Vera Guedes de Sousa, estudante de Medicina, não é a autora do cartaz “Não matem os velhinhos”, mas foi ela quem o segurou, levantou acima dos ombros, aquando da manifestação contra a despenalização da eutanásia, no mesmo dia em que a Assembleia da República chumbou os quatro projetos de lei que pretendiam despenalizar a morte medicamente assistida, no passado dia 29 de maio.
O cartaz em questão tornou-se de tal forma viral que a jovem sentiu necessidade de se defender: num longo texto publicado esta segunda-feira na rede social Facebook, Vera Guedes de Sousa garante que prefere ser criticada por aquilo em que realmente acredita “e não pela imagem totalmente distorcida e ridícula que alguns procuraram criar”.
No post em questão — que poucas horas após a sua publicação já contava com mais de 1.600 ‘gostos’ e 34o ‘partilhas’ — a jovem escreve que a “multiplicidade de respostas que visaram ridicularizar este cartaz e quem o segurava”, de forma por vezes violenta, deixou-a “desolada e surpreendida”. “Apercebi-me da superficialidade e agressividade gratuita com que debatemos temas sociais nos órgãos de comunicação social e redes sociais, talvez porque pela primeira vez senti tudo isto na pele”, continua.
Como é evidente ninguém associa a eutanásia à “abertura da época de caça aos velhinhos”, como ouvi há dias na televisão. Não sendo eu a autora do cartaz, sei que o mesmo pretendeu sensibilizar as pessoas para a vulnerabilidade dos idosos caso a eutanásia venha a ser legalizada e promovida pelo Estado. A sua condição mais frágil e débil, possíveis fracos recursos económicos e falta de acesso a cuidados paliativos torna-las-á mais suscetíveis para pedir a morte caso esta opção seja legitimada pela Sociedade e facultada pelos serviços do Estado. Este é o verdadeiro significado do cartaz”, escreve Vera Guedes de Sousa.
A estudante de Medicina diz-se triste ao deparar-se com a possibilidade de que a profissão que “sonha” vir a exercer “possa ter no futuro uma função acrescida: o poder legal para matar” e que, na sua opinião, a morte medicamente assistida já é “uma prática atual e dever de todos os médicos — o de acompanhar o doente até ao fim da sua vida, prestando-lhe cuidado e atendimento.” “Na eutanásia, por sua vez, o médico torna-se o veículo da precipitação da morte do doente”, afirma.
Neste momento, mais de 70 mil pessoas não têm acesso a Cuidados Paliativos. Esta sim devia ser a luta dos portugueses e dos seus representantes políticos. Como explicar a pressa na criação de uma lei que permitirá que pessoas sejam assistidas para morrer, quando não damos às mesmas os cuidados a que elas têm direito?
Vera Guedes de Sousa traz à conversa os países onde a eutanásia foi legalizada para escrever ainda que a prática “tem vindo a tornar-se progressivamente uma ‘solução barata’, ‘normal’ e até ‘útil do ponto de vista económico”.
Votos dispersos, chumbos inesperados. A radiografia de uma derrota no Parlamento