A visita do Papa Francisco à Irlanda está a ser aproveitada por algumas pessoas para se manifestarem contra a Igreja Católica, reservando ingressos para uma missa à qual não pretendem ir. Nos próximos dias 25 e 26 de agosto, o Papa vai estar de visita àquele país e o programa oficial inclui uma missa celebrada no último dia, no Phoenix Park, em Dublin. Os mais de 500 mil bilhetes para assistir ao evento são gratuitos para os cidadãos irlandeses, mas é preciso fazer um registo para ter acesso aos mesmos.
É esse o registo que muitas pessoas estão a fazer, reservando lugares, apesar de não quererem estar presentes no Phoenix Park. Pelo contrário, a ideia é deixar muitos lugares vazios, numa espécie de boicote que está a ser divulgado através de um evento criado no Facebook chamado “Say Nope to the Pope” (“Diz não ao Papa”, em português). Na página naquela rede social, pode ler-se que o objetivo é “não usar os bilhetes, como uma forma silenciosa e pacífica de protesto”. Na base da criação do movimento estão, por exemplo, os vários casos de abuso sexual de menores por pessoas ligadas à Igreja Católica, que têm sido divulgados.
Uma das pessoas a aderir ao movimento é Mary Coll, que pediu dois ingressos: um em nome dela e outro em nome da mãe, de acordo com o jornal The Guardian.
Isto não é algo anti-religioso. Não tem a ver com desrespeito nas crenças das pessoas ou no direito de poderem praticar qualquer crença em particular. Tem a ver com pessoas como eu, que foram criadas como católicas, que praticavam o catolicismo, e de repente pensam: ‘Espera um segundo, estes erros que temos ouvido falar são terríveis’. E esperamos e esperamos e a Igreja não faz nada”, disse, citada pelo mesmo jornal.
Tal como Mary, mais pessoas estão a adquirir bilhetes para não usar e algumas delas aproveitam a página do evento para partilharem o que estão a fazer. “Reservei 800 bilhetes usando três endereços de e-mail diferentes. Algumas pessoas têm 50 ou 60 bilhetes”, escreveu um utilizador. O jornal irlandês Irish Post conta ainda o caso de alguém que diz ter garantido 1.312 ingressos, alguns deles sob o nome “Jesus Cristo”.
No entanto, a organização do movimento quis demarcar-se dos casos de pessoas que pediram grandes quantidades de bilhetes, referindo que o objetivo é garantir o número de ingressos a que têm direito para que se faça um “protesto pacífico, silencioso e respeitoso contra uma das organizações mais corruptas do mundo”.
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, já se mostrou contra a manifestação, dizendo que negar o direito de ir a pessoas que querem realmente fazê-lo revela um “espírito mesquinho”.
Protestar é legítimo, mas negar a outras pessoas o direito de assistir a uma missa ou a um evento não é um protesto legítimo, na minha opinião, e é desonesto. Devia ser condenável”
Já um dos organizadores da manifestação, Michael Stewart, considera que cada pessoa tem o direito a usar o bilhete da forma que quiser. A organização está a apelar aos participantes para que se juntem a algumas vítimas de abusos sexuais numa vigília que terá lugar à mesma hora da missa que o Papa Francisco vai celebrar no Phoenix Park.
Na segunda-feira, o Vaticano divulgou uma carta onde o Papa critica as histórias de abusos sexuais no interior das paróquias. Motivada pela recentemente conhecida investigação na Pensilvânia, que revelou abusos sexuais de 300 padres a mais de mil vítimas ao longo de 70 anos, a carta é um apelo à união de todos os católicos para “erradicar esta cultura da morte”. Com frases duras e sem possibilidade de segundas interpretações, o Papa reconhece que a Igreja “negligenciou e abandonou os pequenos”.
De acordo com o Vatican News, esta é a primeira vez que um sumo pontífice se dirige diretamente aos fiéis para falar, comentar e condenar os abusos sexuais na Igreja Católica.