O The New York Times publicou esta quarta-feira mais um relato vindo do interior da Casa Branca. Mas desta vez é um “exemplo raro”: trata-se de um artigo de opinião anónimo, escrito por um membro da administração de Donald Trump que não se quis identificar e que assume fazer “parte da resistência silenciosa” que se vive na Casa Branca. O autor garante que não é o único e que existe um grupo de funcionários com altos cargos que trabalham para “frustrar parte da agenda” do presidente norte-americano e para proteger o país dos seus “impulsos”. Até que ele saia do cargo.

Para ser claro, a nossa [resistência] não é a popular ‘resistência’ da esquerda. Nós queremos que a administração tenha sucesso e acreditamos que muitas das suas políticas já tornaram os Estados Unidos da América um país mais seguro e mais próspero”, sublinhou o membro do staff de Donald Trump.

O número de membros da administração Trump que tem vindo a público criticar a presidência norte-americana tem-se acumulado nos últimos dias, depois de o jornalista Bob Woodward ter anunciado o lançamento do livro “Fear: Trump in the White House”, que desmonta a presidência de Trump. O livro tem por base relatos anónimos de pessoas dentro da Casa Branca. um dos exemplos citados é o do secretário da Defesa, o general James Mattis, que, quando desafiado por Trump a matar o líder sírio Bashar al-Assad, terá comparado os caprichos do presidente aos de uma criança “do quinto ou do sexto ano”.

O risco de prisão, as reuniões secretas e a necessidade de ocultar documentos de Trump contadas pelo homem que derrubou Nixon

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Prometemos fazer o que pudermos para preservar as nossas instituições democráticas”, afirma o autor do texto, que identifica a “amoralidade” do presidente como a “raiz do problema”. O funcionário da Casa Branca retrata o presidente como alguém que não se prende a “princípios” no seu processo de decisão.

Apesar de ter sido eleito como candidato do partido Republicano, Trump é criticado pela ausência de “afinidade” aos princípios conservadores do mercado livre, da livre circulação e da liberdade de pensamento. “Geralmente os impulsos do presidente Trump são anti-comércio e anti-democráticos“.

Nem mesmo os sucessos da administração estão a salvo na peça, que, apesar de reconhecer que existem méritos como “uma desregulamentação eficaz, uma reforma fiscal histórica e um exército mais robusto”, estes não se deveram ao tipo de liderança que existe atualmente na Casa Branca.

O autor do texto garante que são cada vez mais os membros desta “resistência silenciosa” que operam para salvar o país de uma crise constitucional, evitando que seja evocada a 25 emenda da constituição norte-americana, que retira o presidente do cargo por “incapacidade”. Esta “resistência silenciosa” trabalha para isolar o seu trabalho dos caprichos do presidente, defendendo assim os interesses do povo americano.

Poderá ser um pequeno conforto nesta época caótica, mas os americanos devem saber que existem adultos na sala. Nós reconhecemos perfeitamente aquilo que está a acontecer. E estamos a tentar fazer aquilo que está certo, mesmo quando Donald Trump não está”, desabafa o funcionário da Casa Branca.

O autor dá o exemplo da diferença entre o discurso de Trump e da restante administração em relação à diplomacia americana. Muitas vezes Trump elogia em público líderes autoritários ou até ditadores e, não poucas vezes, critica abertamente a postura de aliados. A sua administração, no entanto, opera de forma diferente e não poucas vezes desdiz aquilo que o presidente acabou de dizer. O autor vai mais longe e classifica a postura dos “resistentes” como “heroica”.

Lembrando as palavras da carta de despedida do Senador John MacCain, o artigo termina com um apelo para que “todos os americanos” se “soltem da armadilha do tribalismo” e deixem cair todas as “etiquetas” a favor de apenas uma: a de “americanos”.

Donald Trump já reagiu à publicação num evento na Casa Branca, onde afirmou que o artigo de opinião é “cobarde” e que a pessoa que o escreveu escolheu desiludir o seu presidente em vez de o apoiar.