempo. O cão pode já ter sido atropelado ou estar muito longe de casa.”
Graças à tecnologia de que é proprietária, a Findster não necessita de cobrar mensalidades aos clientes, oferecendo uma solução pela qual se paga uma vez: 149,99 euros por um tracker, 199,99 euros por dois e 249,99 euros por três. De momento, o “Findster Duo +” só está à venda no próprio site da marca, mas a empresa planeia lançar-se na Amazon e em outras plataformas do género no final deste ano. O retalho físico, “ainda não é um objetivo”, afirmou André, sublinhando que a Findster acredita “que ainda há uma oportunidade muito grande no online”.
“Os consumidores estão cada vez mais a comprar online, é uma tendência que é clara, embora a maioria das compras ainda seja feita em retalho físico. O online dá-nos uma flexibilidade para aprender mais rápido”, considerou.
Não tivesse sido o online, talvez a história tivesse sido outra para a Findster. Através de várias campanhas de angariação de fundos na plataforma Indiegogo, a startup portuguesa recebeu mais de 400 mil dólares em encomendas. “Esse foi o momento em que percebemos que isto realmente não era só uma ideia e uma necessidade nossa, mas de muita gente, em todo o mundo, e que podia ser algo que mudasse um bocadinho o jogo dentro dos dispositivos de localização existentes”, referiu o chefe de operações da Findster.
Após o crowdfunding, a empresa portuguesa angariou 150 mil euros juntos de vários investidores business angels e, no início de 2018, levantou uma ronda de investimento de 3 milhões de euros. A previsão da Findster é a de que, em 2017, o valor das vendas atinge um milhão de dólares. Nestes primeiros meses de 2018, segundo André, a empresa já faturou mais “do que em todo o ano passado”, algo que inspira confiança à empresa que tem o foco de se tornar “a maior pet tech [empresa de tecnologia para animais de estimação] do mundo”.
Para o conseguirem, precisam de resolver questões como a da produção, que ainda não consegue acompanhar as vendas. “É uma dor de cabeça, porque os clientes obviamente ficam impacientes por não receber a encomenda mal compram”, disse André, apontando o próximo trimestre como sendo a altura em que vão conseguir “começar a enviar [o produto] assim que o cliente compra”. Contudo, considerou o managing director da Findster, “o grande desafio será sempre conseguir chegar aos donos de animais de estimação”, seja através de inovações ao produto ou estando em mais canais.
“Temos noção de que não é um produto fechado, de que podemos oferecer outras coisas”, afirmou. “Por isso, um desafio muito grande vai ser conseguir perceber para onde é que temos de caminhar e que serviço é que temos de oferecer.”
*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.