“Parece uma moção de confiança impingida à força”, descreve ao Observador um militante social-democrata. Salvador Malheiro, vice-presidente de Rui Rio e líder da distrital de Aveiro, esteve na tarde de quarta-feira a fazer uma ronda por todos os líderes das distritais do PSD apelando a que assinassem um documento escrito no sentido de “apelar à serenidade do partido e manifestar o apoio inequívoco ao líder, repudiando a atuação de alguns militantes”, como descreveu ao Observador um dos que foi contemplado com o telefonema do também presidente da câmara de Ovar. O objetivo é cerrar fileiras e mostrar que o partido está unido em torno de Rui Rio, numa altura em que as críticas internas e os contra-ataques de Rio são uma constante.

Ao que o Observador apurou junto de fontes de várias distritais, Salvador Malheiro enviou o texto da posição conjunta aos presidentes distritais por email na tarde de quarta-feira, tendo alguns deles sugerido algumas alterações, nomeadamente nas partes do texto em que se “alimentava a guerra interna e as críticas aos críticos”. Ao final da manhã desta quinta-feira, apenas três distritais não tinham assinado o texto.

O gesto do homem forte de Rio, contudo, está a ser visto por uma ala do partido como uma forma de “pressão” da direção nacional para “amarrar as distritais a um compromisso escrito”. “Salvador Malheiro também é líder de uma distrital e devia compreender, melhor do que ninguém, como funciona a autonomia das distritais”, ouve o Observador de uma fonte social-democrata, que recorda que as posições conjuntas geralmente surgem “de forma espontânea” quando as distritais se reuniam e entendiam que deviam manifestar uma posição. Assim, sendo Salvador uma das pessoas mais fiéis no núcleo duro da direção de Rui Rio, há quem veja o gesto como “uma tentativa de fazer uma moção de confiança à força”, o que deixa as distritais numa posição “incómoda”: ou assinam e ficam amarradas, ou não assinam e ficam oficialmente excluídas e com o rótulo de oposição interna. O Observador tentou contactar Salvador Malheiro, que não respondeu às questões.

O que diz a missiva?

A primeira versão do comunicado, a que o Observador teve acesso, começa por dizer que a posição “abaixo assinada” veicula todos os “presidentes das comissões políticas distritais do PSD, em face de algumas notícias, atitudes e expectativas que têm vindo a público nas últimas semanas”. Um dos líderes distritais contactados pelo Observador, que assinou a missiva, diz que concorda com o “princípio de união e tranquilidade” que o comunicado sugere, mas que sugeriu a Salvador Malheiro algumas alterações, sobretudo no primeiro parágrafo, onde havia referências aos críticos internos. “Havia o lançamento de uma pedra ou outra que eu sugeri que fosse removida, porque todos fazem falta e enquanto andarmos com estes problemas internos não nos focamos no que é essencial”, diz a mesma fonte, que não quis ser identificada.

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Mas o texto original não larga os “militantes” que são críticos da estratégia da direção. “Não consideramos aceitável nem compreensível o ambiente de permanente instabilidade para com a direção nacional e o seu presidente, bem como as constantes tentativas de deturpação das suas mensagens políticas, sobretudo porque vindas, precisamente, de militantes do partido. Quem assim procede contribui para a danificação da imagem do PSD e está, objetivamente, a atuar com prejuízo dos nossos objetivos eleitorais, porque atua em benefício dos nossos adversários políticos. Quem age desta forma não quer que o PSD vença as eleições legislativas, na medida em que tudo está a fazer para prejudicar esse objetivo”, lê-se no terceiro ponto do comunicado.

Numa espécie de repetição do discurso que Rui Rio fez na festa do Pontal, no Algarve, o comunicado sugerido por Salvador Malheiro às distritais reitera que o PSD “defende a divergência de opiniões livres”, mas “não pactua com agendas pessoais que possam pôr em causa os superiores interesses do partido, que são os interesses do país”. Já Rui Rio tinha dito que não pactuava com aqueles que lutam apenas por um “lugarzinho” para si ou para o amigo apenas porque têm um “projeto pessoal” e “querem ser alguém na política”.

De resto, o comunicado apela à “serenidade”, ao “sentido de responsabilidade” e “à exigência que todos temos, enquanto militantes do PSD, de contribuir para um fortalecimento da boa imagem do partido junto da população”, recordando que o PSD elegeu a atual direção “há apenas seis meses” tendo escolhido o líder “de forma democrática”.