Os profissionais da GNR não acharam muita graça às declarações desta sexta-feira do primeiro-ministro. Dias depois das imagens de militares da GNR a retirarem moradores das casas ameaçadas pelo fogo na serra de Monchique – por vezes, recorrendo à força – o primeiro-ministro admitiu esta sexta-feira que a Guarda pode ter cometido excessos nesta forma de proceder.

Pode ter havido aqui ou ali algum exagero, poderá ter havido, se houver haverá com certeza meios para atuar, mas agora, globalmente, aquilo que é absolutamente essencial sublinhar é que, perante a gravidade do incêndio, não ter havido perdas de qualquer vidas humanas é um bem que é absolutamente essencial”, disse na altura António Costa.

A resposta da Associação Socio-Profissional da Guarda (ASPIG) não se fez esperar. E chegou com ironia. Em declarações ao Observador, o vice-presidente da ASPIG, Adolfo Clérigo, declarou que os únicos excessos que existiram foram de “horas de trabalho, de sacrifício e dedicação”.

“Concordo, de facto, que tenham havido excessos por parte da Guarda Nacional Republicana, excesso de horas de trabalho, excesso de sacrifício e excesso de dedicação“, sublinhou Adolfo Clérigo. “Aliás, acrescento que, durante todo o ano e não só durante a época dos incêndios, a GNR dedica-se excessivamente ao exercício das suas funções”.

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O primeiro-ministro insistiu também que a “prioridade das prioridades obviamente é a salvaguarda de um bem irreparável e inestimável que é a vida humana” e considerou que o facto de se ter “garantido que ninguém tenha morrido é absolutamente extraordinário e um resultado positivo”.

“As declarações de António Costa são desmotivadoras”

Contactado pelo Observador, o presidente da Associação de Profissionais da Guarda, César Nogueira, questionou o fundamento das declarações de António Costa. “Duvido que o Primeiro-Ministro tenha algum dado sobre os excessos por parte da GNR, e se não os tiver, é muito mau que faça este tipo de declarações”, sublinhou.

“Para quem esteve no terreno a fazer tantas horas de trabalho com meios tão reduzidos é desmotivador ouvir as palavras do Primeiro-Ministro”, acrescentou César Nogueira. “É muito difícil tirar pessoas das suas casas, eu próprio já tive que o fazer, e é uma situação complicada, mas a GNR sabe o que tem que ser feito”.

Ao fim de sete dias de combate, a Proteção Civil confirmou que, depois de uma noite em que a situação se mostrou estabilizada, as forças no terreno conseguiram dominar o fogo que se encontra já em fase de resolução. As chamas já consumiram cerca de 27 mil hectares desde sexta-feira da semana passada, um número que representa já mais de metade da área destruída na mesma região em 2003, nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

A segunda comandante nacional da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, confirmou a existência de 41 feridos, sendo um deles grave. 22 dos feridos ligeiros são bombeiros. Patrícia Gaspar disse ainda que “grande parte” das pessoas deslocadas vão poder “regressar às suas habitações”.