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M de Marx. A ovelha negra do Bloco não vê o paraíso na geringonça. Nem em Robles

Este artigo tem mais de 5 anos

A moção M critica a falta de democracia interna, ataca a geringonça e defende a radicalização do discurso do partido. Os membros são quase todos estudantes. E precários.

Francisco Pacheco, um dos subscritores da moção M
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Francisco Pacheco, um dos subscritores da moção M

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Francisco Pacheco, um dos subscritores da moção M

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Num tempo em que o Bloco ainda não existia, o PSR apelava ao voto na ovelha negra, numa campanha que tinha como  slogan: “O paraíso não está à vista”. O partido está mais unido que nunca, mas ainda há na sala da convenção uma ovelha negra que não se convenceu com a “geringonça” e que não vê o paraíso nesta solução. Do lado mais à esquerda do pavilhão do Casal Vistoso, já quase a tocar no pano que limita a sala, um grupo aplaude sempre que há críticas à estratégia seguida nos últimos anos. Trata-se da moção M, por um “Bloco que não se encosta”. A moção não vai a votos contra Catarina Martins para a Mesa Nacional, mas é o documento estratégico que mais rompe com a da direção. Estão na extrema-esquerda do Bloco: na sala da Convenção e nas opiniões.

O grupo, composto na sua maioria por estudantes e trabalhadores precários, está bem organizado e indica um dos subscritores para falar à imprensa. “Tem de ser o Francisco a falar”, avisam. Os outros vão falando, à vez, no palanque. Francisco Pacheco, estudante de Sociologia, explica ao Observador tem como maior referência política um nome começado por M: “Marx”. Quanto a políticos vivos elege duas referências: Jeremy Corbyn e Bernie Sanders.

Francisco Pacheco explica que a moção é contra a possibilidade de o Bloco voltar a apoiar o PS no Parlamento ou no Governo. “Achamos que não há condições para a geringonça se repetir, pelo menos nos termos em que aconteceu. O Bloco não pode continuamente a ser muleta do PS. Porque as nossas agendas não só são divergentes — são, na verdade, em muitas dimensões, opostas.”

Para Francisco Pacheco, a experiência não foi boa: “A leitura que fazemos do acordo é que, para quem trabalha, para aqueles que fazem a riqueza do país, a geringonça não mudou nada estruturalmente. Para aqueles que são precários e viram as rendas subir às vezes 50%, tudo continua na mesma”.

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Os membros da moção M defendem a necessidade de o Bloco se “afirmar como um partido anti-sistema, que não se associa àqueles que são as marionetas dos interesses instalados”. E, se continuar a dar a mão ao PS, está a seguir “a visão que quer manter o Portugal do pós-troika, da precariedade, da desregulação do mercado de trabalho, da sangria de recursos para os especuladores.”

Os irredutíveis radicais dizem que “continuar a aceitar um Governo que deixa tudo na mesma, e apoiá-lo, não exigir mais e exigir diferente, seria o Bloco perder um bocado a sua razão de ser, de ser uma voz ativa da classe trabalhadora.” Francisco Pacheco lembra que “a visão do Bloco é na sua matriz anti-capitalista”, um princípio que deve ter “consequência no dia-a-dia [do Bloco] e nas decisões que toma”.

Os membros da moção M são ainda críticos do antigo vereador Ricardo Robles. Francisco Pacheco diz que o grupo repudia a especulação e considera que “o Bloco deve ser bastante claro na sua dissociação daqueles que vivem da exploração da renda e vivem da especulação imobiliária que é neste momento um flagelo muito significativo, sobretudo nas grandes cidades, como Lisboa e Porto”. O mesmo bloquista acrescenta: “Posicionamo-nos contra quem é especulador”. Incluindo o antigo vereador Ricardo Robles? “Sim”, responde Francisco.

Entre as propostas da moção estão medidas como: sair da NATO, aumentar o salário mínimo para 900 euros, diminuir a idade da reforma para 62 anos, proibir os estágios não remunerados ou regularizar os emigrantes, alargando o direito de voto para todas as eleições e o acesso a todos os direitos sociais, culturais, económicos.

Ainda assim, a moção M não avança com uma lista para a Mesa Nacional, uma vez que entende que existem “dificuldades estruturais” por este movimento estar “na sua infância”. Por isso, assumem que “faltam condições para ter um trabalho no qual nos revíssemos nos órgãos nacionais”. O foco do grupo passa pela “reconstrução do partido pela base”.

“Bloco está iludido pela proximidade ao poder”

Horas antes de Francisco falar ao Observador, Inês Ribeiro Santos subiu ao palco para apresentar a moção “Um Bloco que não se encosta”. A palavra vem de mais um epíteto dado à “geringonça”, neste caso da autoria de Assunção Cristas, que se refere aos partidos que apoiam o Governo como “esquerdas encostadas.”

Para Inês Ribeiro Santos, “os partidos de esquerda que apoiam governos perdem a sua identidade, porque abrem-se brechas à demagogia e ao populismo”, acrescentando que há uma “descredibilização das instituições e de todos os partidos que se encostam no sistema”. A bloquista defendeu a “radicalização do discurso e da ação, no parlamento, nas sedes e nas ruas!”, como o grupo mais tarde partilhou na página de Facebook da moção.

Para a moção M, o Bloco não pode ser “confundido com um partido fantasma que não está no governo nem na oposição”. Assim como também não pode ser confundido com “uma muleta de um governo que não cumpre o que queremos para a sociedade”. Sobre os acordos assinados com o PS há três anos, a bloquista diz que o problema não é a assinatura do acordo mas sim a falta de coragem dos partidos que o assinaram para fazer frente ao PS. “Em 2015, houve a possibilidade de um acordo que expulsou a direita reacionária. O problema do acordo não é a sua existência, é a falta de coragem de conseguir garantias sólidas de que a recuperação de rendimentos não ia ser usada para a acumulação de capital”, disse.

Segundo Inês Ribeiro Santos, o Bloco de Esquerda está hoje “mais fraco” e “cada vez mais dentro de uma bolha partidária com paredes cada vez mais grossas, iludido pela proximidade ao poder, sem perceber que abrindo as portas ao centro nos esquecemos de que a porta dos fundos fica escancarada para a demagogia.”

Pelo palco, os membros vão falando em duras críticas ao partido. Mateus Sadock diz que o Bloco é “um partido cada vez mais como os outros”, que os “os militantes do Bloco sabem da ação política do seu próprio partido através da televisão” e que os “militantes sabem que não interessam nada para a atual direção”. Ora, para o militante do Bloco, a” democracia interna e o radicalismo são inconvenientes” para a direção e deixa um aviso: “Não se combate o fascismo com moderação.”

Este grupo, como consta da moção, considera que, “passados 19 anos da fundação, o Bloco de Esquerda mostra-se apenas como partido tradicional e nada como movimento: falta democracia interna, militância significativa e protagonismo das bases, sobra centralização, institucionalização e rotina.”

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