Militante socialista e sindicalista. O currículo podia não ser o melhor cartão de visita para jovens tendencialmente de direita, mas o líder da UGT falou como se estivesse em casa. E com ideias muito parecidas com as da casa (o PSD): criticou a austeridade socialista, lembrou que foi Sócrates a congelar o salário mínimo, convidou os jovens a inscreverem-se na UGT e ainda contou uma confidência sobre a forma como Cavaco Silva lhe sugeriu que pedisse um valor mais alto de aumento do salário mínimo a Passos Coelho. Em algo que podia ter sido dito por um dirigente do PSD, Carlos Silva disse esta terça-feira no jantar-conferência da Universidade de Verão (UV) do PSD, em Castelo de Vide: “Não aceitamos que nos digam: acabou-se a austeridade. Não acabou nada.”

Carlos Silva admite melhorias no quadro macroeconómico, mas isso não significa que a austeridade acabou. Questionado pelos alunos que proposta faria para o Orçamento do Estado caso António Costa lhe viesse pedir, o líder da UGT explicou que o mais “fundamental” seria “baixar a carga fiscal dos trabalhadores.” Antes disso, tinha feito uma graça: “Se o senhor primeiro-ministro me viesse perguntar,  que não vem…”

O líder da UGT destacou a importância dos sindicatos e desafiou mesmo os alunos da UV a sindicalizarem-se: “Já que cá estou, aconselho-vos a inscreverem-se no sindicato. Não é uma coisa que lembra ao diabo. É importante para defenderem os vossos direitos como trabalhadores.” E esse sindicato seria, claro, qualquer um da UGT. Até porque, alertou o sindicalista, é o PCP e o seu comité central “que mandam na CGTP”. Carlos Silva criticou ainda o facto de haver “militantes do PSD que fazem parte da CGTP”, uma vez que isso não é coerente. Isto porque a CGTP lembra é a central sindical que “banalizou a luta de classes” e “banalizou a greve”.

O sindicalista contou também aos jovens um episódio com Cavaco Silva, que era até agora desconhecido do público. Em 2014, a UGT ponderava pedir um aumento do salário mínimo para 500 euros (face aos 485 euros que então vigoravam), quando numa reunião em Belém “o Presidente Cavaco Silva disse: peçam 503 ou 504“. E assim, com essa ideia do Presidente, quando foi à reunião com Passos Coelho, Carlos Silva pediu 505. O aumento acabou por ser para esse valor.

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Carlos Silva explicou que, apesar de ser, por inerência, dirigente do PS não deixa de “lutar e de reivindicar direitos junto do Governo quando o Governo é do Partido Socialista” e de “partir para formas de luta quando é preciso”. E acrescentou: “Se for greve, avançamos com greve“.

O líder da UGT recusou ser um traidor do país por ter assinado um acordo de concertação social em pleno resgate financeiros com o Governo de Passos Coelho e os patrões, uma vez que, sem esse documento, os efeitos  das imposições da troika seriam “100 vezes piores”.

Após ser questionado por um aluno, Carlos Silva garantiu que é contra a limitação dos salários dos gestores de topo: “Ganhem o que quiserem que depois são tributados. Os acionistas decidem, as empresas privadas decidem. Depois a forma de compensarem os que menos têm é através dos impostos”.

Carlos Silva recebeu várias vezes aplausos dos alunos. Quase como se fosse da casa. E foi. Mesmo que tenha lembrado, que houve direitos dos trabalhadores que foram atingidos pelo anterior Governo (de Passos Coelho) foi mais as vezes que lembrou as conquistas obtidas pela UGT durante o Governo PSD/CDS.