O balanço da repressão das manifestações contra o Governo na Nicarágua subiu para 212 mortos, anunciou esta sexta-feira a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH).

“A ação repressiva do Estado fez pelo menos 212 mortos e 1.337 feridos até 19 de junho, [em pouco mais de dois meses, e] até 6 de junho mais de 500 pessoas foram detidas”, indicou a CIDH, ao apresentar o seu relatório final sobre a crise na Nicarágua. O relatório foi apresentado no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), numa sessão transmitida em direto pela televisão nicaraguense.

A CIDH concluiu que “a violência estatal visava dissuadir a participação nas manifestações e a sufocar essa expressão de oposição política”, no documento com cerca de uma centena de páginas apresentado na sessão extraordinária daquele órgão da OEA, e instou ainda o Governo nicaraguense a “encontrar uma solução constitucional, democrática e pacífica para esta crise dos direitos humanos”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Nicarágua, Denis Moncada Colindres, reagiu ao relatório da CIDH, classificando-o como “parcial” e contrapondo que “a repressão das forças sociais não é política de Estado”. “A Nicarágua rejeita de forma integral o relatório da CIDH, por considerá-lo totalmente parcial”, declarou Moncada Colindres numa intervenção também feita no Conselho Permanente da (OEA), com sede em Washington.

Esta sexta-feira, o país amanheceu em relativa calma, após uma intensa jornada na cidade de Masaya na qual, segundo ativistas da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH), a intervenção dos bispos da Igreja Católica evitou “um massacre” em que teriam morrido dezenas de pessoas, num ataque iminente das “forças combinadas”, compostas por polícias antimotim, “parapolícias”, “paramilitares” e grupos de choque leais ao Governo. Apesar de o ambiente continuar tenso, o comércio reabriu, embora de forma tímida, e o trânsito automóvel aumentou.

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Um conjunto de homens vestidos à civil, encapuzados, com a bandeira da governante Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e fortemente armados com espingardas automáticas de assalto que só se veem nas mãos de polícias e militares (AK-47, M16 e Dragunov) mantêm-se em pontos estratégicos de Manágua. Em cidades como Masaya, Rivas, León e na própria capital, os civis ergueram mais barricadas ou cavaram trincheiras para evitar novos ataques das “forças combinadas” do Governo do Presidente Daniel Ortega.

O diálogo nacional destinado a encontrar uma solução para a crise foi suspenso na passada segunda-feira, devido aos constantes incumprimentos do Governo dos compromissos assumidos com a Aliança Cívica para a Justiça e a Democracia.

Desde 18 de abril que a Nicarágua está mergulhada na mais sangrenta crise sociopolítica ocorrida no país desde os anos 1980, também com Daniel Ortega como Presidente. Os protestos contra Ortega e a mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram por causa de reformas fracassadas da segurança social e transformaram-se depois em exigências de demissão do chefe de Estado, após 11 anos no poder, alvo de acusações de abuso de poder e corrupção.