A saída de Julen Lopetegui ficou resolvida após a goleada sofrida em Campo Nou com o Barcelona mas a crise no Real Madrid continua latente e reflete-se em vários pormenores que incluem jogadores de peso na equipa. Por exemplo, a reação de Casemiro quando foi substituído, a agarrar no casaco e a atirar para uma cadeira visivelmente desagrado por ter sido o sacrificado aos 57′ para a entrada de Isco quando estava a ser um dos melhores na segunda parte. Ou os assobios bem sonoros a Gareth Bale, quando foi rendido por Lucas Vázquez a cerca de 20 minutos do final. Os merengues continuam a jogar sob brasas, numa altura em que Florentino Pérez continua a estudar a melhor alternativa para assumir o comando técnico.

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É verdade que, após uma série de maus resultados no Campeonato, o Real Madrid voltou a ganhar ao Valladolid. No entanto, tudo o que aconteceu ao longo dos 90 minutos em nada parece acalmar o ambiente de insatisfação no Santiago Bernabéu. Até porque, para quem tenha visto o jogo, o 2-0 final está muito desajustado do que realmente se passou em campo.

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Com Asensio no lugar de Isco e a equipa base mais “normal” à exceção dos laterais (Odriozola e Reguilon ocupam os lugares dos lesionados Carvajal e Marcelo), Santiago Solari, técnico interino que se tinha estreado a meio da semana com uma goleada no terreno do Melilla para a Taça do Rei, viu Benzema criar a primeira oportunidade de algum perigo logo aos quatro minutos mas, até ao intervalo, pouco ou mais aconteceria. Os assobios, esses, começaram aos 20 minutos, aumentando de forma bem audível ao intervalo. Porque, na verdade, aquele que é talvez o principal problema desta equipa mantém-se: o meio-campo, e sobretudo a dupla Modric e Kroos, está a anos-luz do rendimento que teve nas últimas três temporadas.

Bale, uma espécie de “protegido” de Florentino Pérez, saiu aos 71′ e foi muito assobiado pelos adeptos (JAVIER SORIANO/AFP/Getty Images)

Na tribuna, Ronaldo, o Fenómeno brasileiro que deixou saudades em Madrid, fazia as delícias dos fãs apesar de estar a torcer pelo Valladolid – afinal, o brasileiro tornou-se proprietário do clube espanhol que partiu para esta jornada à frente do Real. Nas bancadas, era outro Ronaldo que vinha a cabeça: Cristiano, o goleador que fez a diferença durante quase uma década nos merengues e que está agora na Juventus. Por muito que Florentino queira em termos internos apagar o fantasma do número 7, há coisas que não se conseguem evitar e as dificuldades para visar as balizas adversárias são evidentes. E há outro dado que comprova isso: Luís Suárez tem mais golos na Liga do que Benzema, Bale e Asensio juntos (9-8).

Se o cenário era mau, pior podia ter ficado: em apenas seis minutos, Alcaraz e Toni Villa aproveitaram transições rápidas sempre com erros de posicionamento do Real, ganharam espaço e acertaram na trave da baliza de Courtois. O Bernabéu estava à beira de um ataque de nervos e, numa bancada que tinha apenas adeptos merengues a assobiar ou de mãos na cabeça, um apoiante do Valladolid levantou de forma orgulhosa o cachecol e começou a puxar pela equipa. Mais uma vez, e ao contrário do que era normal, a equipa visitante aproximava-se da vitória, naquele que seria mais um escândalo na capital.

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Tudo acabou por mudar com a terceira substituição de Solari, quando retirou o desinspirado Asensio e lançou Vinicius, o miúdo de 18 anos que foi um dos grandes investimentos do Real Madrid para a nova temporada (talvez em busca do seu próprio Neymar mais novo) mas que tem sobretudo andado na equipa B. A sete minutos do final, o avançado arriscou, fez a diagonal da esquerda para o meio, rematou de tal forma torto que a bola deveria sair pela linha lateral mas um desvio no defesa Kiko Olivas acabou por inaugurar o marcador. O brasileiro festejou como se o golo tivesse sido seu mas aquilo que houve foi sobretudo alívio pelo que acabara de acontecer. E que foi confirmado de grande penalidade aos 88′ por Sergio Ramos.

No final, Courtois admitiu que o ambiente ficou mais leve depois da saída de Lopetegui e mostrou compreensão pelos assobios quando as coisas não correm tão bem. Já Sergio Ramos, o capitão da equipa, mostrou-se orgulhoso por colocarem mais pressão sobre si no atual contexto, por considerar que esse também é o dever de um capitão. O Real Madrid voltou aos triunfos mas em nada convenceu. E entre a melhoria nos resultados e as dificuldades exibicionais, Florentino Pérez terá agora de rever a sua ideia e perceber se tem mais a ganhar mantendo Solari no comando ou apostando num novo técnico.

Solari, o antigo colunista do El País que foi percebendo o futebol entre a literatura argentina e o xadrez