As torres de telecomunicações da Altice em Portugal vão ser vendidas a um consórcio composto pelo banco de investimento Morgan Stanley e um fundo criado por dois ex-governantes portugueses, Pires de Lima e Sérgio Monteiro.

O acordo já foi confirmado pelo grupo francês que anunciou esta terça-feira a venda das torres em Portugal e França por 2,5 mil milhões de euros. A aquisição em Portugal será feita pela divisão de infraestruturas da Morgan Stanley e pelo fundo Horizon Equity Partners, uma entidade criada em 2017 pelo ex-ministro da Economia e pelo antigo secretário de Estado das Obras Públicas do Governo PSD/CDS, com sede em Lisboa, segundo o portal da justiça.

A operação para Portugal envolve a compra de 75% da Towers of Portugal, empresa que para efeitos deste negócio foi avaliada em 660 milhões de euros. A transação está avaliada em 495 milhões de euros (75% do valor da empresa), mas o fundo gerido por Sérgio Monteiro e Pires de Lima ficará com uma participação inferior a 10% e tem o prazo de um ano para concretizar esse investimento, de acordo com informação recolhida pelo Observador.

A Towers of Portugal, sociedade criada para esta operação, vai ter 2.961 torres operadas atualmente pela Altice Portugal, a dona da PT Portugal que vai manter 25% da empresa.

A PT Portugal chegou a um acordo com o consórcio que inclui a Morgan Stanley Infrastructure Partners e o Horizon Equity Partners para a venda de 75% na empresa de torres que vai ser formada (“Towers of Portugal” ou ToP) que engloba 2961 locais atualmente operados pela Altice Portugal”, indicou a Altice em comunicado.

O grupo francês  acrescentou que existe um acordo adicional para 400 novas torres, entre a MEO e a ToP, que poderá gerar mais 60 milhões de euros para a MEO nos próximos quatro anos. O acordo entre a MEO (que vai operar as torres) e a ToP vai vigorar por 20 anos.

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A venda das torres de telecomunicações na Europa pelo grupo francês foi anunciada no ano passado como parte de um plano de reestruturação da Altice e em resposta às dúvidas sobre a viabilidade económica da empresa que levaram a quedas acentuadas na bolsa. O encaixe com a operação será usado para reduzir a dívida do grupo fundado por Patrick Drahi. Este desinvestimento surge dias depois da Altice ter desistido de comprar a Media Capital em Portugal, invocando demora e obstáculos da Autoridade da Concorrência à operação.

Monteiro tutelou telecomunicações, mas disse que não interferiu na venda da PT

A empresa Horizon Equity foi constituída em maio de 2017 com um capital social de 50 mil euros, dois sócios gerentes e sede na Rua Ivens (Chiado). Mas o fundo que vai investir nas torres da Altice terá sede no Luxemburgo e contará com investidores institucionais que, nesta primeira fase são portugueses, soube o Observador. A Horizon Equity tem como finalidade investir em infraestruturas e negócios regulados em Portugal, sobretudo no setor da energia, mas também saúde e pretende captar investidores fora de Portugal. As torres da Altice serão o seu primeiro investimento.

O Expresso já tinha avançado que consórcio liderado pela Morgan Stanley para este negócio envolvia também um fundo para investimentos em infraestruturas promovido por dois antigos membros do Governo PSD/CDS.

Sérgio Monteiro foi secretário de Estado das Obras Públicas entre 2011 e 2015 e Pires de Lima foi ministro da Economia entre 2013 e 2015. Os dois tiveram a tutela do setor das telecomunicações, mas não foram chamados a pronunciar-se sobre a venda da PT Portugal ao grupo Altice, concretizada em 2015, numa altura em que o Estado já não tinha qualquer intervenção na operadora de telecomunicações.

Sérgio Monteiro chegou a afirmar, em entrevista em novembro de 2014, que tinha recebido todos os fundos interessados na PT que mostraram interesse em ser recebidos. Mas garantiu que não ia interferir no negócio. O Estado português abdicou da golden-share na antiga Portugal Telecom em 2011.  De acordo com o Expresso, a aquisição das torres da Altice, ou seja, da antiga PT, seria o primeiro negócio do fundo criado por dois antigos governante que, em maio, ainda estariam a tentar levantar os fundos necessários.

Depois de sair do Executivo, Sérgio Monteiro foi contratado pelo Banco de Portugal para promover a venda do Novo Banco, dossiê que ficou fechado no final do ano passado. Monteiro era quadro da Caixa Banco de Investimento e chegou ser apontado para a presidência do banco do grupo CGD.

Já Pires de Lima terá sido contratado no ano passado por uma empresa de private equity, a Advent International, com origem nos Estados Unidos. Notícias então publicadas avançavam que Pires de Lima ia fazer a assessoria de potenciais investimentos no mercado português desta sociedade. No entanto, o nome do ex-ministro português não está atualmente no site como fazendo parte da equipa.

O Observador confirmou entretanto que a Perella esteve associada à operação como assessora financeira da divisão de infraestruturas da Morgan Stanley. Esta boutique financeira foi contratada pelo Estado durante o Governo PSD/CDS como consultor das privatizações da EDP e da REN, uma decisão então muito contestada por bancos de investimento portugueses. Na Perella Weinberg está o financeiro português Paulo Cartuxa Pereira que chegou a trabalhar na Morgan Stanley em negócios de fusões e aquisições no setor das telecomunicações.

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