A tarde era convidativa, como notou Marcelo Rebelo de Sousa quando chegou à baía de Cascais. “É impressionante, estão 28 graus”, disse o Presidente da República ao militar que o acompanhava. O relógio marcava as 17 horas e o palco montado mesmo à beira-mar aguçava a vontade de entrar no mar. Mas a Praia dos Pescadores estava interdita. Ao longo das três horas seguintes iria ser o cenário utilizado pela Força Aérea, pelo Exército e pela Marinha para as demonstrações militares que visavam assinalar o dia 5 de outubro. A boa disposição do Presidente da República, que quebrava a formalidade que a cerimónia exigia para uma ou outra selfie, não serviu para esconder o elefante na sala: a ausência de representantes do Governo.
Depois de cada demonstração militar, seguia-se um concerto da banda sinfónica de um dos três ramos das forças armadas. Um ritmo que obrigou Marcelo Rebelo de Sousa a sentar-se e levantar-se algumas vezes. Ora assistia a um exercício de demonstração das forças militares, ora se sentava para ouvir o concerto. Sempre acompanhado pelo presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, acenava sorridente sempre que era interpelado. No final, e numa atitude pouco comum, não quis falar à imprensa. Afinal, já tinha discursado e prestado declarações aos jornalistas nas cerimónias matinais.
O silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa não permitiu aferir se tinha sentido a ausência do Ministro da Defesa, normalmente presente em eventos que envolvem os três ramos das Forças Armadas, ou de, pelo menos, algum representante do Executivo. Mas o facto de ter estado sozinho não passou despercebido a quem observou com atenção o comportamento do Chefe de Estado.
Esta ausência ganha mais peso por acontecer numa altura em que Azeredo Lopes se encontra debaixo de fogo devido ao caso Tancos. Apesar de o primeiro-ministro ter vindo a terreiro defender o ministro, afirmando que, por agora, não vê razões para a sua demissão, não é certo que a sua continuidade esteja totalmente assegurada. Já esta sexta-feira, à margem da cerimónia oficial do 5 de outubro – na qual o Ministro da Defesa também não esteve presente -, Carlos César afirmou que se houver responsabilidades do governante neste caso terão de se “retirar as respetivas consequências”.
O mau-estar em torno do caso Tancos está a crescer e a estratégia do Governo parece ser a de resguardar Azeredo Lopes e a sua imagem. Esta sexta-feira, em Cascais, numa cerimónia dedicada a demonstrações militares, a sua ausência acabou por se tornar demasiado evidente.