Mais de 100 jornais norte-americanos vão publicar na próxima quinta-feira editoriais contra os ataques do presidente Donald Trump à imprensa, que chegou a classificar os meios de comunicação social como “inimigos do povo“. A campanha concertada entre vários jornais foi organizada pelo The Boston Globe, que apelou a outros meios que denunciem a forma hostil como Trump trata os media. “Esta guerra suja contra a imprensa livre tem de acabar“, apelou a direção do The Boston Globe.

A agência espanhola EFE revela, citando media locais, que a iniciativa conta já com jornais como o “The Houston Chronicle”, o “Minneapolis Star Tribune”, o “Miami Herald” e o “Denver Post”. De acordo com a EFE, os gigantes “The Washington Post” e “The New York Times” ainda não revelaram se vão ou não aderir à iniciativa do The Boston Globe.

A editora adjunta do The Boston Globe, Marjorie  Pritchard, afirmou à CNN esperar que a lista de jornais participantes na iniciativa aumente “nos próximos dias”. “A resposta foi arrasadora. Temos alguns grandes jornais, mas a maioria são de mercados menores, todos entusiasmados em resistir ao ataque de Trump a jornalismo”, afirmou Pritchard.

São várias as manifestações de Trump contra os jornais que considera serem-lhe hostis. Ao longo do mandato, o presidente dos EUA tem apontado vários dos principais órgãos do país como “inimigos do povo americano”. A última vez foi a 5 de agosto, mas é uma acusação frequente.

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A campanha tem o apoio da Sociedade Americana de Editores de Notícias. O antigo comissário de direitos humanos da ONU, Zeid Ra’ad al-Hussein, afirmou mesmo que a retórica anti-imprensa de Trump está “muito próxima do incitamento à violência ”.

Os momentos são particularmente tensos em comícios de Donald Trump, situações em que o próprio Presidente critica os media, uma atitude que merece os aplausos dos seus apoiantes. Não raras vezes os repórteres no local são ameaçados por esses apoiantes de Trump.

Os media também não se ficam. No início de agosto, depois de ter sido barrado numa manifestação de Trump na Florida, Jim Acosta, da CNN, questionou a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, se esta confirmava que a imprensa era “inimiga do povo”. Sanders recusou-se a responder.

Em julho, Trump encontrou-se com o responsável editorial do New York Times, A. G. Sulzberger, mas a conversa não correu bem. Desde logo, Sulzberger pensou que o encontro era privado e “off the record” e Trump divulgou-o prontamente no Twitter. Segundo o presidente, foi uma reunião “muito boa e interessante” e revelou que conversaram sobre “a grande quantidade de notícias falsas que são publicadas pelos media e como elas se transformaram na frase ‘Inimigo do povo'”.

A versão de Sulzberger era outra. Duas horas depois revelou que só aceitou reunir com o presidente Trump para lhe manifestar o desagrado e preocupação com a “retórica anti-imprensa profundamente perturbadora” do presidente norte-americano. E afirmou ainda que considerava a linguagem do presidente “cada vez mais perigosa”.

‘The Boston Globe’ pede “guerra editorial” contra ataques de Trump aos media