William Carvalho, Gelson Martins e Bruno Fernandes rescindiram com o Sporting, avançou o jornal Record. As cartas de rescisão já seguiram para a FPF, Liga de Clubes e Sindicato. Imitam assim as decisões tomadas antes por Rui Patrício e Daniel Podence. As três rescisões podem significar um prejuízo de cerca de 75 milhões de euros para o Sporting, tendo em conta o valor de mercado dos jogadores, calculado pelo site Tranfermarkt. De acordo com o jornal A Bola, os jogadores recuam na decisão se Bruno de Carvalho se demitir.
O Sporting confirma a receção das três cartas de rescisão. Deram entrada no clube pouco depois das 17h00, disse ao Observador o porta-voz do presidente Bruno de Carvalho, Fernando Correia. O departamento jurídico ainda está a analisar as alegações dos jogadores, pelo que o clube apenas fará comentários depois.
A SAD do Sporting já comunicou a receção das três rescisões à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), dando conta que foram recebidas “por email” e que os jogadores invocaram “justa causa“. O prazo legal para as rescisões por justa causa termina na quinta-feira, um mês depois do ataque ao plantel na Academia de Alcochete.
O médico e já anunciado futuro candidato a presidente do Sporting, Frederico Varandas, também já reagiu: “Isto é um pesadelo. O Sporting não pode continuar a ser gerido por Bruno de Carvalho.” O presidente da mesa da Assembleia Geral, Jaime Marta Soares diz que não quer “acreditar no que está a acontecer” e acusa, em declarações à TVI24, Bruno de Carvalho de “levar o Sporting para o abismo”.
Marta Soares apelou aos membros do Conselho Diretivo que ainda estão em funções para que se demitam e façam cair Bruno de Carvalho: “Basta demitir-se um para que caia o Conselho Diretivo e eu marque imediatamente eleições dentro do prazo legal. Garantiram-me que se houvesse uma rescisão saíram, pois não estão para pactuar com isto.”
O antigo presidente da Mesa da Assembleia-Geral, José Dias Ferreira, chama mesmo, também em declarações à TVI24, “criminoso” a Bruno de Carvalho e que “a única notícia boa” que pode ter nos próximos tempos é: “O presidente saiu”.
Prejuízo pode chegar aos 75 milhões de euros
O médio sportinguista Bruno Fernandes foi uma das peças fundamentais da última época e tinha uma clásula de rescisão de 100 milhões de euros. O internacional português tinha contrato até junho de 2020. Bruno Fernandes foi comprado no último verão à Sampdoria por 8,25 milhões de euros, tendo um valor de mercado que, segundo o site Transfermarket, ronda os 20 milhões de euros.
William Carvalho era um dos capitães e tinha uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. O médio e internacional português tinha contrato até junho de 2020, depois de ter renovado em 2016. O valor de mercado ronda os 25 milhões de euros.
Gelson Martins tem uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros e contrato até 2022, depois de ter renovado até 2017. Tal como William Carvalho e Bruno Fernandes, Gelson é internacional e é um dos 23 jogadores da seleção nacional que está no Mundial de 2018 na Rússia. O valor de mercado ronda os 30 milhões de euros.
Na carta de rescisão de Rui Patrício, o até agora capitão do Sporting alega que Gelson Martins foi avisado do ataque antes deste acontecer, mas só reparou na mensagem já após os incidentes:
De notar que o Gelson reparou, já depois de ter terminado o ‘ataque’, que tinha recebido uma mensagem de um adepto, seu conhecido e da claque, a avisar que os agressores estavam a chegar para fazer merda!!! Não existiram quaisquer dúvidas, muito menos para os jogadores, que os agressores eram elementos da claque Juve Leo”.
Rui Patrício foi, aliás, o primeiro jogador a enviar a carta de rescisão unilateral de contrato com o Sporting para Alvalade na manhã de 1 junho. Ao longo de 34 páginas, o guarda-redes expõem vários argumentos para a decisão, que incluem SMS do presidente Bruno de Carvalho para os jogadores, bem como publicações no Facebook e conversas que teve com o grupo sobretudo desde janeiro.
“Considero que uma sucessão de factos imputáveis à Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD são violadores das obrigações legais e contratuais que impendem sobre esta SAD, na qualidade de minha entidade empregadora, sendo os mesmos atentatórios da minha dignidade profissional e pessoal, tendo, além disso, colocado em causa a minha segurança e integridade física, fazendo-me temer pela vida e, sobretudo, inviabilizando as condições mínimas para exercer a minha atividade de jogador profissional de futebol ao serviço da Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD”, começa por destacar na missiva.
Rui Patrício apontou janeiro como o início de uma “pressão inaceitável em todos os jogadores e na equipa, insinuando que os maus resultados seriam responsabilidade de falta de profissionalismo dos jogadores”. Para isso, o guarda-redes coloca como prova SMS enviadas para si por Bruno de Carvalho enquanto capitão de equipa, após o empate do Sporting em Setúbal (1-1) consentido nos descontos com um penálti convertido por Edinho.
“Eu sou o presidente. Como tal, tenho de estar ao vosso lado nos bons e maus momentos. Mas eu também sou profissional e adepto deste clube que amo. Este resultado colocou-me num estado de nervos que não merecia. Tive de ser assistido no hospital. Eu não mereço, a minha família, que precisa de mim, não merece e os sportinguistas não merecem (…) Bem sei que nada se perdeu hoje sem ser dois pontos mas a verdade é que colocámos em tristeza profunda milhões de pessoas que só querem de vocês ser felizes. Que hoje tenha sido a nossa última frustração deste ano. Que a partir de agora só consigamos dar alegrias (…) Eu dou o que tenho e o que não tenho e não posso ter maus dias ou gerir bem e mal. Eu para colocar o Sporting onde está agora tive de nunca errar, lutar até quase à morte todos os dias, não permitir falhas e gerir cada desafio que tenho como uma batalha para vencer sempre pois só ganhando sempre se ganha a guerra. Chega! Vamos todos juntos lutar sem mais desculpas ou falhanços. Temos mais de três milhões e meio de pessoas a sofrer por nós. É nosso único dever dar-lhes felicidade! Atitude e compromisso para atingir a glória”, escreveu.
Pode ver na íntegra a carta de rescisão de Rui Patrício neste artigo:
Na carta de Podence — o segundo jogador a rescindir, no mesmo dia de Patrício — quase em tudo idêntica à de Patrício, à exceção dos nomes, só muda mesmo alguma coisa na descrição dos relatos da violência da Academia. “De seguida, o agressor veio na minha direção, a mesma onde estava o André Pinto e o Ruben Ribeiro sentados, que me empurrou e seguiu para o Acuña (…) à medida que o tempo passava chegavam mais. Mas olhavam para mim e pareciam que viam quem era e não faziam nada mais.”