Como no amor, a política também tem limites. António Costa garante que vai trabalhar pela “continuidade” da relação que manteve nos últimos três anos com o Bloco e o PCP e Os Verdes, mas também traça a sua fronteira: “Não será seguramente por ser ano de eleições que vamos sacrificar a boa governação com eleitoralismos.”

Nas jornadas parlamentares dos socialistas, o secretário-geral tirou a gravata, mas não despiu o casaco de primeiro-ministro. É o PS, defende, o eixo central de uma relação a quatro que deu frutos na atual legislatura e que até pode continuar a dar de 2019 em diante. Basta, ressalva, que todos se mantenham em sintonia. “Não vai ser seguramente por ser o último ano da legislatura que vamos por em causa tudo o que conquistamos duramente ao longo desta legislatura”, disse António Costa numa sala cheia de deputados do PS, com vista para o Alqueva, no segundo dia de jornadas parlamentares do partido.

Num momento em que Bloco e PCP cerram fileiras e dramatizam o discurso — Jerónimo de Sousa já diz que “o mito acabou” —, o líder socialista lembra que “o mundo não acaba com esta legislatura, mas começa logo com outra legislatura”. É preciso olhar mais à frente, para lá das legislativas do próximo ano, avisa. Na carta de compromisso que quis dedicar aos parceiros de coligação, Costa destaca a importância da “confiança”. Neste caso, confiança de quem olha de fora para o entendimento a quatro. “O país não está à espera nem a desejar qualquer mudança, o que quer é continuidade na prossecução desta política”, defende.

PSD não tem “lepra” mas não é alternativa

A preparação do Orçamento do Estado para 2019 está aí. E é o último, a derradeira prova de fogo da relação antes de os partidos irem de novo a votos para serem avaliados naquilo que foram os últimos anos de governação. Costa lembra, por isso, aos seus parceiros: “É preciso que todos provemos bem nesta solução nesta legislatura para todos merecermos ter continuidade desta solução de governo na próxima legislatura”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há três meses, o primeiro-ministro estava otimista. Afinal, depois de três orçamentos do Estado negociados e aprovados com os partidos da esquerda parlamentar, estava aberto o caminho para uma quarta ronda de negociações. “Vamos negociar o Orçamento do Estado para 2019 da mesma forma que negociámos o de 2018, o de 2017 e o de 2016, com uma enorme vantagem em relação aos anteriores: é que à quarta é muito mais fácil do que à primeira, já nos conhecemos melhor, já temos boas razões para confiar mais uns nos outros”, dizia à deputada Heloísa Apolónia num debate quinzenal.

Esse discurso mudou. “Não vi até agora nenhum orçamento que tenha sido fácil, mas também não vi nenhum que tenha sido impossível e tenho a certeza de que este, sendo mais fácil ou mais difícil, também há de ser possível”, disse. “Não acredito que PEV, PCP e BE queiram por em causa aquilo que tem sido sucesso desta solução governativa, e se já provámos a quem tinha medo desta solução governativa que é possível governar bem (…), porque é que iríamos, no último ano da legislatura, por em causa aquilo que já provámos em três orçamentos sucessivos que é possível?”

Para a direita, o discurso é outro. É que, diz Costa, “as governações de Bloco Central não são boas para democracia”. E “não é porque o PSD tenha lepra, é porque a democracia é feita escolhas” e, para isso, é preciso que haja “alternativas”. E Rui Rio não é alternativa a Jerónimo de Sousa e a Catarina Martins.