O Sporting continua envolto num cenário Twilight Zone, onde duas realidades vão fazendo a sua vida de forma paralela antes do inevitável choque que ocorrerá, mais tardar, entre 17 e 23 de junho. Aliás, nesta altura a única figura que pode ainda assim dar alguma clareza arbitral nesta dimensão institucional do clube parece ser externa: os tribunais.
Recuemos então neste filme para apanhar o fio à meada e explicar os últimos acontecimentos, que acabaram por surpreender todos aqueles que já pareciam não conseguir surpreendidos por qualquer ação e medida.
Na passada terça-feira, e depois de Jaime Marta Soares, líder demissionário da Mesa da AG, ter anunciado a criação de uma Comissão de Fiscalização à luz dos estatutos que funcionaria até novo ato eleitoral para o órgão como Conselho Fiscal e Disciplinar (que também perdeu quórum, depois da renúncia de seis elementos), o Conselho Diretivo, através do porta-voz do presidente, Fernando Correia, anunciou logo aí que a entrada dessas pessoas nos escritórios ou serviços do clube estava vetada por não cumprirem os requisitos legais de funcionamento que Marta Soares alegava terem.
Na quarta-feira voltou a haver cruzamento de comunicados entre Mesa e Direção, no dia seguinte a bolha explodiu: a Mesa anunciou os nomes dessa mesma Comissão de Fiscalização (Henrique Monteiro, João Duque, António Paulo Santos, Luís Manuel Pinto de Sousa e Rita Garcia Pereira); o Conselho Diretivo provocou uma autêntica reviravolta ao afastar a Mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal e Disciplinar, nomear uma Comissão Transitória da Mesa (Elsa Tiago Judas, Trindade Barros e Yassin Nadir Nobre) – que por sua vez escolheu uma Comissão de Fiscalização (Subtil de Sousa, Miguel Varela, Sérgio Felix, Fernando Carvalho e Pedro Miguel Monteiro Carrilho) – e convocar uma Assembleia Geral Ordinária para dia 17 de junho, para aprovação do orçamento, alterações estatutárias e esclarecimentos aos sócios.
Jaime Marta Soares, enquanto líder demissionário da MAG, insurgiu-se, considerou que a medida era ilegal à luz dos estatutos (seja na parte de fazer cair a Mesa, seja na nomeação de uma Comissão Transitória), falou em “golpe de Estado”, convocou uma conferência para esta terça-feira e pediu às autoridades públicas para tomarem medidas em relação ao que se passava no Sporting, por tratar-se de uma instituição de utilidade pública. No entanto, com a entrada das rescisões de Rui Patrício e Daniel Podence, a hipótese de haver mais revogações de contrato e a provável saída de Jesus, as coisas “acalmaram”. Até hoje.
Reviravolta no Sporting: Direção substitui Mesa com Comissão Transitória e anula AG de destituição
Este domingo, de uma maneira algo despercebida, houve mais guerra de palavras em torno de toda esta questão. Elsa Tiago Judas, líder da Comissão Transitória nomeada pelo Conselho Diretivo, falou na Sporting TV; Jaime Marta Soares, presidente demissionário da Mesa da Assembleia Geral, reagiu em vários órgãos; Dias Ferreira, antigo líder da Mesa, escreveu uma carta aberta a Elsa Tiago Judas; e Miguel Poiares Maduro, que chegou a ser equacionado para a Comissão de Fiscalização (a de Marta Soares e não a de Bruno de Carvalho, para balizar esta complexa questão), escreveu também um longo post no Facebook. No entanto, a grande “resposta” da Mesa demissionária estava guardada para esta segunda-feira.
Sporting. Mesa da AG fala em “golpe de Estado” e pede às autoridades públicas para tomarem medidas
Ao cumprir os requisitos de anúncio de uma reunião magna, nomeadamente no que diz respeito à marcação da mesma através de anúncios em jornais desportivos e generalistas com pelo menos 15 dias de antecedência, Jaime Marta Soares efetivou a Assembleia Geral Extraordinária para destituição dos sete membros do Conselho Diretivo que se mantêm em funções: Bruno de Carvalho, Carlos Vieira, Rui Caeiro, Alexandre Godinho, Luís Roque, Luís Gestas e José Quintela. Ou seja, e depois de Bruno de Carvalho ter comunicado aos sócios que a AG de dia 23 de junho no Altice Arena não existe, Marta Soares anunciou a todos os associados verde e brancos que essa mesma AG está marcada e validada com um outro pormenor – a convocatória tem como data de “apresentação” 28 de maio, ou seja, a passada segunda-feira. Um ponto importante: o líder demissionário do órgão comunicou por email a formalização da mesma, para que pudesse contar no Jornal e no site do clube.
Jaime Marta Soares não conseguiu validar assinaturas para AG de destituição de Bruno de Carvalho
A novidade surge num dia que se prevê preenchido em Alvalade: o movimento “Eleições no Sporting Já!”, que tem como principal subscritor o sócio Bernardo Froes e que conta com cerca de 2.400 apoiantes, marcou para esta segunda-feira uma manifestação pacífica junto ao Edifício Visconde de Alvalade a partir das 20 horas, pedindo não a realização da dita AG de dia 23 mas sim um ato eleitoral antecipado para que todo este imbróglio possa ser resolvido dando voz aos associados; em paralelo, começou também a surgir através das redes sociais um contra movimento sem nome mas com uma ideia bem presente (“Todo o exército do nosso presidente esta segunda-feira presente no estádio”) que se pretende manifestar contra aquilo que considera ser um “assalto ao poder”. Local? Edifício Visconde de Alvalade. Hora? 20h…