O ministro dos Negócios Estrangeiros português condenou a “Lei Básica da Nação-Estado” aprovada esta quinta-feira pelo parlamento israelita, considerando que se trata de uma decisão “muito pouco compreensível” à luz da história do povo judeu.
“É uma decisão muito pouco compreensível à luz da própria história de sofrimento do povo judeu e do Estado de Israel”, disse à Lusa Augusto Santos Silva, à margem da inauguração da exposição “Além do dever” que homenageia diplomatas portuguesas que salvaram milhares de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Questionado sobre se já tinha falado com o embaixador de Israel, que também participou na inauguração da exposição, sobre o assunto, o ministro afirmou que Israel “conhece bem a posição da UE [e de Portugal] e essa posição é de condenação da lei que o Knesset [parlamento israelita] hoje aprovou”.
Augusto Santos Silva sublinhou que o Estado de Israel é admirável “em muitos domínios” e “um parceiro muito importante da União Europeia”, mas manifestou a sua rejeição da lei aprovada, esperando que “venha a ser corrigida”.
O objetivo da lei “é garantir o caráter de Israel como o Estado nacional dos judeus, para definir na Lei Básica os valores de Israel como um Estado democrático judaico, no espírito dos princípios da Declaração de Independência”, de acordo com um comunicado publicado na página da Internet do Knesset, parlamento de Israel. Isto inclui o hino Hatikva (uma adaptação musical de um poema judaico sobre o retorno da população a Israel), a bandeira branca e azul com a estrela de David no centro, e a menorá (candelabro judaico) como símbolos do país, e o hebraico como língua oficial.
A lei já foi considerada por muitos como discriminatória para outras culturas e religiões no país, que vivem em Israel desde a sua criação, em 1948, e que representam cerca de 20% da população, como por exemplo os árabes israelitas.
“Ninguém acredita que o Governo se interesse pela nacionalidade nem pelo Estado de Israel”, disse Shelly Yajimovich, deputada do partido oposicionista de centro-esquerda israelita, assegurando que a lei fomenta o “nacionalismo que odeia o próximo”, segundo o jornal diário israelita Yediot Aharonot.